2018

Verba para 'comer gente'

Bolsonaro é irônico ao responder sobre uso de auxílio-moradia mesmo tendo apartamento em Brasília

Por Da Redação
Publicado em 13 de janeiro de 2018 | 03:00
 
 

Rio e Brasília. Em entrevista à “Folha de S.Paulo”, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), pré-candidato a Presidência da República, defendeu o recebimento de auxílio-moradia da Câmara, mesmo tendo imóvel próprio em Brasília. Questionado se usou o dinheiro do benefício para comprar seu apartamento, ele respondeu: “Como eu estava solteiro naquela época, esse dinheiro de auxílio-moradia eu usava pra comer gente. Tá (sic) satisfeita agora ou não?”.

A repórter respondeu que estava satisfeita por ter uma resposta, então Bolsonaro continuou: “Porque essa é a resposta que você merece. O dinheiro que entra do auxílio-moradia eu dormia em hotel, eu dormia em casa de colega militar em Brasília, o dinheiro foi gasto em alguma coisa. Ou você quer que eu preste continha: ‘olha, recebi R$ 3.000, gastei R$ 2.000 em hotel, vou devolver mil’. Tem cabimento isso?”. A reportagem argumentou que a apresentação de notas dos gasto é regra da Câmara cumprida pela maioria dos parlamentares.

Especialistas ouvidos pelo jornal “O Globo” disseram que as declarações revelam supostos crimes, que poderiam gerar processos civis e penais e, em caso de condenação, poderiam resultar até em suspensão dos direitos políticos de Jair Bolsonaro por até cinco anos.

A entrevista não foi agendada. A reportagem encontrou-se com o presidenciável na porta de sua casa em Angra dos Reis (RJ), na quinta-feira (11), durante apuração sobre uma servidora lotada em seu gabinete e que é vendedora de açaí na cidade fluminense.

Bolsonaro disse que pretende vender a residência de Brasília, suspender o auxílio-moradia e pedir apartamento funcional. “Inclusive, tem mais ou menos 60m2 o meu apartamento, e vou passar para um de 200m2. Espero que pegue com hidromassagem, ok? Eu vou morar numa mansão, não vou pagar segurança, IPTU, condomínio – no meu eu pago. Eu vou ter paz”, disse. Questionada, a assessoria da Câmara disse que não há imóveis com hidromassagem disponíveis.

Na entrevista, Bolsonaro disse ter cometido um “deslize” em 1999, ao afirmar, em entrevista, que sonegava impostos, recomendação que transmitia na época a toda a população. “Sonego tudo o que posso”, disse, à época. Na quinta-feira, à “Folha”, ele negou a prática. “O povo, como um todo, só não sonega o que não pode, e é uma verdade isso daí. Eu, representando o povo, desabafei naquele momento isso. (...) Eu nunca soneguei. ‘Eu mato tudo quanto é bandido que vier pela frente’. Matei algum bandido? Falei: ‘sonego tudo que é possível’. Como posso sonegar, por exemplo, ICMS?”, disse, completando: “Se houve um deslize num palavreado meu, é uma coisa. O que eu estava é reverberando a indignação popular”.

Bolsonaro também negou irregularidades na construção de seu patrimônio. Segundo a “Folha”, o presidenciável e seus três filhos parlamentares multiplicaram os bens na política, reunindo atualmente 13 imóveis com preço de mercado de cerca de R$ 15 milhões. “Peraí, você tem que divulgar é o meu patrimônio. Esquece meus filhos. Se meu filho assaltar um banco agora ou ganhar na Mega Sena, é problema dele, não é meu”.

Novo partido

Liberal. Presidente do PSL – sigla que deve lançar Bolsonaro à Presidência – Luciano Bivar (PE) disse que o parlamentar é um “liberal completo”, inclusive quanto às liberdades individuais.

Verbo solto

“Como eu estava solteiro naquela época (em que comprou apartamento em Brasília), esse dinheiro de auxílio-moradia eu usava pra comer gente. Tá (sic) satisfeita agora ou não?”

“O povo, como um todo, só não sonega o que não pode, e é uma verdade isso daí. Eu, representando o povo, desabafei naquele momento isso (em 1999).”

“Esquece meus filhos. Se meu filho assaltar um banco agora ou ganhar na Mega Sena, é problema dele, não é meu.”

Jair Bolsonaro

deputado federal (PSC-RJ)