Sistema 4x2

Vôlei: levantador como atacante foi estratégia de Uberlândia durante o Mineiro

Talento de Matheus Brasília só foi descoberto pelo treinador no começo da temporada

Por Daniel Ottoni
Publicado em 20 de outubro de 2020 | 11:05
 
 
Alternativa foi usada quando Daniel Bala (10) era substituído Alex Sezko - Divulgação

O Azulim Gabarito Uberlândia mostrou, na campanha do 3º lugar no Campeonato Mineiro, uma alternativa cada vez mais rara de ser vista no vôlei nacional, principalmente nos times adultos.

Em alguns momentos da competição, o técnico Manoel Honorato utilizou o levantador Matheus Brasília como oposto, colocando em prática o sistema 4x2, quando dois levantadores estão em quadra com a presença de quatro atacantes. A alternativa faz com que esta equipe sempre tenha três atacantes na rede. Além de Brasília, o armador Bernardo Westermann também pode desempenhar tal função. 

A opção se deu nas inversões após saída de Daniel Bala, titular da posição. A falta de um jogador reserva forçou a estratégia do treinador. Quem poderia ocupar a posição era Gabriel Armanelli, que está lesionado. 

"Temos o Romani, um jogador de 2,05, que pode atuar como oposto. Mas nas últimas temporadas ele jogou como central. Temos também o Dyann, mas ele ainda é muito jovem, ainda não tem a devida confiança. Optamos por esta solução do levantador virar um atacante", comenta Honorato.

O treinador não descarta encontrar uma solução no mercado e estuda as possibilidades no elenco caso não seja possível. O time conta, nos treinos, com a presença de Renan Buiatti, oposto que já passou pela seleção brasileira. O jogador faz parte das atividades, em um primeiro momento, para recuperar-se de cirurgia no pé, após ter contrato rescindido com o Tours (FRA). 

No começo da temporada, o treinador não sabia da capacidade de Brasília. "Percebemos isso nos treinos na areia e buscamos esse valor. Eu sabia que o Bernardo poderia desempenhar essa função, mas o Brasília não tinha conhecimento. Acho que ele foi bem, faço uma avaliação positiva do seu desempenho. Em determinado momento, ele foi bloqueado e na sequência, voltou a receber bola do Bernardo e correspondeu. Teve cabeça pra sair de uma situação psicológica difícil", analisa o treinador.

Brasília garante que está pronto caso o treinador precise novamente, mas acredita que esta foi uma situação emergencial, que não deve se repetir com frequência na temporada. Esta foi a primeira vez na carreira profissional que ele atuou na posição. 

"Sempre fui levantador de origem. Quando jogava em Brasília, tive a oportunidade de atuar em várias posições. Acredito que foi uma surpresa para todos. Levantador gosta de atacar bolas durante o treino, sempre brincando, mas atuar num jogo oficial gera uma surpresa. O professor arriscou e acho que fui bem. Assim como todos os outros atletas, vou estar sempre pronto e disposto a ajudar a equipe. Esta alternativa foi mais uma disposição tática do que uma possibilidade futura dentro da minha carreira. Ser levantador é o que eu gosto de fazer", afirma. 

Ex-jogadora do Praia fez função na carreira

Quem acompanha vôlei talvez se lembre da seleção feminina de Cuba da primeira década dos anos 2000, que usou com mais frequência a formação 4x2, tendo a ex-jogadora do Praia Daimy Ramirez como parte importante do sistema. No Brasil, essa tática é difícil de ser vista. 

"O espaço por aqui é reduzido, somos um país subdesenvolvido, que queima etapas de formação dos atletas. Jogadores com 13 ou 14 anos são exigidos a fazer o que um de 18 já faz. Com isso, são desenvolvidos apenas alguns valores técnicas, quando eles poderiam ser trabalhados de forma universal, como acontece com frequência na Europa. Lá, a formação é mais cadenciada e perdemos virtudes como um levantador ser atacante, centrais e opostos passarem. Essa universalidade faz falta", lamenta Honorato.