Minas Gerais

Trigo na terra do pão de queijo

Estado brasileiro é o segundo em produção de rótulos de c ervejas artesanais, atrás apenas de Santa Catarina

Dom, 07/09/14 - 03h00
Clientes no balcão do Botiquin do Antônio, no Mercado Central, ponto de encontro na capital aos sábados e domingos | Foto: Eduardo maia/Agência O Globo

Nas horas que precedem o almoço de domingo, os bares do Mercado Central, um dos símbolos de Belo Horizonte, fervem. Homens e mulheres se apertam nos balcões dos botecos, todos dominados pelas marcas da maior cervejaria do planeta. Todos? Não.

“Zé, me dá aquele de trigo aí!”, pediu um impaciente freguês, antes de prestar consultoria de botequim ao vizinho de balcão. “Esse vai bem com o jiló frito”.

“Aquele de trigo” é um dos três tipos de chope que o Botiquin do Antônio serve. O bar só vende bebidas da cervejaria Bäcker, uma das pioneiras da cena das cervejas especiais de Minas Gerais. A presença de uma marca local em um reduto da grande indústria mostra bem a força da cerveja mineira.

“Meu produto principal ainda é a cachaça, mas cada dia chega mais gente aqui procurando cervejas locais. A que mais vende é a Wäls Dubbel”, conta Carlos Henrique de Menezes, proprietário da cachaçaria Barroca, a única que vende cervejas especiais no mercado.

O campeão de vendas de Menezes é atualmente o maior orgulho dos cervejeiros mineiros. A Wäls Dubbel foi eleita a melhor dubbel (estilo de ale belga que leva o dobro de malte que o normal) do mundo na prestigiada World Beer Cup, em maio, disputada em Denver. Na mesma competição, a Wäls levou a prata na categoria quadrupel. Um dos resultados da conquista é o movimento na cervejaria, que fica em uma zona industrial perto da lagoa da Pampulha. Todo sábado, a Wäls abre as portas de seu tasting room, onde se pode provar a produção da casa, que nunca tem menos de dez tipos de chope.

Além da dubbel, vale a pena a Saison de Caipira, feita com cana-de-açúcar, numa receita em parceria com o mestre cervejeiro Garrett Oliver, da Brooklyn Brewery, de Nova York.

Beertequização

Os nova-iorquinos são uma inspiração para os mineiros, tanto no bar (em ambos, compra-se fichinhas para trocar por bebidas) quanto na efusiva visita guiada à fábrica, feita por José Felipe Carneiro, um dos sócios e mestre cervejeiro. Ele assume a tarefa de “beertequizar” os visitantes, mostrando cada etapa do processo. O tour termina na lojinha, onde é difícil resistir entre tantos rótulos, como a Wäls Brut, uma Belgian Strong Ale com levedura de champanhe fermentada na garrafa pelo método champenoise.

Carneiro acredita que o processo de baixa fermentação usado em suas principais receitas ajuda na fama de “Bélgica brasileira”. Mas vê na variedade de estilos o real motivo do apelido e o grande trunfo da cena mineira: “Ao contrário de Santa Catarina e sua herança alemã, em Minas Gerais não temos influência mais forte de nenhuma escola, por isso nos dedicamos a todas”.

O modelo da Wäls é uma inspiração para outras cervejarias locais. A Bäcker irá abrir em sua fábrica, no bairro Olhos d’Água, em setembro, um restaurante. 

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