Raça em extinção?

O sonho de todo autoritário é que não haja contraditório. É que só sua opinião prevaleça e que todos tomem como verdade aquilo que ele diz. O jornalismo é um grande problema para quem pensa assim. E ontem isso ficou claro na fala do presidente Jair Bolsonaro, que disparou ataques baixos contra a imprensa e fez ironias sobre a profissão.

Bolsonaro está enganado. Se você sabe o que ele disse ontem que jornalistas “são uma espécie em extinção”, eis a prova de que o jornalismo informa. Mesmo quando é o alvo. Mas se isso não te convence, vamos lembrar mais alguns fatos.

Lembra do triplex no Guarujá, que levou à cadeia o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva? Sabe como a Polícia Federal e o Ministério Público Federal ficaram sabendo que ele existia? Lendo a edição do jornal O Globo de 2010. Ou seja: há 10 anos!
Sabe do mensalão? Se você sabe da existência e se houve toda a investigação e punição aos mensaleiros, tudo começou com uma entrevista de Roberto Jefferson ao jornal “Folha de S. Paulo”.

Quantas denúncias você já viu pipocar primeiro nas páginas de jornais, na tela da TV ou nos sites jornalísticos antes de ser investigado? Há no MP até mesmo setores para isso. 
Mas é a imprensa também que divulga o caso Queiroz, o recorde na liberação de emendas parlamentares ou o desmatamento crescente. Aliás, Bolsonaro disse que vai colocar jornalistas do Brasil vinculados ao Ibama por serem uma raça em extinção. Se fosse verdade, aí que nossa “raça” acabaria mesmo, afinal o desmonte do Ibama só não vê que segue alienado em portais de propaganda governamental pagos por baixo dos panos.

Linchamento virtual, ameaças, chantagem e represálias são frequentemente utilizadas pelo presidente e seu grupo para tentar calar aqueles que ousam contar para todos o que fizeram no verão passado e nesse também. Se tem dado certo? Cada um dos que estão aqui agora lendo essa coluna pode provar que não. O jornalismo vive. Para o desespero dos que querem que seus negócios fiquem à sombra...