Embaixada nos EUA

Senado manda recado ao resistir a nome de Eduardo, diz cientista político

Para Marco Antônio Carvalho Teixeira, fala do presidente de que não pretende submeter seu filho ao fracasso é indicador de objeção na Casa

Por Estadão Conteúdo
Publicado em 20 de agosto de 2019 | 14:13
 
 

A declaração dada nesta terça-feira (20) pelo presidente Jair Bolsonaro de que não pretende submeter seu filho Eduardo ao fracasso, numa referência ao processo de indicação de seu nome para ocupar a embaixada do Brasil em Washington, nos Estados Unidos, é um reflexo da resistência de parte do Senado Federal à vontade pessoal do mandatário em alçar seu filho a um dos postos mais cobiçados do Itamaraty. "Ao resistir ao nome de Eduardo, o Senado manda um recado a Bolsonaro de que não será um mero carimbador das vontades do presidente da República", avalia o cientista político, professor e pesquisador da FGV Marco Antônio Carvalho Teixeira.

Em entrevista ao Broadcast Político, Carvalho Teixeira destaca que, além da questão "um tanto folclórica e inusitada" de Bolsonaro indicar o próprio filho para a embaixada nos Estados Unidos, que pode ter pesado na atual resistência de parte dos senadores, as recentes declarações "grosseiras e verborrágicas" do mandatário com a questão externa - como críticas à possibilidade do kirchnerismo voltar ao poder na Argentina e à suspensão de repasses da Alemanha e Noruega ao Fundo Amazônia - também acenderam o sinal amarelo.

"Não se pode lidar com esse padrão beligerante nas questões externas, tanto que a palavra-chave para isso é diplomacia, que se fia na arte da negociação", diz Teixeira. O cientista político acredita que a soma desses fatores, aliado ao fato de a divulgação pela imprensa do suposto acerto feito entre Bolsonaro e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), para a indicação de dois nomes para o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), também contribuíram para aumentar as resistências ao nome de Eduardo.

Segundo o professor da FGV, caso a resistência se confirme, e o nome de Eduardo não passe pela Casa, ou nem seja indicado pelo presidente, isso evidenciará a postura frágil do mandatário, que não conseguirá jogar a favor de seus próprios interesses. "Será um nocaute para o próprio governo e para Bolsonaro. E se confirmar, creio que ele não terá forças para cumprir o que havia prometido (e depois voltou atrás) de indicar Eduardo para ser o novo chanceler, no lugar de Ernesto Araújo no Itamaraty", disse.