Preferência do povão

Sucesso da seleção feminina escanteia ainda mais o time de Tite

Enquanto mulheres possuem apoio quase que irrestrito, homens patinam em apresentações ruins e vaias que se alastram durante disputa da Copa América

Duas seleções e diferenças evidentes entre o comportamento delas | Foto: Montagem Super FC/CBF
Josias Pereira | @superfcoficial
19/06/19 - 14h57

Pela primeira vez na história é possível mensurar a popularidade do futebol feminino em relação ao masculino, tendo como direcionamento a seleção brasileira. Com os dois times disputando torneios internacionais, é perceptível também a relação de amor e ódio desenvolvida pelo povo em relação ao time verde a amarelo. Se por um lado, as mulheres brasileiras recebem o apoio quase que irrestrito do povão na Copa do Mundo feminina, os comandados de Tite patinam na Copa América e ganham a aversão do torcedor, inclusive com vaias que se sucederam nas partidas diante de Bolívia e Venezuela. 

Sem entender as vaias

Uma pressão que os jogadores brasileiros não conseguem compreender o motivo, como Thiago Silva voltou a salientar após a partida dessa terça-feira, diante dos venezuelanos. 

“Não (foram justas as vaias), ao meu modo de ver. Principalmente porque a Venezuela pouco criou. Toda a segunda bola era nossa, sempre recuperávamos e atacávamos de novo, mas dificilmente dava para acelerar o jogo. Às vezes nos precipitamos e perdemos a confiança com o erro. Mas a equipe se comportou bem, quando não faz o gol parece tudo errado”, rebateu Thiago Silva. 

Uma seleção que cruzou 37 vezes para a área e em 19 finalizações só concluiu uma certa diante da Venezuela, que vem experimentando um crescimento em seu futebol, com vários jogadores atuando na Europa, mas que ainda não se apresenta como rival de peso para a tradição brasileira. 

Declarações como a do goleiro Alisson acabam por trazer ainda mais repulsa. "Quando jogam contra a gente, todos se preocupam muito mais em defender do que atacar. A Venezuela buscou muito mais jogar contra a seleção peruana, se expôs mais e deu chance. Hoje, fez um trabalho defensivo muito bom. A gente criou. O fato de o goleiro não ter feito defesas não fala sobre as oportunidades que criamos. Pecamos nas finalizações e no último passe", disse o jogador ao tentar explicar o empate. 

A teimosia

Sem contar o próprio técnico Tite, que defende suas convicções de atletas, como a inclusão surpreendente de Fernandinho na segunda etapa do jogo contra a Venezuela, sacando Casemiro, quando o estádio gritava o nome de Everton. Até Galvão Bueno, narrador da Rede Globo e voz da seleção por anos, perdeu a fala. 

"Se isso pesasse eu não o colocaria. O atleta tem de trabalhar na pressão, todos eles têm. É o jogador que foi considerado da seleção da Premier League. Eu não posso ficar preconcetuando (sic). Temos de ter esse discernimento", disse Tite após o jogo, explicando Fernandinho na partida.

O apoio às mulheres 

Quando uma emissora como a Rede Globo volta sua programação a um produto como o futebol feminino, a repercussão é imediata em todo o Brasil. A força da televisão aberta que conduz também outros públicos, os mais afastados das redes sociais principalmente, a debates sobre o que é visto no país. E o sucesso de Marta e cia. vem sendo palpável. 

De acordo com números de audiência, a vitória da seleção feminina sobre a Itália por 1 a 0, também nessa terça-feira, no período da tarde, que garantiu o Brasil nas oitavas de final do Mundial, registrou um aumento de quase 50% na audiência da TV Globo. Foram 22 pontos no Ibope em São Paulo, sete a mais do que nas últimas quatro terça-feiras no mesmo horário (a partida foi realizada à tarde). 

É notório que o interesse pela seleção feminina vem se estabelecendo de maneira considerável por vários fatores, como o descrédito do time masculino, a história de vida das mulheres brasileiras que estão na França disputando a Copa, o peso de uma craque chamada Marta, o fator superação após nove derrotas seguidas antes de a disputa começar em solo europeu e também um outro fator que o brasileiro valoriza: a vitória. Componentes que reunidos não se encontram na seleção descarecterizada de Tite.  

Ponto de convergência 

A ver pela compreensão pública, o único ponto de convergência entre as duas seleções são os técnicos. Vadão e Tite são os pivôs de questionamentos relacionados ao desempenho dos dois times. 

Audiência ainda mostra interesse na seleção masculina

O jogo dessa terça-feira entre Brasil e Venezuela foi o de maior audiência da Globo na Copa América desde 2011. O Ibope registrou 36 pontos em São Paulo e 35 no Rio de Janeiro. O brasileiro, nem que seja para criticar, ainda quer ver a seleção. A dificuldade é saber em qual momento a seleção masculina conseguirá essa virada na percepção da população. A cada dia, Tite e suas ideias sofrem mais críticas e Neymar, o expoente dessa geração, é outro que gera amor e ódio. Com dois jogos de Copa América, a análise sobre o fraco desempenho do time gera debates sobre a sua necessidade mais do que oportuna para a capacidade criativa do time. 

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