Vivências

Turismo de experiência: 'O DNA de Minas é oferecer muita autenticidade'

Roteiros propiciam vivências únicas e memoráveis em várias localidades do Estado

Ter, 21/09/21 - 09h51

O turismo, por si, já é uma experiência. Mas essa experiência pode ser potencializada em uma viagem e aproximar o turista da cultura local, de uma vivência única. Colher grãos de café do pé, cultivar plantações que mais tarde virarão a refeição, aprender a fazer cerâmica, hospedar-se na casa de nativo...

Atividades simples como essas fazem parte do turismo de experiência e podem proporcionar recordações marcantes, principalmente se envolvem aprendizado e consumo da cultura local. O conceito de turismo de experiência não é novo, principalmente em destinos no exterior, mas ganhou força e relevância no Brasil com a pandemia. 

“O turismo de experiência é diferente do tradicional por conta de uma inversão do foco. Se no tradicional o foco é o produto, no de experiência é o que o cliente vai levar ao usufruir o produto: a vivência”, afirma Vinícius Policarpo Quintão, consultor do Sebrae Minas. E não tem como descolá-lo do receptivo local, que é quem amarra e oferece essas experiências. 

Paracatu

O trabalho do Sebrae em Paracatu é um bom exemplo. A cidade do Noroeste de Minas, em meio ao Cerrado, encanta pelo patrimônio, cultura e gastronomia. Na localidade, foi criada a Trilha do Patrimônio, três experiências no centro histórico e focadas em públicos distintos – técnico-científico, para crianças e tradicional. Muda apenas a interpretação do roteiro.

Para Quintão, o mais importante é conhecer a demanda, quem visita o destino para definir roteiro, tempo de permanência, gasto médio. Diferente do tradicional, em que o que interessa é a visitação, o turismo de experiência é focado na revisitação, na fidelização.

Minas Gerais tem, segundo Quintão, um potencial absurdo para o turismo de experiência, porque cada região é diferente uma da outra, com o que concorda Marina Figueiredo, vice-presidente da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa). A entidade lançou em março a Academia de Excelência para ampliar e diversificar a oferta da experiência no turismo. 

Academia de Excelência

“Minas tem em sua essência a experiência”, salienta Marina. Principalmente a gastronomia, que é um patrimônio invejável. “Em cada pedaço do Estado há algo autêntico, está no DNA, mas é preciso lapidar para virar um produto”, considera. A segunda etapa do programa Experiências Incríveis, que deve acontecer entre setembro e outubro, terá a parceria de Minas Gerais.

Com o apoio da Secretaria e Estado de Cultura e Turismo (Secult), um grupo de empreendedores mineiros participará de capacitações na Academia de Excelência. “É preciso estimular o empresário, o receptivo, o dono do atrativo, o produtor local, o artesão, para continuar a ter seu negócio de forma mais profissional e trazê-lo para o turismo, para gerar fonte de renda”, conclui.

Na região de Brumadinho

Na região de Brumadinho, o Circuito Turístico Veredas do Paraopeba, a Vale e o receptivo Turismo 360° se uniram para criar experiências inovadoras, uma nova forma de explorar os destinos do Circuito Turístico Veredas do Paraopeba.

O viajante pode produzir e customizar seu próprio picolé em uma minifábrica de picolés artesanais (Empório Caipira), participar da produção agroecológica de um grupo de 20 famílias (Projeto Pastorinhas), experimentar um autêntico café da manhã mineiro (Hotel-Fazenda Igarapés), aprender sobre a culinária mineira com as Mestras de Igarapé ou com o chef Reinaldo Mendes (Casa do Rei).

Quesia Radespiel, proprietária da fábrica Artesanal Sabores, criou um espaço para o visitante degustar produtos tipicamente mineiros, como o doce de leite, o café artesanal, a paçoca de pilão, a broa de pamonha e a geleia de abacaxi com pimenta. “Somos um pedaço de Minas dentro de Igarapé”, define. Com consultoria dos parceiros no projeto, já se sente mais preparada para o retorno do turismo à região.

Durante um ano, três agências de receptivo, 15 empresas de alimentos, um guia de turismo, 21 meios de hospedagem e dez produtores associados ao turismo participaram do Projeto para o Fortalecimento e Competitividade do Setor Privado do Turismo, desenvolvido pelo Circuito Turístico Veredas do Paraopeba, em parceria com a Vale e executado pela Turismo 360º. Eles receberam assistência técnica em diferentes áreas de gestão, além de consultoria em marketing e mídias sociais e apoio para o desenho das experiências. 

Os dez roteiros de experiência, segundo Jannyne Barbosa, coordenadora geral do projeto pela consultoria Turismo 360º, têm o propósito de diversificar a oferta turística da região. “Com isso, aumentamos as possibilidades de retenção do turista por mais tempo e geramos renda”.

Sempre-viva no Cerrado

Uma experiência interessante no Cerrado é sair com os apanhadores para colher sempre-viva, planta nativa da serra do Espinhaço. “É trazer o visitante para o modo de vida local”, afirma Vinícius Quintão. As flores carregam importância histórica, econômica e sociocultural. A coleta da sempre-viva é uma tradição e fonte de renda para muitas famílias.

No Sul de Minas, produtores de café de alta qualidade já abrem as suas propriedades para os visitantes conhecerem o processo de produção e curtirem os ares das fazendas.Em Carmo de Minas, a Rota do Café Especial contempla visitas à Fazenda Centenária, fundada em 1891, que ganhou prêmio internacional em 2005 como “o melhor café do mundo”. Em Januária, a experiência é uma imersão na vivência do ribeirinho. “O Norte de Minas ainda precisa ser desbravado pelo mineiro”, lamenta Vinícius Quintão.

Leia mais em Retomada: Minas Gerais busca recuperar o tempo perdido na pandemiaCerca 22,9% dos turistas pretendem viajar dentro do próprio Estado e Minas Gerais registra números positivos no turismo desde maio.

 

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