Manifestações

‘Vai Ter’ versus ‘Não Vai Ter’  

Movimentos estimulam a população a protestar contra investimentos na Copa do Mundo

Seg, 07/04/14 - 03h00
Belo Horizonte. O movimento “Não Vai Ter Copa” promoveu protestos, em janeiro, na capital mineira | Foto: GUSTAVO BAXTER/ O TEMPO

Em cartazes, palavras de ordem, pichações e nas redes sociais, a expressão “Não Vai Ter Copa” virou mote de boa parte dos movimentos sociais e de militantes desde as manifestações de junho do ano passado. Faltando 66 dias para o pontapé inicial no Mundial de 2014, apesar de não haver muitas dúvidas de que, dentro de campo, a bola vai rolar, a expressão deve voltar à tona para questionar o “legado da Copa”. O poder público usa o termo para justificar os gastos com o evento e a aceitação das imposições da Federação Internacional de Futebol (Fifa) às cidades-sede.

No entanto, do lado de fora das arenas cresce a mobilização para a realização de mais uma jornada de manifestações. Um dos movimentos engajados em protestos contra o evento é o Comitê dos Atingidos pela Copa (Copac). Os integrantes do movimento criticam, além da gastança de dinheiro público com estádios, os despejos de famílias pobres que viviam em áreas estratégicas e a falta de políticas para evitar o tráfico de pessoas, que historicamente aumenta de forma acentuada com a realização de grandes eventos, como a Copa. Em 2010, na África do Sul, por exemplo, o número de casos aumentou em 40%. E também o “legado”.

“Se a gente acompanhar os discursos da Fifa e do governo brasileiro, o legado mudou três vezes. Primeiro era o da mobilidade, mas boa parte das obras não ficará pronta. Depois, o turismo, mas nem os hotéis ficaram prontos com receio de virem menos turistas do que o esperado. Por fim, disseram que a Copa vai ser boa para a visibilidade do Brasil, o que também é mentira, já que são as manifestações que estão mostrando o que acontece por aqui”, avalia Fideles Alcântara, membro do Copac.

O sociólogo Rudá Ricci, que publicou o livro “Nas Ruas”, sobre as manifestações de junho, diz que, no ano passado, os protestos tinham bandeiras heterogêneas, como educação, saúde, PEC 37, segurança pública. “O tema Copa aparecia bem pouco”, segundo Ricci.

Disputa. De acordo com o sociólogo, o assunto ganhou maior destaque depois que o Copac foi eleito pelas organizações para coordenar os protestos. “O que deu popularidade para o ‘Não Vai Ter Copa’ foram os governistas, que ficaram revoltados com o slogan. Virou uma disputa do ‘vai ter’ contra o ‘não vai ter’”, analisa o professor.

Para este ano, a previsão de Ricci é que, ao contrário de 2013, os gastos dos governos na Copa do Mundo sejam a crítica central dos protestos. “Neste ano, o foco mudou e passou a ser a Copa, que foi colocada no centro da pauta”, analisa o cientista.

Queda

Apoio. Uma pesquisa feita pelo instituto Datafolha e divulgada no mês passado mostrou que o apoio dos brasileiros à Copa do Mundo caiu de 79% para 52%, entre 2008 e 2013.

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