Farra

Rodrigo Maia é campeão de voos nos jatinhos da FAB

Segundo o levantamento, em 2016, foram 2.196 viagens de autoridades políticas, sendo que 672 delas ocorreram durante o mandato da então presidente Dilma Rousseff (PT)

Ter, 09/01/18 - 02h00
Rodrigo Maia teve a maioria dos voos registrados de Brasília para o Rio de Janeiro | Foto: Fábio Motta/Estadão Conteúdo - 29.12.2017

As autoridades brasileiras parecem levar ao pé da letra a expressão: “O céu é o limite”. Elas aproveitaram, e muito, o ano de 2017 para utilizar as aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) em deslocamentos por todo o Brasil e por vários países. Levantamento da reportagem de O TEMPO, com base nos registros de voos disponíveis no portal do órgão, apontou que somente no ano passado os ministros do Estado, presidentes dos Três Poderes e chefes das Forças Armadas embarcaram 2.445 vezes nos jatinhos da FAB, o que representa um aumento de 11,3% se comparado ao ano de 2016. Deste total de voos, somente 103 foram compartilhados por autoridades. Os outros 2.342 tiveram à bordo apenas um ministro e seus convidados.

Segundo o levantamento, em 2016, foram 2.196 viagens de autoridades políticas, sendo que 672 delas ocorreram durante o mandato da então presidente Dilma Rousseff (PT). Naquele ano, 71 voos foram compartilhados por ministros. A maioria dos trajetos feitos pelos ilustres passageiros refere-se aos trechos de Brasília aos Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, e o percurso contrário.

Atualmente, o Grupo de Transporte Especial (GTE) da FAB utiliza seis aeronaves, de quatro modelos, para atender o presidente Michel Temer e as autoridades. <CW-16>Questionada sobre os custos operacionais dos deslocamentos, a assessoria de imprensa da FAB informou que esses dados são classificados com o grau de sigilo “reservado”, “pois são considerados estratégicos por envolverem aviões militares”.

Diante disso, a reportagem realizou orçamentos em empresas de táxi-aéreo e apurou que o trajeto de ida e volta de Brasília até a capital do Rio de Janeiro custa, em média, R$ 65 mil. Já o trecho do Distrito Federal até a capital paulista é de R$ 63 mil. Nessas pontes aéreas foram realizados, respectivamente, 397 e 412 voos. Isso custaria, pelo menos, R$ 51,7 milhões aos cofres públicos. Já uma passagem de voo comercial para esses destinos custa em média R$ 300.

O “campeão de milhagens” é o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), com 211 voos. O trecho mais utilizado por ele foi de Brasília ao Rio de Janeiro, onde fica sua residência, e o trajeto contrário. Ele ainda visitou dois países: Paraguai e Peru. Logo em seguida no ranking está o ministro da Defesa, Raul Jungmann, com 155 “embarques”, visitando 15 países, como o Haiti.

Outro que andou muito pelo exterior foi o ministro da Fazenda e pré-candidato à Presidência em 2018, Henrique Meirelles. Nas 128 viagens feitas por ele, 13 nações foram visitadas, entre elas a Venezuela. Outros dois que ocupam o “top 5” de voos são os ministros da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, e o da Integração Nacional, Helder Barbalho. Foram 128 e 120 viagens, respectivamente. Conforme a pesquisa, as aeronaves que levaram os dois somente “aterrissaram” em território nacional.

Regras. A frota da FAB pode ser utilizada para o transporte do presidente e seu vice, presidentes do Senado, da Câmara dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal (STF), ministros e comandantes das Forças Armadas.

Limite. Em 2015, a então presidente Dilma Rousseff suspendeu as viagens de ministros para seus locais de residência. A exceção é para trajetos feitos pelo vice-presidente e pelos presidentes do Senado, da Câmara e do Supremo Tribunal Federal.

Rotas “individuais” foram 140

As autoridades brasileiras parecem ter esquecido o que determina o decreto da Força Aérea Brasileira (FAB), de 2002, de que sempre que possível as aeronaves sejam compartilhadas por mais de um ministro. De acordo com o levantamento feito pela reportagem de O TEMPO, no ano passado, 140 viagens tiveram um único passageiro a bordo.

Quem mais se preocupou com a privacidade foi o ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Eliseu Padilha. Dos 99 voos realizados pelo ministro, em 88 deles ele aproveitou sozinho o conforto do jatinho da FAB. O trecho aéreo mais utilizado por Padilha é entre Brasília e Porto Alegre, e apenas em três viagens o ministro fugiu dessa rota. Segundo a pesquisa da reportagem, o fretamento de um jato para esse percurso custa, em média, R$ 92 mil, enquanto uma passagem para voo comercial custa R$ 400.

Outro que costuma utilizar os jatinhos da FAB sozinho é o ministro da Secretaria Geral, Moreira Franco. Das 94 viagens feitas por ele, em 25 Moreira aproveitou o trajeto sozinho.

Justificativa. Por meio de nota, a assessoria da FAB esclareceu que aeronaves oficiais somente podem ser utilizadas por motivos de segurança, emergência médica, viagens a serviço e deslocamento para residência. Questionada sobre a não divulgação da lista de passageiros das aeronaves, o órgão destacou que informações adicionais devem ser dirigidas às assessorias das respectivas autoridades.

Voos ao exterior chegaram a 152, com visitas a 54 países

A farra nas passagens nos aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) também não deixou fora as viagens internacionais. Em 2017, foram 54 países visitados, sendo que 152 viagens tiveram como destino algum país no exterior. Os únicos continentes que foram excluídos da lista dos ministros foram a Oceania e a Antártida.

Entre as principais viagens escolhidas pelas autoridades estão desde os vizinhos de continente, Argentina e Colômbia, até aqueles lugares mais improváveis e distantes: Benim e Botswana, no continente africano, e Emirados Árabes, Cazaquistão e Azerbaijão, na Ásia. Nações na Europa, como Grécia, Itália, Noruega e França, também entraram na lista.

O campeão das viagens ao exterior foi o ministro de Estado das Relações Exteriores, Aloysio Nunes. Desde quando assumiu o cargo, em março do ano passado, Nunes realizou 92 das 112 viagens que o ministério solicitou para a FAB no último ano.


Curiosidades

Eduardo Cunha. No período em que esteve afastado da presidência da Câmara, entre os dias 5 de maio e 7 de julho de 2016, quando renunciou ao cargo, Cunha voou 13 vezes pela FAB. Foram sete voos partindo de Brasília para o Rio de Janeiro e seis voos no sentido contrário. O custo estimado das viagens é de R$ 585 mil.

Fábio Ramalho. Já o vice-presidente da Câmara dos Deputados utilizou oito vezes a aeronave, tendo como destino Governador Valares, Uberlândia, Belo Horizonte e São Paulo. 

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