Ricardo Corrêa

Editor de Política de O TEMPO e escreve neste espaço diariamente

Política em Análise

Perdendo o foco

Publicado em: Ter, 27/07/21 - 10h20

O Brasil tem perdido um enorme tempo com discussões menos importantes, enquanto a inflação em alta machuca o bolso da maioria da população e um arremedo de reforma tributária tramita no Congresso sem a atenção merecida da classe política e, principalmente do presidente da República. Enquanto Jair Bolsonaro fala de fraude em eleições, defende o voto com impressão, tensiona a relação com outros Poderes e tenta justificar uma sanção parcial do Fundo Eleitoral, o país deixa de debater o que realmente importa.

É sintomático que na reunião desta manhã entre o presidente e o senador Ciro Nogueira (PP), que aceitou assumir a chefia da Casa Civil, os assuntos fossem laterais e totalmente focados na agenda eleitoral do presidente. Na pauta estavam temas de como líder com a CPI da Covid e a defesa do presidente do PP do voto com as atuais urnas eletrônicas, o que é um ponto de choque dele com o chefe do Executivo. No encontro que durou apenas alguns minutos não se previa discutir de fato questões que podem mudar os rumos do país.

A impressão que temos é que Bolsonaro segue em campanha permanente, só pensando na reeleição e esquecendo-se do cargo que ocupa. Normalmente, é a oposição quem foca na eleição o tempo inteiro para arrumar um jeito de voltar ao governo. Um presidente, por sua vez, governa. E isso significa usar seus atos e falas como incentivo à aprovação das medidas de interesse de sua gestão para construir um país melhor. Em todas as entrevistas Bolsonaro fala de fraude e voto impresso. Em quantas defendeu a aprovação da reforma tributária que seu ministro Paulo Guedes mandou? Em quantas apontou soluções para a questões inflacionárias? Sobre esse tema, o máximo que faz é culpar governadores e medidas de isolamento pela alta dos preços.

O presidente passa o tempo inteiro reclamando dos ataques da imprensa, da relação com os Poderes e até de críticas que recebe de seu grupo político. Mas, com esse embate permanente e a postura de sempre buscar um inimigo da vez (os atuais são o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, e o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos), deixa de dar ênfase as ações de que governo, como as tomadas na área de infraestrutura, essas longe das polêmicas e guerras sem sentido.

Enquanto critica João Doria, esnoba a vacina do Butantan, chama os integrantes da CPI de ladrões ou trapalhões, promete lives com hackers ou faz piadas de duplo sentido, Bolsonaro não apenas deixa de prestar um serviço ao futuro do país como ajuda a adiar uma esperada recuperação de sua popularidade para as eleições de 2022. Bolsonaro foi forjado na guerra, no embate constante e permanente, principalmente na temática ideológica. Mas, para quem está no poder, o que vale é o governo e a sensação de bem-estar na sociedade. Gritaria e confusão funciona melhor na oposição.

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