Turismo consciente

É possível viajar e ser voluntário

Em missão humanitária ou por um propósito pessoal, seja qual for o motivo, no destino é preciso trabalhar, gastando poucos recursos

Sáb, 05/05/18 - 03h00

Planejar uma viagem pode se tornar uma ótima oportunidade de dedicar afeto e tempo a uma causa humanitária. Associações espalhadas pelo Brasil e pelo mundo unem o desejo de conhecer um novo destino à vontade de contribuir, efetivamente, para a melhoria das condições de vida das pessoas que lá vivem. Com pouco dinheiro e bastante engajamento, é possível conhecer lugares inusitados, como o sertão nordestino e o Quênia, e até os mais tradicionais, como os Estados Unidos. 

Além do sentimento de realização pessoal, turistas que viajam com o objetivo de cumprir missões humanitárias, como, por exemplo, ajudar a construir creches na África ou contribuir para melhores condições de vida aos imigrantes moradores de rua nos Estados Unidos, carregam na bagagem muito empenho. É preciso também ter mente aberta para todos os imprevistos possíveis e algumas roupas na mala – os pacotes para conhecer e trabalhar em um destino são bem mais baratos que os tradicionais, já que na maioria das vezes o turista arca apenas com aéreo e cursos de capacitação, para saber conviver com as adversidades da missão. 

A hospedagem e as refeições, na maior parte dos casos, também são colaborativas e o viajante não arca com elas, já que são disponibilizadas em casas de famílias, que também querem contribuir de alguma maneira para a causa humanitária. 
Fundada há cerca de seis anos e levando aproximadamente 300 turistas voluntários por ano para as mais diversas missões pelo mundo, a Volunteer Vacations (VV) tem parcerias com ONGs de variados perfis para proporcionar uma experiência de curto prazo em ajuda humanitária. 

“Nosso público entende o valor de doar seu tempo, e isso é uma via de mão dupla. Cerca de 90% dos nossos viajantes são mulheres, na faixa etária entre 18 e 35 anos. Mas as viagens são para todas as idades”, explica Mariana Serra, uma das fundadoras da VV.

Sílvia Castro é roteirista e documentarista e já viajou assessorada pela VV. Em determinado momento da vida, sentiu que precisava contribuir para o bem-estar de outras pessoas, e, após algumas viagens, deixou o emprego fixo para, agora, explorar o mundo em missões humanitárias. 

“Após uma ótima experiência no sertão do Piauí, fui convidada para ir ajudar o Haiti, em 2016. Precisava levantar um dinheiro para conseguir viajar, e foi pedindo aos amigos e por meio da internet que consegui, em duas semanas, juntar R$ 10 mil e ir. Lá ajudamos em missões com as crianças”, conta. 
Atualmente, ela viaja para diversos destinos gravando e fotografando suas missões, o que serve de inspiração para que outras pessoas possam colaborar com essas causas. Neste ano, por exemplo, ela já foi à Amazônia levar livros para comunidades que não conseguem chegar à escola na época da cheia. “Já não consigo mais ir a destinos ‘comuns’. Não penso em ir a Paris, quero conhecer o Camboja”, afirma.

Para estudantes

Com sede em Belo Horizonte, a AFS Intercultura Brasil (ONG sem fins lucrativos), criada há 102 anos, também serve ao intercâmbio voluntário pelo mundo. “No caso do High School, aos Estados Unidos, por exemplo, os estudantes ficam em casas de famílias e têm a oportunidade de conhecer costumes locais, aprender um novo idioma e contribuir às atividades sociais”, explica a psicóloga Rozana Andrade Romualdo, presidente do comitê da AFS na capital. 

“Para uma experiência mais ampla, no caso do intercâmbio, por exemplo, recomendamos o de um ano. Existe uma linha de acompanhamento, há o período da primeira expectativa e o de adaptação, situações que as pessoas vivem em um outro país. Por isso, há todo um período de preparação antecipada”, finaliza. 

Cursos auxiliam na adaptação

Antes de colocar a mochila nas costas e embarcar em uma viagem humanitária, é preciso se preparar para os imprevistos. A principal preocupação das agências que fazem a ponte entre os interessados em ser voluntários e os que recebem ajuda é com o psicológico do viajante. 

“É fundamental, antes da viagem, que a pessoa tenha o certificado de competências globais. É onde se aprende a lidar com situações adversas, aprender sobre a cultura do país para que se vai viajar, como trabalhar nesse destino e doar seu tempo da melhor maneira”, explica Rozana Romualdo, presidente do comitê da AFS em BH.

Segundo Mariana Serra, fundadora da Volunteer Vacations, os turistas voluntários fazem um pré-cadastro, e a partir dele são preparadas as etapas antes da viagem. “Precisamos saber das expectativas das pessoas para formular a capacitação, com uma metodologia de ambientação”, diz

Quanto custa?

Estados Unidos. Passar um ano estudando em intercâmbio, o High School, custa a partir de US$ 15,5 mil, com saída em agosto 2019 e retorno em junho de 2020. A estadia é em casas de famílias locais. Para outras informações, acesse afs.org.br. 

Quênia. Participar de projetos de empoderamento feminino no país, em uma viagem de sete dias, custa a partir de U$S 577, com transfer, hospedagem, café da manhã e jantar inclusos. Passagens áreas à parte. Mais detalhes em:  volunteervacations.com.br 

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