Mensalão

Valério diz que teve defesa paga pela Andrade Gutierrez

Mensalão.Objetivo do auxílio seria proteger o governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)

Sáb, 22/07/17 - 03h00

SÃO PAULO. O operador Marcos Valério Fernandes relatou, em acordo de colaboração premiada assinado com a Polícia Federal (PF), que a empreiteira Andrade Gutierrez teria pagado, em 2005, R$ 5 milhões aos advogados das empresas de publicidade mineiras investigadas no processo do mensalão, das quais era sócio. As informações são do jornal “O Globo”.

Em seu relato, Valério contou ter sido informado por Paulo Okamotto, então presidente do Sebrae e braço direito do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sobre o pagamento aos advogados, que teria como objetivo tentar proteger o governo.

Já assinada com a Polícia Federal, a colaboração premiada do empresário Marcos Valério ainda depende de homologação do Supremo Tribunal Federal (STF). A Corte também terá que analisar uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) do Ministério Público Federal (MPF) que discute se a PF pode realizar acordos desse tipo.

Relatos. De acordo com o delator, Okamotto era a pessoa designada por Lula para ser o interlocutor do partido com as agências SMP&B e DNA, usadas em esquema de corrupção envolvendo contratos de publicidade que tinham como objetivo desviar recursos do Banco do Brasil para políticos. O caso foi descoberto em 2005, quando o então presidente do PTB, o ex-deputado federal Roberto Jefferson, denunciou a existência de uma rede de pagamentos operada por Marcos Valério.

Segundo o relato, Okamotto teria informado Valério sobre o pagamento da Andrade Gutierrez depois de ele prestar depoimento em sessão da CPMI dos Correios, em agosto de 2005. Na ocasião, o operador respondeu a centenas de perguntas de parlamentares e negou que os contratos de publicidade de sua agência com estatais sob gestão do PT fossem fraudulentos.

No acordo assinado com a PF, segundo “O Globo”, Valério diz que o então ministro da Justiça do governo Lula, Márcio Thomaz Bastos, já falecido, discutia a estratégia de defesa com seu advogado, Marcelo Leonardo. E diz ter sido informado por Okamotto que a Andrade Gutierrez daria os R$ 5 milhões para manter a estratégia conjunta de defesa frente às acusações.

Segundo ele, o pagamento teria sido acertado com Roberto Gutierrez, então vice-presidente do Conselho de Administração da Andrade, que morreu em 2006. Valério diz que a empresa teria feito o repasse a uma conta no exterior e os valores teriam regressado ao Brasil por meio de doleiros.

O acordo de Valério está sob sigilo. Entre outros temas, o delator apresentou detalhes do que afirma ser o caixa paralelo montado por suas agências de publicidade para operar desvios durante os governos Fernando Henrique (1995-2002) e nos períodos iniciais dos governos Lula e de Aécio Neves em Minais Gerais, ambos entre 2003 e 2005.

Antes de tentar fechar sua delação com a Polícia Federal, Valério entregou a proposta ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), que rejeitou o acordo.

FOTO: ALBERTO WU/estadão conteúdo - 10.7.2017
Paulo Okamotto, braço direito de Lula, teria informado sobre auxílio

 

Lava Jato

Encrencado. Citado por Marcos Valério em sua delação premiada, Paulo Okamotto é investigado pela operação Lava Jato. Atualmente, ele é presidente do Instituto Lula e, por isso, tem sido chamado a se explicar sobre supostas irregularidades envolvendo a entidade que cuida do legado do ex-presidente.

Absolvido. O braço direito de Lula foi absolvido no processo em que eram investigados os pagamentos da OAS para o ex-presidente por meio do triplex e do armazenamento de bens do acervo do ex-presidente. Como essa segunda parte da denúncia não foi levada em consideração por
Moro, ele acabou escapando de punições.

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.