Segundo pai

Separação de técnico quase fez canoísta Ana Sátila trocar o remo pela Medicina

Intenso convívio aconteceu no ciclo olímpico dos Jogos de 2016 e fez a diferença na vida da atleta de Iturama

Por Daniel Ottoni
Publicado em 03 de junho de 2020 | 14:23
 
 
Ana Sátila tem ouro do Mundial Junior de 2014 como melhor resultado da carreira Washington Alves - COB

A presença do técnico italiano Ettore Ivaldi ao lado da canoísta Ana Sátila foi o conforto e a segurança que ela precisava para diminuir a pressão na Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016. Em sua primeira participação no torneio, a mineira ganhou uma importante experiência aos 20 anos de idade na canoagem slalom. Ali, foi o momento de lidar com uma das maiores frustrações ao ser eliminada ainda na primeira fase.e terminar na 17ª posição no K1. 

Aos 16 anos, ela esteve em Londres nos Jogos de 2012 como parte da delegação, mas sem participar e vendo de perto tudo que envolve a competição. Em Tóquio 2020, Ana está garantida no caiaque individual (K1) e na canoa individual (C1), para tentar repetir o ouro do Mundial Júnior de Penrith (Austrália), no K1, em 2014, quando teve um dos melhores resultados da carreira. Ana também é vice-campeã mundial e conquistou a primeira medalha para o Brasil neste torneio. 

Baque

Mais difícil do que o resultado para a jovem atleta de Iturama, de apenas 40 mil habitantes, foi ter que lidar com a separação do treinador europeu, após a Rio 2016. O intenso convívio de cinco anos foi interrompido com o retorno de Vivaldi à Europa, fazendo Ana repensar sua presença dentro do esporte. Vivaldi foi comandar a equipe de canoagem slalom do seu país, onde trabalha próximo dos filhos, atletas da modalidade.  “Ficamos juntos por um ciclo olímpico inteiro, ele foi um segundo pai pra mim, uma pessoa muito importante no meu crescimento esportivo. Foi um momento bem difícil, nossa relação era muito próxima", conta.

O mesmo personagem que a fez pensar em jogar tudo pro alto foi o que a motivou a seguir crescendo. "Pensei em desistir de tudo após a minha desqualificação no Rio. Não queria mais saber do esporte. Não queria continuar sem ele, pensei em fazer faculdade de Medicina e me tornar pediatra, outro sonho que tinha. Mas com o apoio do Ettore, consegui colocar a cabeça no lugar. Ainda tínhamos duas competições juntos e ele me fez ver que, mesmo longe, estaria sempre por perto”, lembra Ana, que seguiu ativa naquele ano, antes de novos pensamentos conflitantes aparecem.

“Pensei que tivesse me recuperado da perda do Ettore, mas foi mais difícil do que imaginava. Não conseguia treinar com ninguém. Recebi propostas para representar a Itália e ficar ao seu lado, mas não me via representando outro país. Tive também um grande apoio, melhores oportunidades para treinar, lutar pelo meu sonho e, aos poucos, me adaptar à ausência do meu técnico”, revela. A Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa) não manteve o contrato com o técnico italiano por questões financeiras. Com a redução de recursos no esporte, a entidade apostou em técnicos nacionais . 
Recusa para defender 'azzurra' e novo companheiro

A relação entre os dois gerou até mesmo convite do italiano para defender o país da bota, mas o coração da canoísta já tinha dono. Ela sabe do potencial para buscar uma medalha inédita para a modalidade feminina do Brasil. 

Ana teve que aceitar e se adaptar e criar empatia com o método de um novo companheiro, que tem a missão de fazê-la seguir dando precisas remadas para fazer história. O ex-atleta olímpico e treinador Cássio Ramon Petry é o treinador de Ana, fazendo parte da equipe técnica da seleção ao lado do ex-atleta Ricardo Martins. "A relação é de muito respeito, estamos trabalhando duro, ambos em busca de um sonho. Quando se tem o mesmo objetivo, a caminhada se torna mais fácil", analisa.

É com Petry que Ana vai chegar à Tóquio, no ano que vem, com 25 anos e com um outro perfil daquela novata, agora já indo para a terceira experiência em Olimpíada. 

Mais tempo para chegar longe

Sobre o adiamento dos Jogos, Ana espera chegar em condições de colocar seu nome na história da canoagem slalom do Brasil. "Esse tempo extra vai me ajudar, tenho um objetivo muito grande e não importa quando, ele vai chegar e eu vou estar preparada. Tenho trabalhado como sempre, com muita disciplina e dedicação, estou mais focada e mais experiente, procuro evoluir a cada dia. Tenho chances de medalha se fizer o meu melhor , esse é o meu objetivo", garante.