Mudança

Campeonato Mineiro: futebol em Minas pode voltar só depois de agosto

Integrante do comitê de enfrentamento à Covid-19 da PBH, Carlos Starling aponta mudança no pico da pandemia, quer cautela e deve ser atendido

Por Gabriel Pazini
Publicado em 03 de junho de 2020 | 17:13
 
 
A pandemia do novo coronavírus paralisou o futebol em todo mundo; no Brasil, clubes começam a retomar a rotina Cristiane Mattos

Nos bastidores, uma possível volta da disputa do Campeonato Mineiro era pensada para a segunda quinzena de julho. No entanto, o retorno do futebol em Minas Gerais pode demorar ainda mais e vir a acontecer apenas depois de agosto.

Isso porque durante reunião na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) na tarde desta quarta-feira (3) para tratar do impacto da pandemia do novo coronavírus no esporte e discutir estratégias para o retorno das disputas dos Módulos I e II do Campeonato Mineiro, dos torneios das categorias de base e do futebol amador, Carlos Starling, infectologista e integrante do comitê de enfrentamento à Covid-19 da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), apontou que o pico da pandemia em Minas deve ocorrer apenas no fim de julho ou em agosto.

"O pico dessa epidemia é projetado, ou pelo menos uma inflexão positiva, do governo do Estado, por volta do final de julho. No caso da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e os estatísticos que trabalham conosco, nós estamos projetando que vamos chegar nesse pico em agosto", destacou Starling.

O infectologista ainda pediu prudência e um retorno do Campeonato Mineiro e outras competições esportivas apenas quando a pandemia estiver em declínio, ou seja, somente depois do pico previsto para o fim de julho ou agosto.

"Acho que para fins de planejamento é fundamental utilizar essas informações para que o planejamento de retorno (do Campeonato Mineiro) seja num momento de declínio (depois de agosto), ou seja, de R0 abaixo de 1 ou com uma tendência declinante. Voltar com atividades com o mínimo de aglomeração de pessoas, implica em riscos quando o R estiver acima de 1. Muita atenção para esses parâmetros que são fundamentais", pediu o especialista.

"Estamos monitorando os surtos. Recentemente, aqui em Belo Horizonte mesmo, um grupo de orações retornando com 12 pessoas, tinha uma infectada que infectou nove. Os surtos dessa doença são explosivos. Portanto, o monitoramento epidemiológico do que vai acontecer e o que pode acontecer com os treinamentos, vai ser fundamental para embasar o retorno das atividades e da própria competição", concluiu.

Apoio

Presentes na mesma reunião, o presidente da Federação Mineira de Futebol (FMF), Adriano Aro, e os médicos de América (Cimar Eustáquio), Atlético (Rodrigo Lasmar) e Cruzeiro (Daniel Baumfeld) demonstraram ao longo da conversa, assim como em outras oportunidades, responsabilidade e deixaram claro que o retorno das competições só deve ocorrer com o sinal verde dos órgãos de saúde. Mais um indício de que o retorno do Campeonato Mineiro pode demorar mais que o previsto inicialmente para ocorrer.

O presidente da FMF ainda voltou a deixar claro durante a reunião que o Campeonato Mineiro será decidido dentro de campo e não existe a possibilidade de encerramento da competição e declarar o América campeão.

"A FMF hoje só trabalha com a hipótese de encerramento do futebol profissional, Módulos I e II do Campeonato Mineiro, dentro de campo. Como não passamos pelo pico da epidemia em Minas Gerais, uma vez passada esse pico da pandemia, poderemos retomar essas atividades profissionais dentro de um ambiente controlado. Quando os órgãos de saúde liberarem, poderemos e vamos continuar com o Módulo I e, depois, com o Módulo II. Torcemos pela retomada o mais rápido possível, mas só o faremos quando tivermos uma autorização dos órgãos competentes de saúde", afirmou.

Categorias de base e amador

Quanto aos outros torneios das categorias de base e o futebol amador, Adriano Aro destacou que o cenário é diferente pela situação econômica.  "Os protocolos, ou seja, o cenário para retorno de uma atividade, passa pela premissa de um ambiente minimamente controlado. Seria necessário realizar a checagem prévia de todos os envolvidos. Os clubes profissionais estão se preparando. Os clubes profissionais estão tomando o cuidado de realizar esse procedimento de checagem, de acompanhamento de todos os seus atletas. São clubes mais bem estruturados, clubes que possuem condições econômicas de buscar essa condição", disse.

"A FMF tem que trabalhar com a realidade do nosso futebol. Os clubes profissionais da primeira divisão possuem um certo poderio econômico. Abaixo deles, os clubes da 2ª divisão possuem um poderio econômico menor, abaixo as categorias de base e, abaixo de tudo, os clubes amadores, até porque não visam lucro e, na maioria das vezes, é um futebol que não recebe o investimento adequado, um segmento do futebol que depende de mais auxílio dos órgãos e entidades e tem um caráter social e recreativo. Faltam recursos para se promover o futebol", analisou.

"A FMF pensa, em primeiro lugar, no futebol da 1ª divisão. Pensamos que os clubes da 1ª divisão possuem os recursos para, quando os órgãos de saúde liberarem, podermos concluir o campeonato. Precisaremos de uma quantia menor de recursos porque temos menos datas para concluir o Módulo I. Já o Módulo II foi paralisado antes de chegar aos 50% de disputa, então exige valores maiores que a primeira divisão. Categoria de base a mesma coisa e no futebol amador faltam diversos fatores para termos um ambiente controlado. É extremamente temerário e poderia expor todos ao contágio do novo coronavírus. Existem muitos entraves para voltar o futebol profissional junto com o amador. Só trabalhamos com a hipótese de voltar os campeonatos profissionais dentro de campo. Torcemos pela retomada o mais rápido possível, mas só o faremos quando tivermos uma autorização dos órgãos competentes de saúde", finalizou.