Gastronomia

Está aberta a temporada de festivais da jabuticaba em Minas Gerais

Cachoeira do Campo, em Ouro Preto, realiza 27ª festa no fim de semana; 33° festival de Sabará acontece de 15 a 17 de novembro

Ter, 15/10/19 - 03h00

Ouça a notícia

“Aluguel de jabuticabeiras: R$ 15 por pessoa. Será um prazer receber sua família e amigos”. Um inusitado anúncio de aluguel de pés de jabuticaba me levou até o senhor. Edmundo Costa, de 75 anos. Aposentado e dono de uma chácara em Pompéu – povoado em Sabará –, ele é “cuidador” de 23 árvores do “ouro negro”. “Olha, para novembro vai ter um ‘mucado’, mas não é muito, não. Não quer chover: então está vindo parcelado. Saiu frutinha, mas é miudinha demais. Estou confiante de que vai chover agora, neste fim de semana… A flor já está caindo”, conta Edmundo pelo telefone, quase em tom de prece. 

Mas a falta de chuva não será um problema para os outros mais de 30 produtores de jabuticaba de Sabará, responsáveis pelas 130 toneladas consumidas pelo público durante os três dias do tradicional festival – realizado há 33 anos. “No ano passado a gente fez a festa quase sem jabuticaba, mas isso não vai acontecer de novo. Estamos monitorando as jabuticabeiras. Ela (a jabuticaba) é a estrela da festa. Os produtores da associação estão fazendo um processo de irrigação do pomar. Temos certeza da produtividade. Antes dependíamos só do clima”, esclarece Meire Ribeiro, presidente da Associação de Produtores de Derivados da Jabuticaba de Sabará (Asprodejas). O evento de 2019 já tem data definida: de 15 a 17 de novembro. 


Potencial

Esse aprendizado e outros tantos serão levados para Cachoeira do Campo, distrito de Ouro Preto, que se autointitula a maior produtora de jabuticaba do Estado. No próximo fim de semana, de 18 a 20/10, será realizada a 27ª edição da Festa da Jabuticaba, que deve atrair cerca de 10 mil pessoas por dia.

Helvécio Arantes, que já atuou na equipe de organização do festival de Sabará, é hoje um dos integrantes da comissão à frente da festa do distrito ouropretano, uma realização do Lions Clube Cachoeira do Campo com o apoio da prefeitura. A ideia, segundo ele, é potencializar o uso da jabuticaba pelos produtores. “Neste ano, teremos oficina com Milsane Sebastião, que revolucionou a produção em Sabará. Vamos ensinar como tirar muito mais da fruta. Hoje você encontra produtos sabarenses em toda parte do Brasil”, explica. 

A publicitária e cozinheira Milsane foi responsável por dois projetos em Sabará: o Jabuticaba Gourmet e o Como Sabará. O primeiro, em parceria com a Agência de Desenvolvimento Econômico e Social de Sabará, capacitou 24 produtores locais. “Ele tinha o objetivo de fazer com que a produção da jabuticaba deixasse de ser uma atividade informal. Apresentamos esses produtos de jabuticaba como ingrediente e gerou uma demanda espontânea na cidade”, conta. 

Já o Como Sabará levou os produtos para dentro dos restaurantes locais. “Diferentemente de cinco anos atrás, a maioria dos estabelecimentos agora têm um prato com jabuticaba. Queremos fazer a mesma coisa em Cachoeira do Campo: incrementar a produção de derivados da fruta; realizar esse fomento para desenvolver o negócio da jabuticaba”, explica. 

No sábado, 19, Milsane ministrará uma oficina de fabricação de doces e geleias artesanais a para os produtores locais do distrito mineiro. No domingo, haverá uma cozinha show com dois chefs convidados. A itabiritense Dona Zizi vai preparar um pastel de angu com recheio da fruta e o chef Alex Afonso criará um prato português. 

“A jabuticaba é um ingrediente de respeito. É versátil: combina com prato salgado e doce. Gera curiosidade e fascínio nas pessoas. Há uma fartura muito grande em Cachoeira do Campo. É um produto que tem tudo para dar certo”, avalia Milsane. O intuito, segundo ela, é tirar o caráter sazonal da produção de jabuticaba e potencializar o negócio – é somar forças do produtor com o dono do restaurante e o da pousada. “A partir dessa reunião, a atividade turística em torno da jabuticaba cresce no distrito”, explica

Criatividade garante produção de derivados da fruta em Sabará

Molho, geleia, licor, vinho, vinagre, farinha ou cristalizada: a jabuticaba é, sim, muito versátil, como garante a cozinheira Milsane Sebastião. Sabará, terra onde ela ajudou a fomentar a fabricação de derivados do fruto, ganhou em outubro de 2018 um selo de indicação geográfica dos produtos. Mas só agora, em 2019, a novidade foi divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Entramos com o processo tem quatro anos. Foi demorado porque tivemos que comprovar a importância dos derivados para a cidade. Mas o festival nos ajudou muito. São 33 anos comercializando os produtos”, conta Meire Ribeiro, presidente da Asprodejas. Hoje, são 27 produtores de derivados de jabuticaba e mais de 30 do fruto in natura. “A associação consome mais de 60 toneladas por ano”, conta. 

O aluguel dos pés de jabuticaba

Alugar uma jabuticabeira não é apenas uma invencionice do senhorndo, de Pompéu. A prática é comum em Sabará. “Antigamente, as pessoas iam para a cidade só para alugar o pé de jabuticaba. A pessoa paga um valor e consume o que quiser. Se for levar, o produtor cobra o valor do litro da fruta”, conta Meire Ribeiro,da Asprodejas. Ainda hoje há dez fazendas na região em que é possível ter um pé pra chamar de seu por algumas horas. “Mais perto do festival anunciamos nas redes,e os contatos ficam na prefeitura”, avisa Meire. 

A secretária de Turismo de Sabará, Carmen Alves, adianta que entre as novidades deste ano estarão o espaço kids e o aventura, que contará com um muro de escalada e atividades de trekking e bike. “As pessoas vão chegar, tomar um café e fazer a caminhada”, conta. O concurso de jabuticaba que tradicionalmente abre o festival escolhendo o melhor entre licores, geleias e produtos inovação também é certo na programação, assim como o cozinha show, que leva chefs renomados para o festival. 

Serão 14 barracas de gastronomia, vendendo produtos como o brigadeiro salgado de jabuticaba. As porções devem custar R$ 25.

 
Cachoeira do Campo: a tradição criada por jovens
“A primeira festa foi em 1992. O palco foi na carroceria de um caminhão”, lembra Paulo Xavier, membro da organização da Festa da Jabuticaba, em Cachoeira do Campo, maior distrito de Ouro Preto, a 21 km da cidade histórica. Segundo ele, a primeira festa surgiu por iniciativa de um grupo de adolescentes do Lions Club, entidade internacional voltada à prestação de serviços à comunidade. “Naquela época, havia muitos pés de jabuticaba no distrito. Os quintais eram cheios”, lembra, esclarecendo que, hoje, com a restrição da expansão urbana em Ouro Preto, o distrito passou a ser alvo de novos moradores, e os espaços verdes deram lugar a residências. 
 
A festa contará com shows de bandas regionais, como Amigos do Samba, espaço recreativo para crianças e, claro, uma grande área de alimentação e estandes de venda de produtos da região com cerca de dez barracas. “O visitante poderá comprar o produto in natura e outros como geleia, vinho, licor, bolo, torta, sorvete de jabuticaba e picolé”, detalha Paulo. 

Serviço

27ª Festa da Jabuticaba de Cachoeira do Campo

Data. 18 a 20/10
Local. Praça da Matriz
Informações no siteGratuito.

Como chegar

De carro. Saindo de BH, são 98 km. Siga pela BR–040 (sentido Rio). Depois de 20 km, pegue a BR-356 para Ouro Preto. Cachoeira do Campo fica a 20 km, seguindo pela BR–356, à caminho de Itabirito.


33ª Festival da Jabuticaba de Sabará

Data. 15 a 17/11
Local. Praça Mello Viana e praça Santa Rita.
Informações no site: Gratuito.

Como chegar

De carro. De BH a Sabará são 20 km. Siga pela av. Cristiano Machado e pegue a BR–262 (sentido Vitória) ou siga pela av. dos Andradas “toda vida”. Serão cerca de 30 minutos.

 

Quer conferir os bastidores das nossas viagens e ter acesso a dicas quentes de turismo no seu feed? Siga-nos no Instagram @superviagemoficial.

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.