A queda

Wagner Pires de Sá no Cruzeiro: Do sonho do Mundial à queda para a Série B

Presidente assumiu o clube com promessas ousadas, mas ficará marcado pelo inédito rebaixamento

As polêmicas fora de campo contaminaram o ambiente no grupo celeste, rebaixado ontem para a Série B | Foto: Cristiane Matto
Gláucio Castro
09/12/19 - 06h00

No dia 19 de dezembro de 2017, o advogado e empresário Wagner Pires de Sá tomou posse e assumiu o cargo mais alto do Cruzeiro. Altos também eram seus planos. “Vamos lutar para ganhar a Libertadores, porque ela é o primeiro passo para o único título que o Cruzeiro ainda não tem, que é o campeonato mundial”, prometeu, enquanto era ovacionado por centenas de torcedores entusiasmados.

O início foi empolgante como um gol de placa. Cinco dias após a cerimônia, Wagner Pires, ao lado do seu fiel escudeiro e vice-presidente de futebol do clube na época, Itair Machado, anunciava o atacante Fred, que horas antes havia rompido com o maior rival da Raposa.

Aos poucos, a empolgação com títulos da Copa do Brasil e o sonho de um Cruzeiro ainda mais vencedor começaram a ruir. Wagner deixou o comando nas mãos de Itair Machado e passou a ser chamado de rainha de Inglaterra. Dentro de campo as coisas também não tinham mais a mesma harmonia. 

Denúncia

Mas a gota d’água, que caiu como uma bomba nos bastidores celestes, veio em 26 de maio deste ano, mesmo dia em que a Raposa perdia por 2 a 1 para a Chapecoense, pela 6ª rodada do Brasileiro, resultado que deixou o Cruzeiro perto da zona de degola, na 16ª posição.

A derrota para os catarinenses ficou para o segundo plano diante da gravidade das denúncias reveladas pelo programa Fantástico da Rede Globo. A diretoria está sendo investigada por lavagem de dinheiro, transação irregular de jogador com idade abaixo do permitido pela Fifa e dívida acumulada de meio bilhão de reais.

Daquela noite de domingo em diante, o caos se instalou no clube com buscas da Polícia Civil nas dependências do Cruzeiro e na casa dos dirigentes. Itair Machado foi afastado pela Justiça, reconduzido ao cargo e demitido. Neste período, o futebol do clube foi deixado de lado. Sem comando, a Raposa seguiu seu calvário, que teve o final dramático ontem justamente no estádio onde o time já levantou tantas taças.

A volta de Perrella

Presidente do Conselho Deliberativo do Cruzeiro, Zezé Perrella voltou à diretoria como gestor de futebol após a demissão de Itair Machado. Crítico ferrenho de Wagner Pires, a quem chamava de “rainha da Inglaterra”, chegou a pedir publicamente seu afastamento, Perrella veio com status de salvador da pátria para tentar colocar ordem na casa. Foi o responsável por afastar Thiago Neves, fez duras críticas ao elenco, inclusive com relação aos altos salários, mas já era tarde demais. O Cruzeiro está na Série B.

Investigações

O inquérito que investiga a diretoria do Cruzeiro por falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, pagamentos suspeitos e transferência irregular de atletas está sendo conduzido pela Polícia Civil de Minas Gerais. Quem comanda os trabalhos é o delegado Domiciano Monteiro, chefe da Divisão de Investigação de Fraudes e Crimes contra a Administração Pública. A reportagem tentou contato com o delegado, que não quis dar entrevistas e disse apenas que as investigações estão em andamento.

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