Atritos

Zema recua de críticas a gestões passadas após reação do PSDB

Membros da maior legenda da base aliada querem reunião com o governador para esclarecimentos

Ter, 16/04/19 - 03h00
Governador já fez o teste e o resultado deve sair nas próximas horas | Foto: Gil Leonardi/Imprensa MG

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Após correr o risco de perder o apoio dos deputados do PSDB na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), o governador Romeu Zema (Novo) recuou, na noite desta segunda-feira, 15, de declaração dada no último sábado. Na ocasião, ele atribuiu aos governos anteriores – nos quais incluiu os 12 anos da gestão dos tucanos e aliados – uma “maquiagem” nas contas do Estado. O chefe do Executivo admitiu que o uso da expressão foi “impróprio”. O fato levou o líder do bloco governista na Casa, Gustavo Valadares (PSDB), a pedir uma retratação e revoltou parlamentares tucanos, que, ontem, “apostavam” quando seria a debandada. 


A crítica às gestões anteriores foi feita em entrevista à revista “IstoÉ Dinheiro”, quando questionado sobre os passivos herdados e sobre um possível fracasso da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Ontem, por meio de nota, Zema disse que tem a consciência de que a prática de registrar pagamentos de aposentados fora da conta de pessoal era permitida pela interpretação vigente, nos mandatos anteriores, nas normas da LRF. “Logo, a conduta era legal à época. Foi imprópria a expressão de ‘maquiagem’ constante na matéria”, declarou.

Ainda segundo o governador, o ponto de vista exposto por ele foi que essa interpretação “impediu constatar, ao tempo, que a despesa de pessoal, na realidade, estava comprometendo mais a receita do que aparecia nas prestações de contas, prejudicando o conhecimento da gravidade da evolução das finanças estaduais”. Na tentativa de restabelecer o diálogo com o PSDB, Zema afirmou que o objetivo é unir Minas e resolver os problemas do Estado: “Para tanto, deixaremos o passado para trás em favor de um futuro melhor com união e diálogo”.

Fúria

Independentemente do recuo do governador, nos bastidores, políticos do PSDB esperam que o chefe do Executivo se reúna com o grupo para prestar esclarecimentos e dizer, de uma vez por todas, se pretende tratar os tucanos como aliados ou inimigos. Entre os 21 deputados que fazem parte da base aliada, sete são do PSDB do deputado Aécio Neves e do senador Antonio Anastasia, um é do PP e outro é do PPS, para o qual migrou o ex-governador Alberto Pinto Coelho no ano passado.

A dificuldade de perdoar por parte dos tucanos se dá pelo modo como eles afirmam que estão sendo tratados por Zema. “É como se fôssemos a encarnação do mal. Cada vez que ele dá uma entrevista é um problema, porque ele não sabe se expressar. É difícil ficar na base enquanto o governador coloca responsabilidade nas costas da Assembleia, acaba com projetos importantes como a escola de tempo integral, e, quando nos recebe, é com cronômetro”, desabafou um parlamentar tucano. 

Esse problema na interlocução foi escancarado por Gustavo Valadares que, no último mês, havia dito que, se o governador não mudasse a postura, a reforma administrativa não seria aprovada na ALMG e, no último sábado, usou o Twitter para comentar a fala de Zema. “Espero que rapidamente mais esse ato demagógico e mentiroso seja desmentido. Não se trata de um fato verdadeiro e não é assim que tratamos aliados”, escreveu o tucano.

Afastamento

Interlocutores revelaram que o deputado federal Paulo Abi-Ackel, que deve assumir o comando do PSDB de Minas no próximo mês, estuda afastar a sigla de Romeu Zema “antes que situação piore”. Sobre isso, o tucano disse que há uma inclinação de quadros do partido para que ele seja presidente e que, se isso for confirmado, vai consultar os membros e segmentos da agremiação para verificar a questão. 

Atual presidenteda legenda, Domingos Sávio afirma que essa é uma oportunidade para que o governador deixe claro o que quer com o PSDB: “Se ele pretende ter uma relação de parceria e de respeito, ótimo. Agora, se ele entender que o PSDB deve ser uma página virada e um grupo político que tem uma linha adversária à dele, temos o dever de nos comportar como tal. Não vamos ficar nos oferecendo para quem não queira nos valorizar”, disse. 

Reforma administrativa

Antes de enfrentar o novo desgaste com aliados, o governador Romeu Zema (Novo) já não conseguia manter um diálogo com os deputados de outros blocos, em especial os dois independentes. Por isso, a expectativa dos parlamentares é que o projeto de reforma administrativa seja aprovado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) com diversas alterações. 

A expectativa dos deputados é que, na próxima semana, o presidente da Casa, Agostinho Patrus (PV), indique João Magalhães (MDB) como relator da proposta e, assim, sejam feitas a discussão e a votação da proposição, que hoje tranca a pauta do Legislativo. 

Cássio Soares (PSD), que é líder do bloco independente Liberdade e Progresso, afirma que o grupo pretende votar o texto o quanto antes. Ele ressalta que os deputados têm a intenção de apresentar outras sugestões para que o corte de gastos seja maior: “O que veio do governo é uma economia pequena diante daquilo que foi pregado”.

Os membros do bloco independente Minas Tem História também apresentaram várias sugestões à proposição. “Isso foi feito com o objetivo de colaborar com a reforma e fazer uma economia mais significativa do que previsto no texto original”, explicou Sávio Souza Cruz (MDB), líder do grupo. Entre as emendas protocoladas estão a de que cargos comissionados nas “secretarias-meio”, como a de Fazenda e a de Planejamento e Gestão, sejam ocupados por servidores concursados. Em outras pastas do Estado, é sugerido que esse índice seja de 50%.

A avaliação do líder do bloco de oposição, André Quintão (PT), é de que a tramitação da reforma hoje depende mais do governo do que da oposição e, por isso, é importante que o Executivo faça um esforço de negociação para que a Assembleia possa já fazer a apreciação em plenário. “O termômetro para a votação da reforma será o nível de diálogo e de acolhimento das nossas propostas”, disse. Entre elas, estão a de que a Escola de Saúde Pública não seja extinta.

 

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