Entrevista

Cruzeiro: ‘O Sérgio é uma grande vítima, temos que apoiá-lo’, diz Alvimar

Ex-presidente da Raposa falou com exclusividade ao Super.FC sobre a atual gestão do clube, a proposta da Sociedade Anônima do Futebol e a crise no futebol celeste: ‘O elenco é fraco’

Por Dimara Oliveira
Publicado em 01 de agosto de 2021 | 17:20
 
 
Alvimar foi presidente do Cruzeiro entre 2003 e 2008 Alexandre Guzanshe/O Tempo 02/02/2009

Em entrevista exclusiva ao Super.FC, o conselheiro benemérito e ex-presidente do Cruzeiro no período de 2003 a 2008, Alvimar de Oliveira Costa, falou sobre a delicada situação que a Raposa atravessa dentro e fora dos campos. Na zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro da Série B, o time celeste, que está sem treinador após o pedido de demissão de Mozart, não vence há nove jogos e a pressão por bons resultados só aumenta. A figura de Sérgio Santos Rodrigues, atual mandatário do clube, vem sendo bastante questionada pela torcida. No entanto, segundo Alvimar, Sérgio é vítima da irresponsabilidade das gestões de Gilvan de Pinho Tavares (2012-2017) e Wagner Pires (2018-2019).

“A pura realidade é que ele é uma grande vítima. Ele assumiu o Cruzeiro sabendo da condição financeira, mas não sabia que teria uma pandemia pela frente, que também atrapalhou as finanças não só do Cruzeiro, mas de todos os clubes do país. Gosto de ressaltar que o Dr. Gilvan foi muito infeliz e o Wagner acabou jogando a pá de cal. O Sérgio agora está sendo o grande sacrificado, mas temos que ter paciência com ele. Vejo no Sérgio um jovem muito corajoso, que está abdicando da família, da profissão de advogado e dedicando o tempo todo ao Cruzeiro numa situação tão difícil. Temos que apoiá-lo”, comenta o ex-dirigente.

Ao analisar a atual situação do Cruzeiro tanto dentro quanto fora das quatro linhas, Alvimar de Oliveira Costa diz sentir um misto de tristeza e revolta ao ver a instituição viver um verdadeiro calvário no ano de seu centenário, resultado, segundo o ex-presidente, da irresponsabilidade das gestões passadas. “A situação é crítica, não poderia ser pior. Mas eu sou otimista, acredito que o momento pode ser revertido”, comenta. O alegado otimismo, porém, não chega a fazer com que o ex-dirigente acredite em um acesso à primeira divisão do futebol nacional.

“Não acredito no acesso, o elenco é fraco. Tem até bons jogadores, inclusive alguns da minha época, como o Fábio, que é um grande goleiro, mas o momento é muito ruim. Acredito na permanência na Série B, mas não podemos descartar a possibilidade, mesmo remota, de acesso”, pontua Alvimar.

Sociedade Anônima do Futebol

Alvimar de Oliveira Costa também ponderou sobre a possibilidade de o Cruzeiro se transformar em clube-empresa. O projeto da Sociedade Anônima do Futebol já foi aprovado no Congresso Nacional e agora aguarda a sanção do presidente Jair Bolsonaro, que já sinalizou que irá dar sinal verde. Na próxima terça-feira (3), uma reunião do Conselho Deliberativo do clube celeste decidirá os rumos da Raposa no que diz respeito à SAF. Para Alvimar, o caminho para a recuperação do clube passa pela transição ao modelo.

“Será um dia muito importante, um marco na nossa história. Espero que seja aprovada, a SAF é uma solução de imediato, que pode ser resolvida na terça, mas toda mudança também requer um tempo de maturação, de confiabilidade por parte do investidor, que a gente espera que venha valorizar realmente o Cruzeiro e fazer com que ele volte a ser aquilo que sempre foi: forte, temido e uma referência como instituição, como conquistador de títulos. O Conselho agora tem essa oportunidade de se redimir dos erros passados, das escolhas erradas, e eu me incluo nisso”, ressalta o ex-presidente do Cruzeiro, em alusão ao apoio da família Perrella aos nomes de Gilvan e Wagner nas duas últimas eleições.

“Temos uma oportunidade de tirar o Cruzeiro desse déficit bilionário e fazer com que o clube seja viável. Como associação de práticas desportivas sem fins lucrativos, o Cruzeiro viveu 92 anos com muito sucesso, mas, infelizmente, de oito anos pra cá virou o que todo mundo está vendo. A gente sabe do tempo de maturação da SAF, que pode ser um período longo, mas não vejo outro caminho. O Cruzeiro tem recuperação, mas o torcedor tem que ter consciência que isso pode demorar. Espero que seja rápido, mas a tendência é que demore. Temos que unir o Conselho, que está um tanto quanto rachado, e darmos as mãos para que o Cruzeiro saia dessa situação”, completa Alvimar.

Retorno ao Cruzeiro

Questionado sobre sua atuação na vida política da Raposa, Alvimar de Oliveira Costa afasta a possibilidade de voltar a ocupar qualquer cargo executivo no clube celeste, mas, como conselheiro, diz estar aberto ao diálogo com o presidente Sérgio Santos Rodrigues. Sobre uma possível futura participação de seu irmão e também ex-presidente Zezé Perrella nas decisões do clube, Alvimar também indica que isso não acontecerá: “Larguei a presidência em 2008 e não participei de forma alguma de nenhum cargo executivo. Responder pelo Zezé é difícil, mas todas as vezes que falamos sobre o assunto ele disse não ter nenhuma pretensão de voltar. Acho que ele foi injustiçado na gestão do Wagner. Ele tentou dar outro rumo ao Cruzeiro, mas os problemas eram enormes e aconteceu o rebaixamento. Estou à disposição não só do Sérgio, mas de outros presidentes que virão. Quero ser uma voz que pode ajudar nosso clube”.