Desperdício no Paraíso

Série de reportagens mostra como o Brasil torra recursos com embaixadas no paraíso

Redação O Tempo

Por Carla Kreefft
Publicado em 22 de julho de 2013 | 03:00
 
 
A ilha de São Cristóvão, entre o Atlântico e Mar do Caribe, abriga quatro brasileiros e agora tem uma embaixada do Brasil Mariela Guimarães

Caribe. Um exemplo da falta de zelo com o dinheiro público é o que mostra na série intitulada “Desperdício no Paraíso”, publicada pelo jornal O TEMPO durante uma semana. As reportagens mostram a criação, por parte do governo federal, de embaixadas em pequenas e paradisíacas ilhas do Caribe, que não recebem turistas brasileiros, não possuem relações comerciais e nem mesmo possuem alguma identidade cultural com o Brasil. São países colonizados por ingleses e que, mesmo após a recente independência, mantêm tradições e costumes britânicos.

Além de desnecessária, como mostra a primeira reportagem da série, a manutenção dessas representações diplomáticas é cara. Somente o salário médio de um embaixador que presta serviço no exterior é de R$ 37 mil, considerando a soma dos vencimentos e das verbas indenizatórias. Eles ganham mais do que o teto em vigor no país, que é de R$ 28.059,29. Além dos altos salários, os embaixadores ainda têm direito a moradia, carro e empregados domésticos custeados pelos orçamentos de suas embaixadas. No caso do Caribe, o orçamento anual das embaixadas vai de US$ 300 mil a US$ 480 mil – os valores não incluem a remuneração de embaixador e de outros diplomatas, que é paga por meio do orçamento do Ministério das Relações Exteriores.

Na segunda reportagem é retratada a política externa do governo federal, do primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva até o momento, que prioriza a criação de embaixadas em paraísos caribenhos em detrimento do fortalecimento das relações com outras nações que, do ponto vista da economia mundial, são mais relevantes.

Esse é o caso, por exemplo, de Taiwan, ilha que integra os chamados Tigres Asiáticos e mantém um comércio com o Brasil de US$ 5,5 bilhões – mais do que o dobro dos negócios entre o Brasil e as cinco ilhas caribenhas.

Em outra matéria serão mostradas as realidades das embaixadas de Barbados, Granada, Santa Lúcia, São Cristóvão e Névis e Trinidad Tobago. As estruturas, o funcionamento das representações e as alegações dos embaixadores para justificar a manutenção de suas representações serão abordadas.

A série ainda traz os interesses do governo petista nessas embaixadas. O pano de fundo está diretamente relacionado com a chamada política bolivariana, que une as gestões de países como Venezuela, Cuba e Brasil com o objetivo de estender suas influências e formar um bloco de esquerda hegemônico na América Latina e Caribe. Especialistas criticam os rumos da política externa brasileira.

O percurso da reportagem

O trabalho da equipe de reportagem do jornal O TEMPO para elaboração da série “Desperdício no Paraíso” começou no dia 7 de julho, quando a editora de política, Carla Kreefft, e a fotógrafa Mariela Guimarães embarcaram, acompanhadas de três pilotos, em um jato executivo rumo ao Caribe. Depois de passar por Goiânia, Santarém e Boa Vista, a equipe chegou, na segunda-feira, a Barbados. No dia seguinte, já estava em Granada, onde os jornalistas foram obrigados a permanecer porque não havia condições de decolagem – a região foi atingida por uma tempestade tropical. A próxima parada foi em Santa Lúcia e, na quinta-feira, a equipe já estava em São Cristóvão. Trinidad e Tobago foi a última ilha a ser visitada. Todos os embaixadores foram entrevistados.
 

O que se quer?
“A pergunta que se faz, depois de visitar as embaixadas brasileiras em pequenas ilhas do Caribe é a seguinte: ‘O que o Brasil pretende com sua política exterior?’. É difícil entender qual é a importância da aproximação entre o país e essas ilhas que justifiquem os altos gastos para a criação e a manutenção de representações diplomáticas que, mesmo que não sejam luxuosas, geram despesas consideráveis. É um recurso que poderia ser muito melhor empregado em setores carentes, como a saúde e a educação. Um olhar mais atento é capaz de perceber interesses muito diferentes daqueles que deveriam verdadeiramente motivar relações internacionais saudáveis”, Carla Kreefft (editora de Política)