Comportamento

É saudável compartilhar objetos pessoais? Entenda

Especialistas falam sobre o hábito de dividir escova de dente, talheres ou peças íntimas

Por Da Redação
Publicado em 15 de agosto de 2023 | 07:11
 
 
Compartilhar objetos de uso pessoal como escovas de dentes não é um hábito muito comum Foto: Freepik / Divulgacao

A servente de pedreiro Fatilene Alves da Silva, 50, e o marido dela, Célio Ribeiro da Silva, 54, estão juntos há oito anos. Nesse tempo, já compartilharam inúmeras coisas sem medo de comprometer a intimidade ou a saúde do casal. Porém, quando o assunto é dividir objetos pessoais com indivíduos de fora do relacionamento, eles mudam radicalmente de opinião. “Nunca usamos a escova de dentes um do outro, mas usaríamos, sem problemas, caso fosse necessário. Agora, se outra pessoa usar a minha escova ou qualquer outro objeto pessoal, eu jogo fora na hora, morro de nojo”, alega a mulher.  
 
O mesmo, segundo ela, valeria para peças íntimas femininas. “Prefiro ficar sem a usar a calcinha de outra pessoa. É muito anti-higiênico, pode passar doença, né?”, indaga. Para especialistas, o compartilhamento de objetos pessoais pode sim ser uma forma de transmitir doenças. “Ao usar a escova de dentes de outra pessoa, por exemplo, você pode pegar uma série de bactérias e germes que podem desencadear doenças, como o popular ‘sapinho’, que é a candidíase bucal, um fungo. Pode pegar a herpes labial, que é um vírus, a mononucleose infecciosa (vírus Epstein-Barr), ou infecções de garganta, gripes, resfriados, Covid-19, sarampo etc. Há estudos que mencionam ainda a transmissão da bactéria H. Pylori, que provoca úlcera e gastrite”, afirma o consultor em microbiologia Roberto Figueiredo, conhecido como Doutor Bactéria.  
 
Na casa da Daniela de Lima Costa, 31, o compartilhamento também é só entre os íntimos. Para ela, o contrário é anti-higiênico. “Na minha casa, quando necessário, até compartilho o talher com meu marido ou filhos, mas só. Roupas íntimas, desodorante roll-on e outros itens de contato pele a pele com estranhos, de forma alguma”, garante.  O alerta para os perigos do uso compartilhado de objetos também é dado pelo infectologista Guenael Freire.
 
Segundo ele, a prática pode ocasionar doenças graves. “Em alguns casos, o uso compartilhado de alguns objetos, como alicates de unha e aparelhos de barbear, por exemplo, pode transmitir hepatites e ISTs, então o seguro é fazer o uso pessoal”, recomenda.  
 
Apesar dos riscos, o especialista ressalta que bactérias presentes em nosso organismo atuam justamente como protetoras da nossa saúde. “Estamos expostos a centenas de milhares de bactérias o tempo todo, inclusive bactérias patogênicas, mas isso não significa que vamos adoecer todas as vezes que tivermos contato com elas, porque nós também temos bactérias que fazem parte da nossa flora”, afirma. 
 

Cuidados e prevenção.

Um dos principais ensinamentos deixados pela pandemia de Covid-19 para o motorista Willian Rocha dos Santos, 39, foi o risco da transmissão do vírus por falta de higiene. “Não ofereço, nem aceito usar nada pessoal de outra pessoa. Acabamos de sair de uma pandemia que nos mostrou que precisamos excluir alguns hábitos e adotar outros, como lavar as mãos e não usar objetos pessoais que não sejam nossos”, ressalta. 
 
Em algumas situações, segundo o infectologista Guenael Freire, o compartilhamento não oferece riscos, desde que os objetos sejam devidamente limpados antes de serem usados. “Qualquer tipo de roupa, íntimas, de cama, banho, quando lavadas, não oferecem riscos à saúde. Já uma escova de dentes usada, por exemplo, pode transmitir até hepatites, então o uso deve ser só pessoal. No caso de talheres e afins, basta lavar com água e sabão”, garante. 
 

Maus odores

Para além dos riscos de contrair ou transmitir doenças, há quem tema usar objetos pessoais de outras pessoas e “pegar” cheiros desagradáveis como sudorese, halitose e bromidrose plantar, os temidos cecê, bafo e chulé, respectivamente. Os desconfortos, entretanto, são provocados por características individuais e, por isso, não são transmissíveis.  
 
“Cecê, bafo e chulé não se transmitem. Eles ocorrem em função das características de cada pessoa. Se alguém tem mais sudorese é por possuir uma população bacteriana diferente, um macrobioma específico, como é em cada pessoa”, afirma o Doutor Bactéria.