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Furto de veículos volta a crescer em Minas Gerais

Foram 23.571 ocorrências no ano passado, média de 64,5 casos por dia

Por Jonatas Pacheco
Publicado em 12 de abril de 2024 | 05:00
 
 
Fatima teve o carro furtado em janeiro deste ano Foto: Fatima teve o carro furtado em janeiro deste ano

“Ir à concessionária olhar um carro novo é um trauma enorme. Tenho crises de ansiedade, sinto mal-estar. Até mesmo pegar transporte por aplicativo ficou difícil, uma sensação de insegurança”, diz a assistente financeira Fátima Rodrigues, de 52 anos, moradora do bairro Santa Amélia, na região da Pampulha, em Belo Horizonte. Há três meses, ela parou seu Palio Weekend no entorno da estação Pampulha do Move, de onde pegou um ônibus para ir ao centro da capital com o filho mais velho, de 19 anos. Três horas depois, quando os dois retornaram, o veículo não estava mais lá. Fátima havia comprado o carro há seis anos e usava para ir ao trabalho, levar os filhos à escola, fazer compras e outras atividades cotidianas. 
 
“Tudo aconteceu à luz do dia. Perguntei para algumas pessoas que estavam lá se elas tinham visto algo, mas ninguém viu nada. Até pensei que pudesse ter sido rebocado. Acionei a polícia, fui à delegacia especializada, fiz o boletim de ocorrência, mas até hoje não acharam o meu carro”, contou a assistente financeira, que não tinha seguro veicular.
 
Fátima é mais uma vítima de um crime “silencioso” contra o patrimônio, sem uso de violência ou ameaça, mas que tem causado cada vez mais prejuízo. O número de furtos de veículos em Minas Gerais voltou a crescer, na contramão do que ocorreu no restante do Brasil, nos últimos dois anos, após ligeira queda na pandemia. Em 2023, segundo a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), foram 23.571 crimes desse tipo no Estado – média de 64,5 por dia –, o que coloca Minas em segundo lugar no país em números absolutos. O aumento foi de quase 2,7% em relação a 2022, quando ocorreram 22.956 casos, e de 23,9% em comparação com 2021, quando ainda havia restrição por conta da Covid-19.
 
“É um fenômeno criminal complexo. Entendo que (o aumento) tem a ver com vários fatores. Um deles é o fim da pandemia. Com o retorno das atividades, houve maior circulação de carros, e tudo aumentou em sequência, inclusive este tipo de crime”, afirmou o delegado Sérgio Paranhos, chefe da Divisão Especializada em Prevenção e Investigação a Furto e Roubo de Veículos Automotores.
 
Entre os motivos, segundo ele, estão ainda a valorização dos veículos no mercado e a demanda por revenda e compra mais baratas, mesmo que sejam provenientes do crime. “O criminoso sempre vai visar ao lucro. Se o veículo é mais caro, o lucro dele com adulteração e revenda de peças também será maior. Muitas vezes uma pessoa compra um veículo furtado sem ter conhecimento e só descobre quando vai fazer a transferência da documentação na vistoria”, concluiu o delegado.
 
Onde tem mais
 
O delegado Sérgio Paranhos admite que há pontos em BH que são os preferidos dos ladrões de veículos, que, segundo ele, agem em grupos já especializados nesse tipo de crime ou de maneira independente. Paranhos não deu, entretanto, detalhes sobre quantas quadrilhas agem na capital nem quais são as áreas com maior ocorrência de furtos.
 

Área vira alvo de bandidos

Três meses depois de Fátima Rodrigues ter tido o carro furtado perto da estação Pampulha do Move, um vizinho dela teve o carro levado por bandidos no mesmo lugar. O homem, que preferiu não se identificar, deixou o veículo às 13h45 na rua das Canárias, onde a esposa pegaria o automóvel por volta das 18h. Quando ela chegou, o carro já tinha sido levado. “Depois do ocorrido, conversei com outras pessoas, que falaram sobre o aumento de furtos de veículos na região. Eu até vejo algumas viaturas da Polícia Militar fazendo ronda, mas acho que ainda é pouco”, disse a vítima, que também não tinha seguro.
 
A PM mantém uma base móvel no bairro e informou que faz rondas preventivas e rotineiras. Na estação Pampulha, há um estacionamento interno, com 166 vagas, para quem quer deixar o veículo, ao custo do rotativo (R$ 4,95 por 12 horas), mas as ruas do entorno, onde não há rotativo, já se tornaram uma extensão do estacionamento, que vive cheio. A PM não informou se há câmeras do Olho Vivo perto da Estação Move Pampulha.