Entrevista

Palhinha: craque, artilheiro e com muitas histórias para contar

Atacante, que passou por Atlético, Cruzeiro, Corinthians e seleção brasileira fala sobre o futebol de hoje e de ontem

Frederico Jota| @superfcoficial
15/09/19 - 08h30

Revelado pelo Cruzeiro, Palhinha fez história na Raposa, sendo decisivo para a conquista da Libertadores de 1976. Um dos maiores atacantes da história do futebol brasileiro, o craque fez sucesso também no Corinthians e fez parte de um dos maiores times da história do Atlético. Em entrevista exclusiva ao SuperFC, Palhinha relembra histórias da carreira e dá sua visão sobre o futebol atual, critica Neymar e fala sobre seus atletas preferidos dentro e fora dos gramados.



 

Continua a acompanhar futebol atualmente?
O nível no Brasil caiu demais. Para ver uma boa partida hoje está bem difícil e perdi o entusiasmo em relação ao futebol por aqui. Hoje, os jogadores ganham muito e jogam pouco. É difícil ver um bom espetáculo hoje no futebol brasileiro. No exterior, sim. Lá tem profissionais de alta qualidade.

E os jogos da seleção brasileira?
Do pouco que acompanho, não gosto. Hoje as partidas estão medíocres. Os jogadores só jogam para trás e têm pouca força ofensiva. Na minha época, aconteciam mais gols e o jogo era mais para frente. Hoje, a maior parte dos jogos é 1 a 0 e olhe lá.

O que acha do Neymar? 
Não dou muita atenção para ele. Olha o Messi. Ouve falar? Ele fica no canto dele, faz o que tem que fazer no futebol. Neymar quer chamar atenção e dar sempre uma de vedete. Futebol, ele tem. Deveria era ficar mais em seu lugar e ser mais simples.



Vamos para o passado. Qual time que você atuou foi melhor? O Cruzeiro de 1976 ou o Atlético de 1980? 
Os dois eram nivelados e muito parecidos. Não tinham só a força, mas também qualidade técnica.

Tostão ou Reinaldo? 
Tostão. O Reinaldo era mais individualista. O Tostão também fazia jogadas pessoais, mas fazia mais jogadas coletivas. Ele me marcou mais nesse sentido.

Qual foi o melhor zagueiro que enfrentou? 
Luizinho. Não dava um pontapé. Desarmava o atacante e saía jogando.


E quais foram seus melhores parceiros de ataque?
Sócrates e Jairzinho.

Prefere Messi ou Cristiano Ronaldo?
Messi. É um jogador parecido com o Tostão, que tanto jogava para ele quanto para a equipe. O Cristiano Ronaldo é um jogador de concluir e de fazer gols. Não é tão criativo para os colegas.

Pelé ou Maradona? 
Pelé. Maradona fez um gol ou outro. Pelé fez muitos, com frequência. E bonitos.

Messi ou Maradona?
Messi.

Messi ou Pelé? 
Os dois!

Faça uma seleção com os 11 melhores que você viu jogar. E relembre seus melhores treinadores. 
Manga, Nelinho, Perfumo, Luisinho e Vanderlei; Piazza e Zé Carlos; Natal, Tostão, Dirceu Lopes e Joãozinho. Os melhores técnicos, para mim, foram Oswaldo Brandão e Yustrich.


Com 17 anos você já estava entre os profissionais do Cruzeiro. Teve que ter paciência para esperar a sua vez entre tantas feras. Pensou em mudar de clube? 
Eu quase desisti. Eu entrava e saía. O Natal se machucava e eu ia jogar na ponta. Machucava o Tostão e eu ia jogar no meio, etc. Era muita instabilidade. Em 1972, Yustrich chegou e eu assumi a posição. No mesmo ano, na final do Mineiro de 1972, fiz os dois gols contra o Atlético. E consegui me firmar, já como centroavante, meia ponta de lança. 

Como foi jogar com tantos craques? 
Eu já treinava com esses jogadores e, desde o início, fui me adaptando. Naquela época, só tinha o Barro Preto, então todos treinavam juntos. Isso me deu muita experiência.

O que levou do futsal para os gramados? 
O futebol de salão me deu muito reflexo e habilidade, além de aprender o momento de pensar na frente. Isso me ajudou bastante.

Qual foi a maior dificuldade da conquista da Libertadores de 76?
Sem dúvida, entrar em campo depois da morte do Batata. Teve um jogo contra o Alianza no qual o lado direito do Mineirão estava repleto de flores, da linha de fundo ao meio do campo. Foi, ao mesmo tempo, uma tristeza, e uma alegria por ter feito 7 gols naquele jogo, já que 7 era o número da camisa dele.

Como recebeu a notícia da morte do Batata?
A gente voltou da Colômbia e chegamos no aeroporto do Galeão às 6h. Ficamos até às 15h aguardando o voo. Vim com o Roberto no mesmo banco do avião. Ele disse que ia viajar para Três Corações e eu disse para ele não fazer isso. Ele era uma pessoa que dormia com facilidade, que encostava e dormia. Falei para ele descansar. Infelizmente, ele pegou o carro. Eu tive um pressentimento de que iria acontecer alguma coisa. Porém, aquele acontecimento fortaleceu demais o grupo em relação à conquista. Eu tenho certeza que ele nos acompanhou lá de cima.

Qual sua lembrança da final contra o River Plate, em 1976?
Foi uma partida fantástica. Joãozinho, de uma forma irresponsável, cobrou uma falta que era para o Nelinho bater. Eu que sofri a falta, aliás. Ele entrou na frente, bateu e fez o gol.

Teve bronca do técnico Zezé Moreira?
O 'seu’ Zezé era uma pessoa muito fechada, mas, na verdade, ele brincou com o Joãozinho. É lenda a história da bronca. Vai dar bronca por ser campeão? Se o Nelinho batesse, talvez não tivesse saído o gol.

Usava malandragem para cavar falta?
Tomava muita cotovelada e cuspida, mas nunca fui muito santo. Do jeito que me davam, eu retribuía. O jogador de defesa te testa. Ele bate uma vez e, se você aceitar, bate duas, três. Jogador de defesa é medroso. Se você revidar, ele vai pensar duas vezes em te bater de novo. Em 1976, eu combinei com o Jairizinho que, se alguém me batesse, ele batia nesse jogador. A gente invertia para não ser expulso.

Como foi jogar no Corinthians em 1977?
Com muito custo, fui vendido. Cheguei em São Paulo e foi aquela coisa... 23 anos sem ser campeão, limousine me aguardando, batedor até o Parque São Jorge, sirene tocando na minha apresentação. Pensei... onde eu vim amarrar minha égua? A cobrança seria grande, mas tive a felicidade de conquistar o título. Na minha apresentação, no Pacaembu, os torcedores cantavam meu nome enquanto eu dava uma volta olímpica. Meu cabelo ficou arrepiado. Pensei... será que eu vou conquistar esse título? 1977 foi um marco.


Como foi sua passagem pelo Atlético?
Quando você é profissional, tem que respeitar a camisa que veste. E a forma de respeitar é lutar bastante, ter raça e vontade. Era o meu espírito. Joguei com grandes profissionais no Atlético. Era um supertime. A mágoa foi não ter conquistado os títulos. Fomos prejudicados em 1980 pelo Aragão e, na Libertadores, o Wright meteu a mão. Eu era capitão naquela partida em Goiânia. Disse para ele: ‘você expulsou todo mundo, então você vai…' e ele me expulsou também.

Você merecia ter tido mais chances na seleção brasileira?
Sim. Principalmente em 1978. Eu e o Sócrates estávamos arrebentando. Foi uma injustiça. Naquela época tinha panela. O técnico Coutinho foi uma decepção.

O que lembra da sua volta para o Cruzeiro em 1983?
Nesse ano, machuquei os ligamentos. Joguei mesmo em 1984, apenas, porque queria ser campeão. Encerramos aquela série do Atlético. O retorno foi ótimo.

Aproveitou muito a vida fora dos campos? 
Tinha as noitadas, fazia parte. A gente que ficava muito amarrado, muito preso, é igual a um passarinho. Na gaiola, voa pouco. Quando solta, ele some. É igual ao jogador de futebol… (risos).

O que faltou na carreira de treinador? 
Eu desisti porque eu havia sacrificado minha família na época de jogador. Como treinador, o desgaste é muito maior. Achei que estava no momento certo de parar.

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