Entrevista

'Se o Aécio for condenado, ele sabe o que fazer no PSDB'

Presidente nacional do PSDB Mulher, Yeda Crusius, afirma que a briga entre diretórios de São Paulo e Minas Gerais por causa do deputado federal é desnecessária

Dom, 15/09/19 - 03h00

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Há um movimento para que mulheres sejam candidatas do PSDB no ano que vem. Em Belo Horizonte, Luísa Barreto; no Rio de Janeiro, Mariana Ribas. Ambas demonstraram aptidão política. Como a senhora avalia e defende as candidaturas de mulheres para as prefeituras?

Estão ligadas às conquistas feitas, esse avanço não volta. As próprias mulheres estão dispostas a ir para o embate eleitoral e exercer postos de comando. Há um abrigo melhor dentro dos partidos, seja por força de lei ou por compreensão de que as mulheres estão dispostas. Estou entusiasmada, não apenas com as que eu já conheço. As que virão já encontrarão, dadas as precursoras por terem aparecido, um caminho mais fácil. Eu acredito que vai multiplicar-se muito o número de candidatas.

A senhora conhece a Luísa Barreto?

Não, porque o PSDB em Minas, até recentemente, andou sozinho, não é? Minas era top, tinha suas enormes políticas estaduais e internas. Agora, não. Agora, realmente está igual aos outros (Estados) – ou seja, está menos top. E tem que recuperar com as experiências maravilhosas que já tem, Minas tem que recuperar o espaço perdido.

Como a senhora avalia o PSDB em Minas?

Está se recuperando muito bem, porque realmente caiu uma espada na cabeça do PSDB no Estado. Foi pesado para Minas Gerais o líder Aécio (Neves) estar passando pelo processo que ele está passando. E como se aproveitou isso do outro lado (outros partidos) para criar alternativas. Mas temos “PSDB raiz” em Minas Gerais, não é “Nutella”, não.

Como a senhora viu a questão do Aécio Neves, que acabou em uma briga entre os diretórios tucanos de Minas e São Paulo?

Absolutamente desnecessária. Isso é uma perda de vitalidade político-partidária muito grande. Uma briga que não precisava acontecer. Por que não? Porque o PSDB sempre defendeu o império da lei. Tanto que fizemos agora o código de ética. No código de ética está escrito que vale a expulsão para quem já foi condenado em primeira instância. Senão você começa a formar processo de Moscou, vendetta (vingança) pessoal. Isso não existe dentro do PSDB. Então, acho desnecessário, inoportuno e extremamente desgastante. Se tiver uma condenação, se o Aécio for condenado, ele sabe o que fazer.

Por enquanto, ele permanece porque não teve condenação?

O desgaste é dele (Aécio). Eu não me sinto desgastada por ele, porque tenho argumentos para responder a quem tenta me atacar, porque sou do partido do Aécio. Pelo amor de Deus, se for olhar partido por partido e começar a exigir que a pessoa se explique, porque tem alguém ligado a tal operação, tem Lava Jato, não tem Lava Jato, eu tenho argumentos. Ainda mais quando se olha uma forma de comportamento de outros partidos, que esperam a Justiça se manifestar e não degolam os seus.

A senhora vai se candidatar à presidência do PSDB nacional?

O Bruno Araújo foi eleito agora. Lançaram meu nome por várias razões, uma delas é o modo de conduzir o PSDB Mulher, baseado no respeito pelo dinheiro público e pela união entre mulheres e para não deixar dividir (o partido). Então lançaram meu nome. Gente, o partido precisa se arrumar. É muito cedo para falar em candidatura, embora estejam colocando alguns nomes, que eu sei. Então, minha candidatura não é certa, não está posta. Eu nunca deixei de ocupar posições, eu sei que posso assumir se o partido deseja me colocar. Tenho currículo largo, conforme a idade manda. Primeiro, vamos arrumar o PSDB. Até esses desgastes relativos ao Aécio e ao (Alexandre) Frota fazem parte da construção desse caminho para a gente mostrar nossa identidade e para gente mostrar a forma como a gente conduz coisas complicadas e graves. Nunca fugimos.

A eleição de Romeu Zema (Novo) foi uma surpresa ao derrotar o senador Antonio Anastasia?

Foi um tsunami. Meu Deus, pega o Rio de Janeiro (como exemplo). Pega Santa Catarina, Amazonas. Não é caso específico de Minas. Fez parte do processo. E calhou que foi ele (Zema).

A situação política dele é complicada?

Não é fácil. Pensam que é fácil. A sabedoria não está na cadeira onde a pessoa senta. A cadeira está ali, a sabedoria requer experiência.

Como a senhora analisa o governo do presidente Jair Bolsonaro?

Não passou dos limites pelas pesquisas que ando vendo. Pesquisas estão dizendo que tem uma parte da população que o apoia. Então, vamos cair na real. Bolsonaro foi eleito como ele é. Ele sempre foi a pessoa que está mostrando ser. O presidente tem grande apoio popular e um apoio que a gente tem que respeitar. Nas duas últimas décadas, foram plantadas sementes de ódio, divisão, que demorarão para cicatrizar. 

Nos últimos anos tivemos desgastes políticos, e muitas decisões foram tomadas pela Justiça. Não é perigoso deixar tudo para a Justiça resolver?

Extremamente perigoso. Mas, se há um vazio, alguém ocupa o espaço. Então, o Judiciário ocupou o espaço vazio. Qual foi o espaço vazio? O Congresso Nacional, que é o que sustenta as democracias. Tudo passa pelo crivo da lei. Agora, está começando um movimento para colocar o Judiciário no seu devido lugar. Nosso Judiciário tem uma característica que outros países não têm. Não são só Judiciário e serviços auxiliares. São Procuradoria, Defensoria e Ministério Público. A evolução tem que ser a partir do Congresso Nacional, a pedido da sociedade, de arrumar o equilíbrio entre Poderes. Hoje, o Judiciário judicia, legisla e executa. Todas as sociedades, autoridades, às vezes, passaram pelo monopólio do Judiciário. Isso, a gente não pode aceitar.


A senhora imaginaria um presidente da República sendo preso?

Já estava maduro. Essa mundialização que a globalização trouxe, a gente viu determinados Judiciários colocarem seus presidentes na cadeia. Então, chegaria o dia. O Judiciário nos tempos de Ayres Brito, se comportou espetacularmente durante o caso do mensalão. Ali, se acumulou uma experiência, se inovou. E estava escrito nas estrelas que sim (que um presidente seria preso). E como o volume de corrupção não diminuiu, quem praticava aqueles volumes extraordinários de corrupção achou que não aconteceria. Continuou, e deu no que deu.

A senhora é candidata em 2020 à Prefeitura de Porto Alegre?

Não. Eu fui governadora do Rio Grande (do Sul) em um período que pintaram e bordaram com assassinatos de reputação. Por exemplo, Barack Obama foi presidente (dos Estados Unidos). Depois que chega ao posto de comando lá (nos EUA), por questão legal, não se pode ser candidato mais. E aqui, de alguma maneira, também se processa (informalmente). A pessoa que atingiu o posto de governadora não deve ser candidata à prefeitura, a não ser que as circunstâncias justifiquem isso. Não sou candidata em 2020, mas vou fazer muitas candidatas.

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