História

Memórias de amor e de Copa

Elza Soares conta suas lembranças sobre o bicampeonato brasileiro na Copa de 1962 e o herói do torneio, Mané Garrincha

Julio Rezende| @superfc
24/06/18 - 03h00

Cinquenta e seis anos atrás o Brasil conquistava o bicampeonato mundial. Era a Copa do Mundo de 1962, conhecida como a Copa do Garrincha. Escolhido como o craque do torneio, o ponta-direita de dribles desconcertantes, gols e assistências encantou o Chile. Sua genialidade foi eternizada em livros, enciclopédias e almanaques de futebol, mas a história do homem Manoel Francisco dos Santos, ou simplesmente Mané Garrincha, poucos conhecem como a cantora Elza Soares, com quem foi casado.

Convidada por um empresário para ir à Copa do Chile como madrinha da seleção brasileira, Elza acompanhou de perto o torneio e foi presenteada por Garrincha, que lhe dedicou a conquista. “Com bastante alegria e respeito, essa Copa me foi dada de presente por ele, uma Copa linda”, lembra a cantora, em entrevista ao SUPER FC.

Apesar de Garrincha ser lembrado como um dos maiores nomes da história do futebol, Elza Soares considera que o craque da Copa de 62 ainda não foi reconhecido à altura do que representou. “O Brasil não deu o reconhecimento ao Mané que ele precisava, mas eu sempre lutei por isso”, diz. “Ele estava completamente fora desse mundo, eu vivi a vida toda trabalhando para que esse nome fosse respeitado, gritando Garrincha, Garrincha, Garrincha!”, completa.

Segundo ela, foi com o lançamento em 1995 do livro “Estrela Solitária: Um Brasileiro Chamado Garrincha”, do escritor e jornalista Ruy Castro, que “começou um bocadinho de respeito por ele”. A obra narra a história do craque brasileiro e fala sobre o relacionamento entre a cantora e o ponta-direita que foi mal recebido pela sociedade pelo fato de Garrincha ter se divorciado da esposa.

Garrincha morreu em 1983 antes de completar 50 anos em decorrência do alcoolismo, quando os dois já estavam separados. Elza Soares ainda se recorda com carinho do ex-marido e de como ele se preocupava com o povo brasileiro. “Eu acho que, se ele estivesse vivo, estaria muito triste também, vendo a situação do Brasil, que ninguém fala na saúde, ninguém fala na educação, ninguém fala no respeito, ninguém fala em nada”, metralha.

“Talvez ele ficasse meio passado com esses salários tão altos dos jogadores. Eles merecem, trabalham, não têm culpa, mas acho que o Brasil tinha de lutar mais pela educação, pela saúde que não temos. O país está assim tão abandonado”, acrescentou a cantora.

Mas quem foi Mané Garrincha para Elza Soares? Em poucas palavras, ela define o “anjo das pernas tortas”: “O Mané foi para mim um homem, um menino, um passarinho, um grande jogador de futebol, uma grande inocência, entendeu? Ele fazia parte desse povo brasileiro”, conclui a cantora.

“Ele sabia que era o astro”, afirma cantora

Na ausência de Pelé, que se machucou na segunda partida, Garrincha assumiu o protagonismo e foi determinante na conquista da Copa de 1962. Nem mesmo uma incômoda febre o impediu de entrar em campo e ajudar seus companheiros a derrotar a Tchecoslováquia, por 3 a 1.

“No último jogo ele estava com 38º de febre”, recorda-se Elza Soares, que acompanhou de perto a atuação memorável de Garrincha. “Fui madrinha da seleção e vi o quanto ele fez para nos dar aquela vitória”, relata.

Elza conta que Garrincha tinha plena consciência de sua importância para a seleção brasileira, depois que Pelé se machucou. “Ele sabia que era o cara, o astro da Copa. São 11 jogadores, claro, mas tem que ter alguém na frente”, diz. Garrincha tornou-se bicampeão mundial, pois participou também da conquista do Mundial de 1958.

O ponta-direita ainda disputaria a Copa de 1966, mas o Brasil foi eliminado na primeira fase. Ao todo, foram 12 jogos em Copas e cinco gols marcados.

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