Ricardo Corrêa

Editor de Política de O TEMPO e escreve neste espaço diariamente

Política em Análise

Quem planta guerra, colhe guerra

Publicado em: Seg, 01/06/20 - 09h27

Ouça a notícia

Quem planta guerra não pode colher outra coisa que não seja guerra. E foi o que vimos no domingo nas ruas, quando manifestantes favoráveis e contrários ao governo chegaram a se enfrentar, precisando haver intervenção da polícia para impedir que o grupo mais numeroso, dos contrários ao presidente, avançasse sobre a minoria, que defende o chefe do Executivo e que, em alguns casos, provocava com símbolos neonazistas. Poderia ter havido uma tragédia. Já disse aqui e repito: estamos caminhando para um cenário em que, lá na frente, pode se transformar em uma guerra civil.

O fato é que a entrada de grupos ligados a torcidas organizadas no debate é mais um elemento de radicalização que vem em resposta às hostilidades dos fanáticos que defendem o governo a qualquer custo. Resposta a gente que pregou intervenção militar e fechamento do Congresso. Que ameaçou e agrediu jornalistas e profissionais de imprensa. Que bateu em quem passava na rua de camisa vermelha em dia de manifestação. Agora, são eles também os alvos da tensão que criaram. E com o agravante: são minoria na sociedade. A reação destes deve vir com mais violência e mais acirramento. Onde vamos parar?

A resposta para a pergunta vem também da conclusão para outra indagação: até quando o clima belicoso em Brasília vai perdurar sem um desfecho? Até quando o presidente da República vai apostar no embate direto com o Supremo Tribunal Federal e com o Congresso? E até quando a resposta vai vir com notas de repúdio e investigações tortas sem a participação do Ministério Público Federal?

A grande questão é que o país não suportará mais muito tempo nessa guerra. E, por isso, tenho dito que a conclusão para esse momento conturbado que o país vive será drástica, ou com a derrubada do presidente e a prisão de algumas pessoas que estão próximas a ele, ou com a ruptura da ordem democrática por parte do grupo que está no poder.

Se o diálogo se esgotou, é preciso concluir as pendências que separam o país de uma conclusão. É necessário concluir as investigações sobre a interferência na Polícia Federal, sobre a difusão de fake news (essas que deveriam ser conduzidas pelo MP e não pelo STF, que já é vítima e juiz). Também é preciso julgar logo no TSE o uso desse procedimento nas eleições, para definir sobre a cassação ou não da chapa presidencial. E, no caso da Câmara, começar a tomar posições sobre os pedidos de impeachment ali colocados. O pior que pode acontecer com o país é ficarmos passíveis assistindo a briga das autoridades se transformar em uma briga de rua e com a participação de extremistas.

E só para lembrar: há uma pandemia matando milhares de brasileiros, estamos sem ministro da Saúde (o interino é um militar paraquedista) e sem um plano nacional para sair dessa tragédia. Alguém lembra?

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.