Entrevista

Cria do Cruzeiro, zagueiro precisou do SUS e hoje busca sucesso na Itália

Matheus Vieira sofreu uma grave lesão quando estava sem contrato, mas afirma que nunca pensou em desistir

Por Gabriel Moraes
Publicado em 25 de abril de 2024 | 12:07
 
 
Nascido em Santos, jogador começou a carreira em times da Baixada Santista Foto: Nicholas Rapari/Sangiustese

O glamour ligado aos jogadores de futebol é para a minoria, enquanto, para a maioria deles, a carreira esportiva anda junto de dificuldades em busca do sucesso. É o caso do zagueiro revelado pelo Cruzeiro Matheus Vieira, que, aos 22 anos, já teve uma lesão que interrompeu momentaneamente a sua trajetória nos gramados e hoje em dia busca se destacar atuando na 5ª divisão italiana.

Início da carreira

Nascido em Santos, no litoral de São Paulo, Matheus começou a jogar futebol em clubes da Baixada Santista, como o Jabaquara e a Portuguesa Santista, até ir para o São Paulo, em 2018, onde atuou ao lado de jogadores como Beraldo, hoje no PSG. Em abril de 2021, no pior momento da história do Cruzeiro, chegou à Toca da Raposa para atuar pelo sub-20.

Em setembro de 2021, com uma indisposição de Joseph, foi relacionado pelo então técnico Vanderlei Luxemburgo para o jogo contra o Goiás, pelo Brasileirão Série B. "A minha passagem pelo Cruzeiro foi uma experiência enorme para mim, tanto na base quanto no profissional, pois eu também treinava com eles", contou ao O TEMPO Sports.

Saída e dificuldades

Sem idade para ficar nas categorias de base e sem ser aproveitado no time profissional, saiu do Cruzeiro. Depois, se transferiu para o Moto Club, do Maranhão, onde realizou os seus primeiros jogos e marcou o seu primeiro gol como profissional. Em dezembro de 2022, estava acertado com o São Caetano, clube que já foi destaque no país, mas hoje está em crise – e é aí que os problemas começaram.

Matheus Vieira disputaria o Campeonato Paulista Série A2 em 2023, mas começou a treinar em dezembro anterior, antes de assinar o seu contrato. Durante uma atividade, teve uma grave lesão no joelho, que o impossibilitou de jogar. Sem auxílio do clube paulista, o qual ele ainda não tinha vínculo empregatício, precisou se tratar através do Sistema Único de Saúde (SUS).

"Quando passei por aquele momento, pensava mil coisas, mas nenhuma delas foi desistir daquilo que eu queria, né? Que era voltar a jogar, ter disposição e poder continuar a minha carreira. Passaram muitas coisas pela minha cabeça, achando que não ia conseguir voltar daquele jeito que eu estava antes, com 100%, sem receio de nada. Mas futebol tem disso: acontece o improvável, e infelizmente aconteceu naquele momento", comentou.

Ida para a Europa

No segundo semestre de 2023, resolveu se mudar para a Itália com a família de sua esposa e seu filho, de 1 ano. Como o menino era menor de idade, Matheus conseguiu o permisso, documento que o possibilita acompanhar o filho no país europeu mesmo sem ter cidadania.

Após resolver os demais trâmites burocráticos profissionais, se filiou ao Sangiustese VP, da Eccellenza (5ª divisão nacional), onde é o único estrangeiro – ele já fez mais de 10 partidas, sendo a maior parte como titular. Como o clube está situado em Morrovalle, enquanto ele mora em Fano, o defensor precisa encarar uma viagem de 2h30 de ônibus para treinar.

"Meu principal objetivo aqui é continuar evoluindo, pegando ritmo e cada vez mais me adaptando ao futebol italiano. E poder conquistar grandes coisas aqui na Itália, podendo chegar numa série A, que é o meu objetivo principal, ou numa série B", falou.

Volta ao Brasil

Segundo Matheus, que tem 1,89 metro de altura, seu desejo é permanecer no Velho Continente, pelo menos por enquanto. "No momento, o meu pensamento é só ficar aqui na Itália ou na Europa, não tenho esse desejo de retornar ao Brasil ainda, tanto pela minha vida profissional, quanto pela pessoal", explanou à reportagem.

"Mas quem sabe um dia eu ainda retorne ao Brasil e possa ser um pouco mais reconhecido lá também. Acho que é o desejo de todo moleque que começou na base. Para o profissional, é sempre importante ter o reconhecimento no país de origem", concluiu Matheus Vieira.