Reeleição

Senadores investigados são pedra no caminho de Janot 

Dilema no Ministério Público Federal é enfrentar sabatina no Senado, após ação contra políticos

Dom, 02/08/15 - 03h00
Janot terá que enfrentar a ira dos políticos que estão no alvo dele | Foto: ANDRÉ DUSEK

O momento político atual não poderia ser mais melindroso para a escolha do novo procurador geral da República. A depender da presidente Dilma Rousseff, Rodrigo Janot será reconduzido ao cargo. Ele também é o preferido entre seus pares, que, na próxima quarta-feira, em eleição interna, decidem quem recomendarão.

Mas diante de um clima de revanchismo de alguns senadores – inconformados por terem sido incluídos no rol dos investigados da operação Lava Jato –, o governo poderá indicar outro nome para garantir a aprovação no Senado, apesar de a saída ser considerada arriscada. Na Casa, o candidato tem que alcançar, ao menos, 41 dos 81 votos.

De um lado, aliados de Fernando Collor (PTB-AL) – alvo de recentes mandados de busca e apreensão – e do presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) articulam para a rejeição de Janot, como entregam alguns colegas. Do outro, o governo tenta controlar os insatisfeitos. Sem querer se envolver com as entranhas políticas, o presidente da Associação Nacional dos Procuradores (ANP), José Robalinho Cavalcanti, garante que as pressões serão inúteis e que, seja quem for o novo chefe da procuradoria, seguirá com a missão da Lava Jato, doa a quem doer.

O primeiro capítulo da escolha será no dia 5. Em todo o Brasil, 1.240 procuradores votam. Além de Janot, estão no páreo Carlos Frederico Santos, Mario Bonsaglia e Raquel Dodge. Fred, como Santos é chamado entre os colegas, é o único que se apresenta como oposição ao atual chefe do Ministério Público Federal (MPF).

Bonsaglia é o mais próximo de Janot. Ele pode ser uma alternativa. Sua indicação pode virar realidade se o clima de retaliação se agravar no Senado. O Planalto não cogita passar pelo constrangimento de ter o indicado de Dilma reprovado. Em teoria, o nome escolhido pelo Planalto é o mais votado pela eleição da ANP.

Oficialmente, o governo não admite plano B. O senador Humberto Costa (PT-PE) diz que Dilma levará ao Senado o vencedor da lista tríplice. “Caso contrário, a leitura seria negativa de que ela atuou para proteger investigados. E se o Senado não aprovar o nome, seria a leitura de que a Casa está querendo abafar as investigações, seria muito ruim”.

Costa reconhece que “o sentimento hoje é de muita rejeição” e que a sabatina na Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) será ainda mais acirrada do que a protagonizada pelo mais novo ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Edson Fachin.

Mas Costa não acredita que esses senadores serão maioria. Na CCJ, um terço dos membros é investigado pela procuradoria.

Antonio Anastasia (PSDB-MG), membro da CCJ e um dos nomes colocados em suspeita por Janot, diz que terá uma postura imparcial. “Para os indicados para diversos cargos, tenho utilizado os critérios previstos na Constituição”, afirma.

Fontes próximas do tucano garantem que ele aposta no trabalho de Janot para inocentá-lo. Os outros dois senadores mineiros, Zezé Perrella (PDT) e Aécio Neves (PSDB), não responderam à reportagem.

Um senador da oposição diz que Calheiros e Collor já mobilizam aliados. “Eles não superaram os mandados de busca e apreensão. Mesmo os colegas que não são citados têm receio da atuação da procuradoria”.

Especulação

Duelo. Dois nomes ganharam destaque nos bastidores da eleição do novo procurador. Um deles, Carlos Frederico Santos, é o único concorrente de Janot que se coloca como oposição e faz críticas ao modelo de gestão de Janot no órgão. Ele já declarou que os pares devem “intensificar o calibre da bala” das denúncias e criticou a atuação “midiática” da Lava Jato.

Interino. Outro nome é o do subprocurador geral Eitel Santiago Pereira. Ele já disse que conduzirá a Lava Jato respeitando a Constituição e que não se furtará a denunciar autoridades. Provisoriamente, ele pode ocupar o lugar de Janot caso Dilma e o Senado não indiquem até 17 de setembro o novo chefe do MPF.

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