Memória mineira

Tradicional Bar do Peixe é colocado à venda com crise e sem futebol no Mineirão

Local faz parte da história de Belo Horizonte e do futebol mineiro e é ponto de encontro de boleiros e de torcedores antes de jogos no estádio; crise do coronavírus foi a gota d’água

Por Thiago Nogueira
Publicado em 19 de maio de 2020 | 08:00
 
 
O Bar do Peixe (prédio vermelho) é o tradicional ponto de encontro dos torcedores antes dos jogos no Mineirão Thiago Nogueira

Mais antigo do que o próprio Mineirão, o tradicional Bar do Peixe, na alameda das Palmeiras, bem ao lado do estádio, foi colocado à venda e pode fechar as portas. O local faz parte da história belo-horizontina, ponto de encontro para resenhas de boleiros e “esquentas” pré-jogos.

O bar, fundado por Geraldo Leal em 1953, foi aberto 12 anos do Gigante da Pampulha, inaugurado em 1965. Craques como Reinaldo, Nelinho e Oliveira costumavam frequentar o estabelecimento, como mostrou reportagem da revista “Placar”, em abril de 1985. Hoje, uma série de situações comerciais, agravadas pela crise do novo coronavírus, levou o proprietário Ely Leal, filho de Geraldo, a decidir encerrar o negócio.

“Nos últimos anos, ficou muito difícil. O prédio é nosso, não temos um aluguel. Mas, se tiver a oportunidade de não voltar, eu prefiro. Se eu conseguisse vender o imóvel, pra mim, seria o ideal”, explicou o proprietário.

Os jogos de futebol estão suspensos em todo o país, e não há uma perspectiva para o retorno. Mas esse não é o único motivo. A concorrência com ambulantes e barraqueiros no entorno, a decisão do Atlético de jogar menos no estádio, desde a reforma, em 2013, tributos municipais e altas taxas do sistema financeiro também contribuíram para a decisão.

“É um contexto. Estamos numa crise econômica, já de três a quatro anos, altas taxas da prefeitura, de placa, cadeiras, toldo, alvará de localização, funcionamento. Essas barracas em torno do Mineirão, a invasão de vendedores ambulantes, a campanha de sócios-torcedores que vende cerveja mais barata para o torcedor ficar em casa, os altos preços dos ingressos dos estádios, a Lei Seca, taxas de bancos, não tem condição de trabalhar mais”, lamenta Leal.

A venda do Bar do Peixe também atende ao inventário para a partilha de bens da família, após a morte da esposa de Geraldo Leal, Maria Cupertino da Cruz Leal.