Salomé 5 Estrelas

Salomé 87 anos: uma lembrança da mulher que viveu pelo Cruzeiro

Torcedora-símbolo do clube faria aniversário nesta quinta, mas faleceu em dezembro do ano passado, dois dias após a queda do clube para a Série B

Por Isabelly Morais
Publicado em 22 de outubro de 2020 | 17:01
 
 
Dona Salomé ficou famosa entre os cruzeirenses por sempre estar no estádio Cruzeiro/divulgaçção

— Qual seu nome completo, por favor?

— Maria Salomé da Silva, mas pode me chamar de 'Salomé 5 Estrelas'.

Assim começou uma longa conversa com a torcedora-símbolo do Cruzeiro que faleceu em 10 de dezembro do ano passado e completaria 87 anos nesta quinta-feira (22). Uma mulher que dedicou sua vida ao clube, fez do Mineirão sua segunda casa e descansou exatos dois dias após o rebaixamento do time para a Série B. 

"Nunca pensei na minha vida sem o Cruzeiro. Acho que eu não existiria mais, não estaria mais aqui se o Cruzeiro não existisse", disse Salomé a uma dupla de estudantes em 9 de abril de 2019, no clube do Barro Preto, do Cruzeiro, onde trabalhou por quase 27 anos. 

Rebeca Braga ficou encarregada de fotografar Salomé e eu, de entrevistá-la. O produto foi o livro "Mulheres de Arquibancada - relatos, retratos e representações do torcer", resultado do TCC na graduação de jornalismo. Naquele dia, Salomé reclamava de dores nas mãos, um pouco inchadas, mas já se preparava para mais uma partida do Cruzeiro.

Natural de Bom Despacho, no interior de Minas Gerais, ela deixou sua cidade em 1º de fevereiro de 1958. Grávida do filho Roberto, rumou à capital sozinha e trabalhou em casas de famílias. Através de uma, a dos Mazzarelo, conheceu o Cruzeiro ainda no Estádio JK, onde atualmente é o clube do Barro Preto, local em que ela trabalhou por tantos anos.

"Eu nem sabia quando meu filho ia nascer, ele não tinha nem roupa para vestir. Mas eu vim pra cá leve, sem pensamento ruim. Vim com uma moça que nem sei onde ela está mais. Tenho muita fé em Deus. Cada dia que passa, fico mais próxima dele. Foi duro criar meu filho sozinha em casa de família, mas eu criei", relembrou no ano passado.

Com os anos, Salomé se tornou uma figura bastante conhecida da torcida do Cruzeiro. Sempre acompanhada de uma raposinha de pelúcia, a torcedora se tornou um símbolo da arquibancada. Em homenagem, o Cruzeiro anunciou recentemente uma nova mascote, que faz menção justamente à torcedora que viveu pelo clube e não suportou o momento mais trágico da história do Cruzeiro.

Uma grande paixão e um mantra

Em um canto no clube do Barro Preto, a conversa se alongou. Cada funcionário ou usuário do espaço que passava não deixava de cumprimentar aquela que era a cara da arquibancada. A resposta sempre vinha acompanhada de um mantra de Salomé: "Só alegria", dizia repetidas vezes.

"Eu sou casada com o Cruzeiro, porque ele só me dá alegria. Mesmo nos momentos tristes, é como uma nuvem, é passageiro", disse Salomé.

'Alegria', inclusive, foi uma das palavras mais repetidas pela torcedora naquela tarde. O ano de 2019 foi o último de Salomé nas arquibancadas do Mineirão, de estádios pelo país e pelo mundo para acompanhar o Cruzeiro, mas a torcedora parecia imaginar que uma nuvem bem pesada viria pela frente. Ela deixou à torcida a expectativa de que seja mesmo passageira.

— Na minha vida, nada escurece. Grito 'alegria, alegria' e tudo fica azul e branco (Maria Salomé da Silva, a Salomé 5 Estrelas)