Dados

Seis em cada 10 mineiros veem aborto como crime

Para 85,9%, mulher não tem direito de interromper a gestação por não querer ser mãe

Por Bruno Menezes
Publicado em 25 de junho de 2018 | 03:00
 
 

O debate sobre a prática do aborto no Brasil é extenso e polêmico. Apesar disso, a maioria dos mineiros parece estar bem-resolvida em relação a esse tema. De acordo com a sexta edição do projeto Minas no Brasil de 2018, no Estado, pelo menos seis em cada dez pessoas (66,6%) consideram a prática do aborto um crime. Enquanto isso, 17,4% da população mineira afirma que o aborto está ligado a uma questão de saúde pública. Já outros 16% dizem que a realização do aborto é um direito da mulher. 

Os resultados da pesquisa do Grupo Mercadológica em parceria com o jornal O TEMPO revelam que, entre as mulheres, a afirmativa de que o aborto é um crime é ainda mais apoiada. Segundo o levantamento, 71,6% delas afirmam que o aborto é crime. A maioria tem idade entre 35 e 44 anos, fazem parte das classes econômicas C, D ou E e são da religião evangélica.

“Eu sou contra a mulher que engravida e depois quer tirar o bebê. Ela está tirando uma vida. Apesar de ser ainda uma sementinha, é uma vida que está ali. Ninguém tem o direito de tirar a vida de ninguém. Somente Deus pode tirar a vida de alguém”, afirma a babá Waldete Aparecida Milhorato, 52. Em sua visão, tanto a mãe quanto os médicos que realizam o procedimento podem ser punidos. “Principalmente se for uma clínica clandestina”, explica. 

Por outro lado, quem é a favor da prática do aborto, alega que a proibição não garante que o procedimento não vá ocorrer. A advogada Ana Maria Gontijo, 24, é uma das pessoas que concorda com essa afirmação. “As mulheres não deixam de fazer porque é taxado como crime. O que acontece é que as grandes vítimas são as mulheres pobres, negras e que acabam morrendo em procedimentos clandestinos, enquanto mulheres de classe média ou alta fazem aborto em clínicas com grandes estruturas. Então o aborto é um fato social”, disse. Para ela, a discussão sobre o direito ou não ao aborto deve se afastar do campo religioso e se aproximar, cada vez mais, do direito das mulheres. “Parte muito de uma discussão sobre o que é vida e o que não é vida. Assim, acaba que entram muitos critérios religiosos. Esses estão muito no campo da moral, e não no campo do direito. Os estudos que se fazem é de que, até determinado ponto, o feto não possui nem sistema nervoso. Então nem dor ele sente. Ele é realmente uma célula. Eu acho que isso não configura um crime”, completou.

Ser mãe. Em Minas Gerais, as mulheres também são mais radicais quando o assunto é o direito da gestante de realizar o aborto pelo fato de não desejar ser mãe no momento. No levantamento feito no Estado, 85,9% das pessoas acreditam que a mãe não tem o direito de abortar sob essa alegação. Entre as mulheres, apenas a minoria de 9,6% defende esse direito, enquanto 90,4% discordam. Já entre os homens entrevistados, o percentual que aprova a prática nessa situação é de 18,9%, e os que são contra somam 81,1%.

A pesquisa também mostrou que três em cada dez entrevistados conhecem alguma mulher que já se submeteu ao procedimento. Apesar do resultado, algumas pessoas acreditam que, por ser um tabu na sociedade, as pessoas fiquem constrangidas de contar. 

“Não conheço. Aliás, ninguém comentou comigo que tenha feito. Mas com certeza alguém do meu circulo já deve ter praticado e não quis comentar sobre o assunto”, afirmou o demógrafo Rodrigo Caetano Arantes, 38. 

A pesquisa Minas no Brasil de 2018 foi realizada entre os dias 11 e 15 de junho. Foram ouvidas 608 pessoas, em 45 cidades de todas as regiões do Estado. A margem de erro é de 3,9 pontos percentuais para mais ou para menos. O intervalo de confiança é de 95%. Ao longo dessa semana, serão divulgados novos resultados sobre temas ligados a questões polêmicas de saúde pública.
Perfil. Dentre os entrevistados pela pesquisa Minas no Brasil de 2018, cerca de 52% são mulheres e 48% homens. Metade dos entrevistados é casada ou mora junto com seu parceiro. 36,3% se declaram brancos, enquanto outros 64,7% não brancos.