Entrevista

"Minas Gerais cresceu o dobro da média nacional no turismo", afirma Romeu Zema

Em entrevista ao Turismo, governador fala dos números promissores do setor na pandemia e revela parceria com a TAP

Por Paulo Campos
Publicado em 07 de novembro de 2021 | 10:43
 
 
Romeu Zema: "O novo relatório divulgado pelo Observatório do Turismo de Minas Gerais registra que, em agosto de 2021, mais de 2 milhões de viajantes circularam pelo Estado" Fred Magno/o Tempo

Em mais de 15 anos no turismo, essa é a primeira vez que vejo um governador de Estado conceder uma entrevista exclusivamente para uma editoria de turismo. Esse gesto por si só é importante à medida em que ele se compromete em desenvolver a atividade no Estado, se dispõe a ouvir os atores envolvidos e a investir em infraestrutura e geração de empregos no setor, hoje um dos mais afetados pela pandemia.

Em setembro de 2018, quando entrevistei Romeu Zema pela primeira vez, o então candidato ao governo de Minas pelo Partido Novo já falava "em estimular a maneira mais orgânica de participação da sociedade no desenvolvimento do turismo no Estado". "Nosso governo quer fomentar a iniciativa e a criatividade da sociedade para fazer o turismo trilhar novos caminhos", dizia.

Esses caminhos, segundo ele, passavam pela promoção e por uma infraestrutura robusta. Zema também fazia uma correlação entre turismo e cultura e já esboçaca, se eleito, uma fusão das duas secretarias. Para comandá-la, ele dizia que "não serão indicações políticas" e, portanto, colocou técnicos como o jornalista Marcelo Matte (2019) e o arquiteto Leônidas Oliveira (2020/2021).

Passado três anos de mandato, Zema reconhece que sua visão de turismo mudou um pouco."Sempre se muda alguma coisa, devido ao próprio amadurecimento diante da vivência. Entendemos o papel do Estado, com políticas públicas, para fomentar o turismo", destaca. Em maio, depois de 14 meses de pandemia, o governador lançou o Reviva Turismo, um conjunto de políticas públicas para nortear a retomada do turismo no Estado. 

Desde que o programa foi colocado em prática, os números do turismo mineiro têm melhorado substancialmente mês a mês. "A importância do turismo para a economia é fundamental, pois aumenta o consumo e a produção de bens e serviços e, consequentemente, gera mais empregos", dizia o então ainda candidato.

Até dezembro, o Reviva Turismo investirá cerca de R$ 25 milhões no Estado. Como consequência, já atraiu dois megaprojetos turísticos para o Estado nos últimos meses: um grupo paulista está criando um empreendimento sustentável, no entorno do Parque Estadual da Serra da Mantiqueira, e outros dois empresários já colocaram em operação o Parque Mirante dos Canyons, ambos somando cerca de R$ 22 bilhões. 

Nesta entrevista, Romeu Zema fala do Reviva Turismo, da concessão à iniciativa privada do aeroporto da Pampulha, do processo de tombamento dos lagos de Furnas e Peixoto e dos investimentos em infraestrutura para melhorar a experiência do turistas no Estado. E também revela uma nova parceria com a TAP para implantar o stopover em Belo Horizonte.

Quais as marcas que o sr. pretende deixar no turismo do Estado neste mandato? Os setores do turismo e da cultura foram dos mais afetados neste período de pandemia e estão em franco processo de recuperação no quesito geração de emprego e renda. Somos o Estado com uma cultura única e efervescente, a mineiridade, nosso povo está entre os mais acolhedores do mundo, segundo a plataforma Booking, a cozinha mineira está em processo para ser registrada como Patrimônio Imaterial do Estado e com pretensões de se tornar patrimônio mundial. Minas Gerais é tendência hoje e é por todo esse conjunto que pretendemos construir nosso legado na área do turismo durante nossa gestão.

Mudou muito a ideia que o sr. fazia do turismo antes como candidato ao governo de Minas e agora como governador? Certamente, sempre se muda alguma coisa, devido ao próprio amadurecimento diante da vivência. Entendemos o papel do Estado, com políticas públicas, para fomentar o turismo. Então, a Secretaria de Cultura e Turismo tem trabalhado no sentido de divulgar Minas Gerais, deixar claro para o povo mineiro, brasileiro e no exterior que temos muitos atrativos no Estado. Porque muitos brasileiros iam para o exterior antes, mas agora, devido à pandemia, esses turistas vão privilegiar destinos mais próximos. Também já estamos avançando sistematicamente no sentido de internacionalizar o destino Minas Gerais.

O Reviva Turismo, lançado em maio, começou a produzir números positivos para o setor em Minas. Como o sr. avalia essa estratégia? O diferencial para que essas estratégias deem certo é ouvir os atores envolvidos. Estamos viajando por todo o Estado e conversando com quem trabalha na ponta, com quem faz acontecer e ouvindo o que eles precisam, para aplicar isso nas políticas públicas. Em vários setores já é possível perceber claramente essas mudanças. O ato de viajar e o que as pessoas procuram ao fazer turismo são exemplos disso. Minas Gerais vem se destacando com números substanciais que indicam o crescimento do turismo no Estado, colocando-o como o principal destino brasileiro em 2021. Desde que o Reviva Turismo foi colocado em prática, o fluxo turístico em Minas Gerais identificou uma movimentação de mais de 6 milhões de pessoas, garantindo números maiores inclusive que o período anterior à pandemia. Segundo dados recentes do IBGE, de julho, Minas Gerais cresceu o dobro da média nacional no turismo.

O sr. já consegue vislumbrar uma correlação de turismo com empregos e desenvolvimento em Minas nos próximos anos? O turismo é um dos maiores geradores de emprego e renda no mundo. E no que diz respeito ao movimento de empregos no setor do turismo em Minas Gerais, eram registradas quedas até o mês de maio. Porém, a partir de junho, com a recuperação exponencial que o setor vem passando, já houve registro de mais de 12 mil novas vagas preenchidas no acumulado. Somente no último mês de agosto, foram registrados mais de 5.000 postos de trabalho ocupados no setor do turismo no Estado. O programa Reviva Turismo colocou como meta o aumento de 100 mil empregos na área em 15 meses. Em três, o Estado já alcançou, portanto, 12% desse montante. Queremos que em pouco tempo, a medida que a vacinação avançar, essa atividade tão importante, que gera tantos empregos, venha a ter mais força que tinha antes da pandemia. É isso que acreditamos. Pelo Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, por exemplo, uma das portas de entrada para o Estado, em agosto de 2019, período pré-pandemia, passaram cerca de 570 mil pessoas. Já em agosto de 2021, o fluxo superou 670 mil turistas, ou seja, mais de 100 mil novos viajantes pelo Estado. O novo relatório divulgado pelo Observatório do Turismo de Minas Gerais (OTMG) registra que, em agosto de 2021, mais de 2 milhões de viajantes circularam pelo Estado. 

Sobre o tombamento dos lagos de Furnas e Peixoto, que gerou polêmicas, como o sr. justifica a importância da medida para o Estado? O tombamento e a cota mínima para o nível do lago de Furnas são fundamentais para toda a região. Temos uma dependência enorme, não só da questão turística, mas das atividades econômicas que o lago envolve, como piscicultura, irrigação e muitas outras. Conheço essa questão, desde os anos 2000, quando estive no lago e naquela época estava baixíssimo. Desde o início de minha gestão, tenho atendido prefeitos e acompanhado de perto esse problema. No ano passado, estive com o ministro visitando o lago, onde foi assumido que a Cota 762 seria respeitada. Se esse problema fosse fácil, simples, já teria sido resolvido. É complexo e está dentro do contexto Brasil, que sofre com a falta de planejamento. Vivemos uma crise hídrica que se desdobrou para uma crise energética, com risco de desabastecimento. Com operação do sistema elétrico no limite. Não é um problema que se resolve em um ano. É um problema que deveria ter sido resolvido há 20 anos. Como todo o sistema é interligado, quando em um lugar dá errado, afeta a todos. Estamos tratando o tema desde o início do mandato, tratei com vários operadores e continuarei tratando. A resolução desse problema exige um planejamento de ações que estamos tomando que vão se refletir em cinco ou dez anos, além de um pouco mais de chuva. Quero deixar claro que estamos fazendo tudo o que está ao nosso alcance. Mas não é um problema que se resolve de um dia para o outro. Estou otimista quanto ao futuro. Estamos recebendo investimentos recordes em outras matrizes e espero que, em breve, possamos ter uma energia mais limpa, mais barata e que preserve o nível dos reservatórios.

O turismo cultural e o ecoturismo são fortes em todas as regiões do Estado. Algum outro segmento que Minas poderia investir mais? O turismo religioso e o turismo rural. Minas tem manifestações religiosas importantes, que envolvem milhões de pessoas num calendário anual, como acontece na Serra da Piedade, em Caeté; a Romaria em Uberaba e o Bom Jesus do Matozinhos, em Congonhas, por exemplo. O turismo rural conectado, principalmente, com a cozinha mineira pode promover experiências únicas aos visitantes. O Estado é o maior produtor de café do mundo, possui queijos e azeites premiados mundo afora, entre outras maravilhas gastronômicas. Lembrando que a cozinha mineira está em processo de ser considerada patrimônio cultural estadual.

Sobre a cozinha mineira, qual é a importância para Minas desse produto turístico se tornar um Patrimônio Imaterial do Estado? Ficamos entre os destinos mais hospitaleiros. E muito disso se deve à gastronomia. Por isso, lançamos o Plano Estadual de Desenvolvimento da Cozinha Mineira. Com certeza, o plano vem para sacramentar ainda mais esse destino turístico interessante que é o nosso Estado. Nosso esforço e trabalho é para que este projeto frutifique em todos os cantos de Minas, trazendo mais turistas, divulgando a nossa cultura. Para mim, é um orgulho termos algo que é da nossa terra e que nos distingue de outros Estados. Tornar nossa gastronomia patrimônio mundial é um caminho natural, uma vez que cerca de 30% dos turistas vêm ao nosso Estado por causa da nossa cozinha.

O sr. é a favor da regulamentação dos cassinos? Como Minas poderia se beneficiar dessa medida? O retorno desses tipos de jogos depende do aval do Congresso e da sanção presidencial. Pessoalmente, sou favorável, desde que haja regras rígidas para impedir a associação às organizações criminosas. Seria uma maneira de incrementar a arrecadação. Atualmente, quem gosta de jogar vai para fora do Brasil para fazer isso.

Para internacionalizar Minas é preciso mais voos partindo diretamente de nossos aeroportos. Hoje, temos operações da TAP e Copa Airlines. A Eastern Airlines adiou a estreia para 2022. O governo está negociando com alguma companhia aérea para trazer novos voos para o Estado? Temos um projeto com o Indi (Instituto Integrado de Desenvolvimento Econômico) para essas demandas, mas tivemos que paralisar nos últimos meses devido à pandemia. Esse processo está sendo retomado e temos negociações em andamento com a própria TAP, em uma viagem para Portugal, com possibilidade de stopover, que em Belo Horizonte não tem, além de outras ações.

O aeroporto da Pampulha foi concedido à iniciativa privada. Essa concessão não esvaziaria o movimento do terminal de Confins? O Estado adotou nos últimos anos um caminho longe de ser o melhor. Temos a tarefa de colocar Minhas Gerais nos eixos novamente. O foco da nossa gestão tem sido equilibrar as contas e arrumar a casa. Tudo que é possível tem sido feito. Reduzimos o custeio em 50%, mesmo assim temos um Estado com déficit. O fluxo de caixa é previsível, mas as privatizações são fundamentais, a iniciativa privada tem muito mais agilidade e condições de gerir os negócios em comparação ao setor público. Com o Estado quebrado, não temos condições de fazer os investimentos necessários nesses negócios. A privatização do aeroporto da Pampulha, com certeza, será importante para incrementar o turismo. É possível uma operação conjunta entre os dois aeroportos no sentido de beneficiar o setor. Pampulha foi concedido por 30 anos e será administrado pela mesma empresa que é responsável por Confins. A expectativa é que, nos próximos anos, o aeroporto seja totalmente revitalizado, fazendo sinergia com a concessão do Mineirinho, que também está em curso e será concedido à iniciativa privada por 30 anos, o que deve acontecer no início de 2022. A expectativa é que o espaço volte a ser palco de grandes eventos esportivos e shows. 

O governo de Minas já destacou, entre suas prioridades, mobilidade e infraestrutura, dois pontos importantes principalmente para o turismo. O que já foi (ou está sendo) feito nesse sentido? Assumimos a gestão com uma grave crise financeira. Ainda assim, seja por acordos judiciais, emendas parlamentares, parcerias com o mercado privado, entre outros, conseguimos viabilizar projetos importantes para o desenvolvimento econômico mineiro, incluindo importantes obras e que impactarão positivamente o turismo. Nossa meta é viabilizar esses investimentos. Dentre os projetos que avançamos estão a pavimentação da LMG-760, que liga Marliéria a BR-262, beneficiando diretamente o Parque Estadual do Rio Doce. A concessão de parques (Rota Lund), que vai melhorar a gestão desses ativos e potencializar a atração de pessoas. A concessão do lote rodoviário Varginha-Furnas, com 432,8 km de extensão, que está em fase de consulta pública e vai ajudar a fomentar o turismo na região, principalmente em Furnas/Capitólio. Outra concessão será a do lote Ouro Preto, que abrange as rodovias BR-356, MG-262 e MG-329 e totaliza 190 km de extensão. Esse investimento vai impulsionar o turismo na região histórica de Ouro Preto/Mariana. Também destaco a recuperação da malha rodoviária de forma geral, dentro do Acordo de Reparação da Vale. Parte dos recursos será usada para a recuperação funcional de rodovias fundamentais para o Estado, como a BR-367, que liga MG com a Bahia, e a MG-290, no Sul do Estado. Toda melhoria da pavimentação da malha estadual beneficiará diretamente o turismo dentro do Estado, uma vez que o deslocamento de carro se tornará mais confortável, rápido e seguro. Além disso, temos a reinauguração do aeroporto de Ipatinga, que será fundamental para impulsionar o turismo no Vale do Aço.