Ricardo Corrêa

Editor de Política de O TEMPO e escreve neste espaço diariamente

Política em Análise

Tentando consertar o erro

Publicado em: Qui, 09/01/20 - 03h00

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Após errar o tom da primeira resposta à crise entre Estados Unidos e Irã, o governo brasileiro tenta colocar panos quentes em um posicionamento que, além de ferir nossa Constituição, pode causar prejuízo financeiro ao agronegócio brasileiro. Ontem, Jair Bolsonaro afirmou que o país deve se “omitir” quanto ao assunto. Embora o termo não seja o mais adequado, a posição está correta. Errado estava o presidente e o Itamaraty quando tomaram partido das ações do governo norte-americano, apontando apoio iraniano ao terrorismo, mas sem qualquer questionamento ao fato de que, ao atacar uma autoridade de um país soberano, no território de outro país e sem qualquer consentimento do conselho de segurança da ONU também houve uma ilegalidade da ordem do direito internacional.
Além do mais, nossa Constituição é clara quanto à defesa da solução pacífica dos conflitos. A nota desastrosa do Itamaraty, completamente dissociada de quase todos os posicionamentos de países pelo mundo, mesmo aliados dos Estados Unidos, passa longe da defesa da paz. O Brasil referendou o ataque norte-americano e viu seu representante em Teerã ser chamado para dar explicações. Na diplomacia, entende-se esse tipo de atitude como um claro sinal de insatisfação e alerta.
Do ponto de vista econômico, não deveria mesmo se indispor com os iranianos. As exportações brasileiras ao Irã, superaram US$ 2,1 bilhões entre janeiro e novembro e, como o país praticamente não importa nada de lá, o superávit comercial em 11 meses também superou os US$ 2 bilhões, ou mais de R$ 8 bilhões. Já em relação aos Estados Unidos, o que temos é déficit de mais de US$ 1 bilhão no mesmo período.
A posição brasileira ameaça, principalmente os produtores de milho e soja, que representam 83% das exportações para os iranianos, além dos produtores de carne e cana de açúcar, responsáveis por quase todo o restante das vendas para aquele país.
O comportamento impensado do presidente e de seus principais assessores internacionais pode criar constrangimentos, mas também enormes prejuízos. Que sirva de lição.

 

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