Nostalgia

Fiat resgata o primeiro carro a álcool produzido em série no mundo

Após 40 anos, primeira unidade do Fiat 147 movido a etanol, fabricada em Betim, está preservada e segue toda original

Sex, 05/07/19 - 03h00

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Para celebrar a histórica data de 5 de julho de 1979, dia exato da apresentação do primeiro automóvel do mundo com motor 100% movido a etanol, a Fiat Chrysler Automóveis (FCA) reuniu a imprensa especializada no Polo Automotivo de Betim, para mostrar a unidade de número 001 do Fiat 147 a álcool, fabricada pela marca naquele ano. 

Na cor preta, o modelo que deu origem a uma nova era na indústria automobilística no Brasil foi comprado em um lote com várias unidades pelo Ministério da Fazenda e, assim como os demais, seguiu seu caminho de “servidor público” país afora.

A prova

Mas algo o diferenciava de seus pares, empurrados pelo mesmo motor de 1.300 cc e 62 cv de potência. Uma placa alusiva ao fato de ser, de verdade, o “número 1”, foi anexada ao painel, que imitava madeira. Nela, estava escrito um breve relato do que se tratava e de qual seria a finalidade daquele carro quando chegasse a hora de sua aposentadoria: ele seria um integrante do Museu da Fazenda Federal.

Confira o histórico 147 em detalhes:

O perfeito estado de conservação do modelo, com placa branca de Brasília (DF), chega a impressionar. A única intervenção feita pela Fiat, depois que o pequeno 147 etílico voltou para sua casa, foi a substituição dos quatro pneus.

“O carro rodou apenas 80 mil quilômetros em suas quatro décadas de vida, tudo nele é original, da pintura aos vidros. Por todo esse tempo ele foi bem cuidado e conservado, imagino que a placa que o identifica, no painel, enchia de responsabilidade os que fizeram uso desse veículo e o mantiveram nesse excelente estado de originalidade”, revelou o responsável pela equipe de atendimento à imprensa da FCA, Ricardo Dilser, à reportagem do Super Motor, que pôde sentir o gostinho de acelerar a histórica unidade do 147. 

“Cachacinha” na pista

Reza a lenda que o 147 a álcool recebeu o apelido de “cachacinha” porque, durante um teste de rodagem para verificação da duração de componentes, em um pequeno vilarejo, os técnicos não encontraram posto de atendimento e, com receio de ficarem parados na estrada, pararam em um boteco e colocaram aguardente, em vez do álcool anidro, no reservatório de combustível. E rodaram tranquilamente até que foi possível abastecer normalmente.

Durante o dia de apresentação do modelo 001, tivemos oportunidade de dirigir, na pista de testes da montadora, na fábrica em Betim, o “carrinho”. 

“É emocionante ver esse carro de perto, não só pela importância de ser realmente o primeiro Fiat 147 a etanol, mas também por estar funcionando perfeitamente com todos os elementos de época originais, como partida a frio e afogador, além de preservar a tampa vermelha do motor e a pintura original, com direito a alguns toques de batida de porta”, afirma Robson Cotta, gerente de engenharia experimental da FCA.

Volta rápida

Assim que giramos a chave, o motor demorou um pouco a pegar – a manhã fria de inverno não colaborou para que a partida fosse instantânea. Por ser o pioneiro entre os carros a etanol, o Fiat 147 foi também o primeiro a encarar algumas características do combustível, como o baixo poder calorífico em relação à gasolina. 

Na prática, isso significava a lendária maior dificuldade para dar a partida no motor em dias frios. O motor ligado e o característico odor do álcool me remeteram ao passado.

Primeira marcha

Pé fundo na embreagem e alguma dificuldade de engate da primeira marcha. Relatos da época do lançamento criticavam severamente a sincronia dos engates do 147. Colocada a primeira marcha, aceleramos os 62 cv disponíveis pelas retas e curvas da pequena pista de teste da Fiat em Betim. 

Volante e suspensão firme, mas certa dificuldade ao pisar no pedal do freio, que exige força para fazer o compacto parar. No fim, uma viagem no túnel do tempo, já que por muitas vezes dirigi um 147 similar, mas movido apenas a gasolina, quando iniciava minha hoje longeva experiência como motorista habilitado.

Lançado em Ouro Preto

Inaugurada em 1976, a Fiat completa na próxima terça-feira 43 anos de vida no Brasil. O primeiro automóvel a sair da linha de montagem, em Betim, foi o saudoso 147 a gasolina.

O modelo foi lançado na cidade histórica de Ouro Preto, com direito a test drive e tudo mais, e foi, a bem da verdade, um divisor de águas no mercado automobilístico nacional, porque estreou um novo conceito em automóvel: pequeno por fora, mas grande por dentro.

Eram principais destaques o espaço interno e a economia de combustível do pequeno motor de 1.050 cc, que era acomodado no cofre, de forma transversal, um ineditismo para a época.</CW>

Estrela do Salão do Automóvel

O veículo foi mostrado pela primeira vez no 10º Salão do Automóvel de São Paulo, em 18 de novembro de 1976, quando foram expostas 15 unidades do modelo pintadas de diferentes cores. Ele permaneceu no mercado por dez anos e passou por duas reestilizações,

Na primeira delas, ganhou o sobrenome Europa, e na última, Spazio. Três modelos lançados no mercado mais tarde eram derivados do Fiat 147: a picape 147, a perua Panorama e o sedã Oggi. 

 

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