Comparações

Diferenças e semelhanças (além das óbvias) do 6 a 1 e a queda do Cruzeiro

O repórter Thiago Nogueira esteve na cobertura das duas partidas e compara os jogos mais dramáticos da história cruzeirense

Por Thiago Nogueira*
Publicado em 11 de dezembro de 2019 | 07:00
 
 
Em 2011, a confiança na Arena do Jacaré; em 2019, o desespero no Mineirão ALISSON GONTIJO / O TEMPO 04/12/2011 e Uarlen Valerio / O Tempo

Perguntei a um cruzeirense apaixonado, presente no fatídico jogo da Arena do Jacaré, em 2011, se ele iria ao Mineirão, contra o Palmeiras, no último domingo. "Lógico que não. Aquele tinha tinha raça, este não".

Em 2019, o Cruzeiro caiu. Há oito ano, não. Naquela histórica tarde em Sete Lagoas, a equipe celeste só dependia de si para escapar do rebaixamento. Precisava vencer o rival - aliviado por ter escapado da queda uma semana antes - e goleou sem piedade: 6 a 1. Este ano, no Mineirão, a missão era mais difícil. Além de vencer um oponente de qualidade técnica, tinha que torcer para uma derrota do Ceará, no Rio, para o Botafogo. Nem o resultado daqui nem o de lá o favoreceu e, por isso, o quase centenário clube vai amarga a Segunda Divisão pela primeira vez.

Antes dos dois jogos mais dramáticos da história do Cruzeiro, temia-se pela reação do torcedor, tanto que ambos foram disputados por torcida única. A raiva e a insanidade dos torcedores do Cruzeiro nunca tinham chegado a seu ápice. Para se deslocar à região Central do Estado, a torcida pegou 70 km de estrada e chegou com a confiança apurada. "Nóis trupica, mas não cai", exibia um dos vários cartazes no estádio, que recebeu 18.500 pessoas.

Maior, o Mineirão teve mais gente no último domingo: 27.229 presentes que, tal como aconteceu na Arena do Jacaré, rezaram um Pai Nosso antes de a bola rolar, episódios que não há precedentes no futebol brasileiro contemporâneo.

Em 2011, até então o ano em que o time mais beirou a queda, a Raposa só ficou quatro rodadas dentro do Z-4. Em 2019 foram 19, um turno inteiro. O Cruzeiro do início da década tinha Naldo, Victorino, Diego Renan, Fabrício, Leandro Guerreiro, Charles, Roger, Ortigoza, Farías, Anselmo Ramon, Everton e Wellington Paulista.

Suspenso nos 6 a 1, o goleiro Fábio deixou a meta às mãos do jovem Rafael. O argentino Montillo, craque do time, e Marquinhos Paraná, também estavam suspensos pelo terceiro amarelo. Em 2019, por coincidência, o Cruzeiro não pode contar com três suspensos na última rodada por advertências na partida anterior: Egídio, Edilson e Ariel Cabral. Além desses, Robinho e Dedé, machucados, e o "dissidente" Thiago Neves, não tinha condições de jogo. Fred, Henrique, David, Pedro Rocha, Fabrício Bruno, Marquinhos Gabriel, Rodriguinho, Sassá, Cacá, Éderson, Maurício são os demais nomes do elenco. O zagueiro Léo é único a participar das duas mais comoventes partidas da vida cruzeirense.

Pressionado há oito ano, o time, então comandado por Vagner Mancini, passou um mês em Atibaia, no interior de São Paulo, em busca de tranquilidade. Era o quarto treinador da temporada, a mesma quantidade de comandantes que a Raposa teve em 2019. Neste ano, o "isolamento" na retal final foi de uma semana por causa de compromissos no Rio (Vasco) e em Porto Alegre (Grêmio).

Politicamente, Gilvan de Pinho Tavares acabara de ser eleito presidente em 2011, sucedendo Zezé Perrella, mandatário que deixava o clube após 17 anos no comando. Aquele que um dia prometeu não voltar, reassumiu o clube como gestor em meio a uma crise administrativa, já sob graves denúncias e implicações policiais. Em seu segundo ano de mandato, Wagner Pires de Sá leva o selo de presidente do rebaixamento.

*O repórter participou da cobertura dos dois jogos.