Denúncia

PF investiga possível desvio de dinheiro no jurídico do Cruzeiro

O diretor jurídico do clube, Fabiano Oliveira Costa, e o advogado e conselheiro da Raposa, Ildeu da Cunha Pereira Sobrinho, são os principais suspeitos

Por Da Redação
Publicado em 13 de outubro de 2019 | 13:21
 
 
A pichação foi prontamente coberta por duas faixas de tinta azul Alex de Jesus/O Tempo

Em meio à crise que o Cruzeiro vive dentro das quatro linhas, mais uma bomba cai nos bastidores. O programa “Esporte Espetacular”, exibido pela Rede Globo na manhã deste domingo (13), trouxe uma denúncia de que o diretor jurídico do clube, Fabiano Oliveira Costa, e o advogado e conselheiro da Raposa Ildeu da Cunha Pereira Sobrinho e que foi superintendente jurídico do Cruzeiro na década passada, estão sendo investigados por desvios de recursos.

De acordo com a reportagem, as suspeitas foram levantadas durante as Operações Capitu e Escobar, que chegaram a prender Ildeu da Cunha por envolvimento em esquema de vazamentos de operações da Polícia Federal. Os relatórios foram enviados ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), em julho deste ano, e correm em sigilo.

Conforme apontam as investigações da Polícia Federal Ildeu “utilizava mecanismos de ocultação” para repassar valores recebidos pelo Cruzeiro a “beneficiários”. Um dos agraciados seria justamente o advogado Fabiano de Oliveira Costa, que já foi vice jurídico do clube e, atualmente, exerce a função de diretor jurídico na administração do clube celeste.

A reportagem do “Esporte Espetacular” diz que em arquivos apreendidos no computador de Ildeu, o nome de Fabiano aparece na contabilidade do escritório do ex-superintendente como beneficiário de transações que ultrapassam R$ 300 mil no período de um ano. Segundo a Polícia Federal, o esquema aconteceria da seguinte forma: Ildeu emitia notas ficais ao Cruzeiro por serviços de advocacia. Quando o clube o pagava, parte do valor voltava para Fabiano. Como indicam os diálogos interceptados pela Polícia Federal, com autorização judicial.

Procurado pela reportagem da Rede Globo, o advogado Fabiano repetiu a explicação dada em depoimento prestado à Polícia Federal. Ele diz que só recebeu um depósito da mulher de Ildeu, no valor de R$ 60 mil, referente a parte de um empréstimo feito pelo próprio diretor jurídico do Cruzeiro ao advogado. “A Polícia Federal não identificou pagamentos da esposa do Ildeu na minha conta, simplesmente porque estes pagamentos não existem. Recebi apenas um depósito de R$60.000,00 em novembro/2018, como parte de pagamento de um empréstimo que fiz a ele 6 meses antes, de R$109.000, de um antigo recurso meu de previdência privada e devidamente declarado à Receita Federal”, explicou Fabiano.

Fabiano nega ainda que tenha desviado recursos do clube e alega não poder comentar a contabilidade do escritório de Ildeu, por não fazer parte da empresa.  “Como nem a negociação para pagamento da dívida e nem a contratação do advogado não foram feitas pelo departamento jurídico, não posso lhe responder por essas razões. O departamento jurídico apenas confeccionou um contrato de cláusulas que já estavam previamente negociadas pela diretoria do clube. Nossa participação se limita a confeccionar os contratos, e não negociá-los”, completou.

O presidente Wagner Pires de Sá explicou, em depoimento à Polícia Federal, que o contrato de Ildeu seria uma comissão por serviços prestados. O clube afirmou em nota que “não houve nenhuma simulação. O serviço foi, sem dúvida, prestado e que foi proporcional ao resultado do trabalho e a altíssima quantia envolvida”. Já o advogado Ildeu não quis conversar com a reportagem do programa “Esporte Espetacular”.  

A reportagem do Super.FC tentou contato com o Cruzeiro, por meio do seu diretor de comunicação, Valdir Barbosa. Segudo ele, o presidente Wagner Pires de Sá deve conceder entrevista coletiva em Chapecó, onde o time enfrenta a Chapecoense, às 19h.

No início da tarde deste domingo (13), o advogado Fabiano Costa divulgou uma nota se defendendo. Confira a íntegra:

"Quanto a reportagem divulgada no Esporte Espetacular, nesta data, informo que prestei todos os questionamentos que me foram feitos pela jornalista, entre eles, o de que NUNCA contratei os serviços profissionais do advogado Ildeu da Cunha Pereira e sequer presenciei referidas contratações.

Também reafirmo que nunca recebi qualquer valor do advogado em retorno à supostos contratos fraudulentos, e que todos os serviços por ele prestados, contratados diretamente pela Presidencia, foram efetivamente realizados. 


Mesmo prestando serviços ao Cruzeiro há mais de 23 anos, nunca me enriqueci, e vivo exclusivamente do meu trabalho, e tenho comigo o testemunho de colegas de trabalho e de diretores sobre a lisura do meu comportamento.

Aos maledicentes de última hora, que acusam antes de conhecer, faço meu compromisso com a verdade, e  a promessa de que provarei em todas as instâncias, a minha absoluta inocência" 
 

Desembargador que recolocou Itair no cargo também é alvo da investigação

A reportagem mostra ainda que mensagens de texto interceptadas pela Polícia Federal sugerem que Ildeu da Cunha mantém relação de troca de favores com o desembargador Geraldo Domingos Coelho, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Geraldo foi um dos responsáveis por garantir, no dia 4 de setembro, o retorno do então vice-presidente de futebol do Cruzeiro, Itair Machado, aos seus trabalhos no Cruzeiro. Ele havia sido afastado pelo desembargador nomeado Octávio de Almeida Naves, da 12ª Câmara Cível de Belo Horizont, no dia 20 de julho. Na época, a Justiça entendeu que o Estatuto do Cruzeiro não permitia que Itair pudesse continuar no cargo por ter condenações, trabalhistas, previdenciárias e criminais. Em sua defesa, o desembargador disse que a decisão é jurídica e garantiu que não houve "conflitos de interesses".