Ricardo Corrêa

Editor de Política de O TEMPO e escreve neste espaço diariamente

Política em Análise

O favoritismo de Arthur Lira

Publicado em: Sex, 22/01/21 - 10h50

Após começar a corrida pelo comando da Câmara à frente e perder espaço para Baleia Rossi, o deputado e líder do centrão Arthur Lira (PP-AL) é, de novo, o grande favorito para vencer a batalha pela Casa Legislativa. O aliado do presidente Jair Bolsonaro deu uma demonstração de força nos últimos dias e só perderá o duelo com Baleia Rossi (MDB-SP) se o cenário mudar profundamente na próxima semana.

Nos últimos movimentos, Arthur Lira conseguiu comprovar a maioria clara que possui no PSL, a despeito dos esforços da direção do partido para marchar com Baleia, conseguiu a adesão do Podemos e ampliou as negociações para obter votos de traições em diversas legendas na base de apoio do adversário. Mostrou tremendo poder de articulação e contou, claro, com a demora para que o grupo de Rodrigo Maia (DEM) sedimentasse a candidatura de Baleia.

Ontem, Lira mostrou em Belo Horizonte que tem ampla maioria na bancada mineira. Aposta em 30 votos entre os mineiros, mas há quem preveja bem mais que isso, considerando as traições que devem garantir votos inclusive na oposição, que oficialmente está com Baleia. E a explicação está muito menos no ímpeto reformista, que foi exaltado por Romeu Zema (Novo) no encontro entre os dois, mas no desapreço pela Lava Jato.

Hoje, a operação e seus desdobramentos têm enorme rejeição na Câmara. E isso pesa a favor de Lira, que é um adversário dela. Mais do que Baleia que, por outro lado, é mais reformista que o candidato do PP, apesar de esse jurar que vai pautar as reformas. Tanto é assim que é do emedebista a proposta de reforma tributária que mais tem apoio na Câmara. Feita ainda no governo de Michel Temer. Lira é, por essência, mais refratário a reformas que limitem o poder de indicação de cargos no governo. Como sabemos, o candidato do PP é hoje o fiador muito mais da reforma ministerial do que da reforma administrativa.

Independentemente das razões que levam os parlamentares a optar por Arthur Lira, o fato é que o presidente Jair Bolsonaro, após fazer aposta arriscada de se meter na disputa pelo comando das duas Casas do Congresso, tende a vencer as duas batalhas. No Senado, Rodrigo Pacheco (DEM), outro apoiado pelo governo, tem ainda mais favoritismo.

Nenhum deles é governista convicto. A vitória de Bolsonaro nesses casos seria, na verdade, uma derrota do grupo de Maia na Câmara e do MDB do Senado, e os riscos de problemas mais adiante continuariam existindo independentemente do resultado. A crise entre Poderes, porém, na pior das hipóteses, estaria adiada pelo menos em alguns meses. Mais importante que isso é o simbolismo de obter uma vitória no momento em que o governo vive um momento de maior fragilidade. É fundamental. Se Bolsonaro perdesse essas batalhas, com aprovação em queda e a pressão por impeachment em alta, o governo estaria mais próximo do fim.

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