Investigação

Viagens de Lulinha na mira da PF 

Filho de ex-presidente esteve com Fernando Bittar no Panamá, também tido como paraíso fiscal

Qui, 31/03/16 - 03h00

Brasília. Um relatório da Polícia Federal (PF) sobre a investigação que tem como alvo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva destaca viagens feitas por familiares do petista ao Panamá. O país é um dos destinos de investigados pela operação Lava Jato pela para a abertura de empresas offshores – usadas para movimentação de propina em contas secretas no exterior.

Em uma das viagens, de novembro de 2014, o filho do ex-presidente Fábio Luis Lula da Silva, o Lulinha, embarcou no mesmo avião de Fernando Bittar – sócio de Lulinha nas empresas G4 Entretenimento e Tecnologia Digital, Gamecorp e BR4 Participações. Bittar também consta como proprietário na escritura do sítio em Atibaia, no interior paulista, que a força-tarefa da operação diz ser, na verdade, de Lula – o que a defesa do petista nega.

Ambos estavam no voo CM 0724, da Copa Airlines, que saiu de São Paulo com destino à Cidade do Panamá, em 1º de novembro de 2014, retornando no dia 7 do mesmo mês no voo CM 0701. Taiguara Rodrigues dos Santos, sobrinho de Lula, também embarcou nos dois trechos.

Taiguara é dono da Exergia Brasil Projetos de Engenharia que, segundo a revista “Veja”, firmou contratos em Angola com a Odebrecht – alvo da Lava Jato. Em 2014, ele viajou três vezes para a Cidade do Panamá, afirma o relatório. Em um dos voos, de novembro daquele ano, além de Taiguara, Lulinha e Bittar, estava presente um funcionário da Exergia.

O levantamento foi feito porque alguns dos alvos da Lava Jato usaram o Panamá para abertura de offshores. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é suspeito de fazer movimentações de propina na Petrobras a partir de uma empresa offshore criada no país.

Outro filho de Lula, Luis Claudio Lula da Silva, também teve suas viagens internacionais analisadas pela PF. Ele é investigado pela operação Zelotes.

“Perseguição”. O delegado Márcio Anselmo, que assina o relatório, ressaltou que “o mero fato de viajarem nos mesmo voos, por si só, não tem condão de estabelecer vinculo entre tais pessoas” e que é necessária “uma análise mais aprofundada, podendo caracterizar mera coincidência”, escreveu.

O Instituto Lula, por sua vez, repudiou, por meio de nota, a divulgação do documento. “Esse relatório, e seu vazamento para a imprensa, é só mais uma amostra do grau de obsessão da operação Lava Jato em perseguir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo sem haver nenhum indício de qualquer crime cometido pelo ex-presidente ou de qualquer relação destas pretensas investigações sobre sua família com os desvios da Petrobras que são a razão de ser da operação”, diz o instituto.

“Não faz nenhum sentido a perda de tempo de funcionários do Estado e de recursos públicos listando viagens ao exterior de familiares do ex-presidente que não exercem cargos públicos nem estão sendo acusados de qualquer crime.”

Moro diz que petista tentou ‘intimidar’

Brasília
. No ofício enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) para explicar porque divulgou os grampos com o ex-presidente Lula, o juiz federal Sérgio Moro cravou que o petista quis “intimidar” e “obstruir” as investigações das quais era alvo.

Para o magistrado, a conduta de Lula pode “configurar crime de obstrução à Justiça” – tipificado na Lei 12.850/13, que define organização criminosa.

Um grampo que Moro transcreve pegou Lula com o ministro Nelson Barbosa, da Fazenda. Nele, o ex-presidente demonstra contrariedade com a ação da Receita no Instituto Lula e na LILS Eventos e Palestras. Aparentemente, ele sugere ao ministro cobrar do Fisco investigações em emissoras de TV e até na fundação de Fernando Henrique Cardoso, do PSDB.

“O ex-presidente contatou o atual ministro da Fazenda buscando que este interferisse nas apurações que a Receita Federal, em auxílio às investigações na operação Lava Jato, realiza em relação ao Instituto Lula e a sua empresa de palestras. A intenção foi percebida, aparentemente, pelo ministro da Fazenda que, além de ser evasivo, não se pronunciou acolhendo a referida solicitação”, destaca Moro.

Para o juiz, “em princípio, não se pode afirmar que o referido diálogo interceptado não teria relevância jurídico-criminal e, se tem, não se pode afirmar que a divulgação afronta o direito à privacidade do ex-presidente”.

Defesa critica Janot por ‘casuísmo’

Brasília
. A defesa de Lula afirmou que a Procuradoria Geral da República (PGR) age com casuísmo ao defender que investigações sobre o petista na Lava Jato continuem com Sérgio Moro.

Em manifestação ao STF, os advogados dizem que o entendimento jurídico defendido pelo procurador Rodrigo Janot de deixar as apurações sobre Lula até a sua nomeação para a Casa Civil com Moro não encontra respaldo na Constituição. “A verdade é que o parecer do procurador não possui qualquer lastro na Constituição. Nada justifica o casuísmo (forma excepcional) com que o procurador pretende tratar o caso”, diz o texto.

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