Declaração

Rodrigo Maia critica pressão de investidores pelo fim do isolamento social

O presidente da Câmara dos Deputados afirmou que falta previsibilidade ao governo e cobrou uma política sólida para que se possa adotar o isolamento vertical no país

Qua, 25/03/20 - 19h35

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), afirmou que há uma pressão por parte de investidores que aplicaram recursos na Bolsa de Valores de São Paulo para que o isolamento social tenha fim no Brasil. Em entevista coletiva realizada na noite desta quarta-feira (25), o parlamentar também cobrou previsibilidade por parte do governo federal para que as medidas restritivas possam ser reavaliadas com o tempo, mas por ora continuou defendendo o isolamento da sociedade brasileira. "Não podemos colocar a vida dos brasileiros em perigo por conta de investidores que foram para o risco", afirmou.

Segundo Maia, o Congresso não está desconsiderando as recomendações do governo federal. Ele lembrou que na semana passada o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) encaminhou ao Parlamento o projeto de lei reconhecendo o estado de calamidade pública no Brasil. "Espero que o presidente não tenha decretado calamidade pública por nada. Quando ele assinou, ele tinha as mesmas preocupações que ainda temos. A minha opinião é que nas últimas semanas tivemos pressão de grande parte dos investidores. Aqueles que colocaram recursos com a expectativa de que a Bolsa de Valores atingisse 150 mil pontos", disse. "Preocupados com suas perdas, querem impor ao Brasil uma realidade que não está acontecendo em lugar nenhum do mundo", acrescentou.

Nesse cenário, presidente da Câmara cobrou previsibilidade. "Se o governo estivesse garantindo a renda (dos trabalhadores afetados), todos estariam fazendo o isolamento esperando o impacto da chegada do vírus e, a cada semana, avaliando o que deve ser feito". O parlamentar ainda destacou que a Câmara vai analisar nos próximos dias projetos que beneficiem o Brasil, e aproveitou para alfinetar Bolsonaro. "Se fosse para ajudar exclusivamente o governo, o presidente, certamente haveria dificuldade de quórum. Temos projeto para aprovar que vão beneficiar o Brasil"

Sobre a proposta de isolamento vertical (na qual apenas os grupos de risco permaneceriam isolados) defendida por Bolsonaro, Maia afirmou que não dá para discutir o assunto sem uma estratégia sólida. "Como alguém pode falar em isolamento vertical se até hoje não apresentou uma proposta para os idosos mais pobres?", questionou, referindo-se à população acima de 60 anos das cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro e que moram em comunidades. O presidente da Câmara explicou que seria preciso uma estratégia para impedir o contato desses idosos com as demais pessoas da comunidade. "Não dá para tirar (os jovens de casa) para trabalhar e voltar para o mesmo ambiente de 20, 30 metros quadrados".

"O que estamos esperando e cobrando do governo é para criar um protocolo para que possamos isolar esses idosos. A partir do momento em que o governo tiver uma política séria, responsável, olhando com mais urgência para esses idosos, deixando-os distantes dos que vão sair para trabalhar, certamente vai ter condição de liberar (do isolamento) os mais jovens", reforçou. 

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