Tiros de soldados israelenses mataram pelo menos 32 pessoas que se dirigiam a um posto de distribuição de ajuda humanitária na Faixa de Gaza na madrugada deste sábado (19/7), segundo o Ministério da Saúde do território palestino, controlado pelo Hamas, e o Hospital Nasser, em Khan Younis.

Casos do tipo viraram rotina desde que a Fundação Humanitária de Gaza (FHG), sistema de distribuição de ajuda apoiado por Israel e Estados Unidos, começou a operar, em maio.

Na última terça-feira (15/7), o escritório de direitos humanos da ONU em Genebra informou ter registrado pelo menos 875 assassinatos nas últimas seis semanas nos arredores dos pontos de ajuda em Gaza - a maioria deles perto de locais de distribuição da FHG.

Israel diz ter feito tiros de advertência contra suspeitos que se aproximaram de suas tropas após elas não atenderem a chamados para parar, a cerca de um quilômetro de um posto que não estava ativo naquele momento.

Um morador de Gaza, Mohammed al-Khalidi, contesta a versão. Ele disse à agência de notícias Reuters que estava no grupo que se aproximava do local e não ouviu nenhum aviso antes do início dos disparos. "Pensamos que eles tinham vindo para nos organizar para que pudéssemos obter ajuda, mas de repente vi os jipes vindo de um lado e os tanques do outro e eles começaram a atirar em nós", afirmou.

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Outra testemunha contou à agência de notícias AFP que, antes do amanhecer, seguia com cinco parentes a um desses centros no sul de Khan Younis para buscar comida quando soldados israelenses começaram a atirar. "Meus familiares e eu não conseguimos nada", disse Abdul Aziz Abed, 37. "Todos os dias vamos lá e só recebemos balas".

Já a FHG afirmou que não houve incidentes ou mortes no local no sábado e que tem alertado repetidamente as pessoas para não se deslocarem aos seus pontos de distribuição à noite. O Exército disse estar revisando o incidente.

A fundação, que utiliza empresas privadas de segurança e logística dos EUA para levar suprimentos a Gaza, começou a distribuir alimentos para os palestinos no fim de maio, quando já enfrentava críticas a respeito de seus procedimentos. Às vésperas do início da operação, o próprio chefe da fundação naquele momento, Jake Wood, abandonou o cargo sob a justificativa de que a organização não conseguiria aderir aos "princípios humanitários de humanidade, neutralidade, imparcialidade e independência".

O caos na entrega de alimentos foi previsto pela ONU e por outras entidades que atuam no território palestino e que se recusaram a colaborar com o órgão devido ao seu modo de funcionamento, considerado pouco transparente.

Antes da operação, autoridades israelenses disseram que iriam verificar se as famílias atendidas tinham envolvimento com o Hamas antes de distribuir a comida - Tel Aviv afirma que o sistema anterior, liderado pelas Nações Unidas, permitiu que membros do grupo terrorista saqueassem carregamentos de ajuda humanitária destinados a civis, o que a facção nega.

Devido às restrições impostas por Israel no território palestino, a imprensa internacional não consegue verificar as informações de forma independente.

Resoluções da Assembleia-Geral da ONU determinam que a ajuda deve se guiar apenas pela necessidade das pessoas afetadas, sem qualquer distinção religiosa, política ou ideológica, e deve ser supervisionada por uma parte neutra.

De acordo com projeção da Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC), iniciativa apoiada pela ONU, 100% da população em Gaza está em risco de insegurança alimentar, e 470 mil estão em "níveis catastróficos" de fome. No primeiro semestre deste ano, o território foi submetido a 11 semanas de bloqueio total por Israel.

"Alertamos que centenas de pessoas, cujos corpos estão completamente emagrecidos, estão agora em perigo iminente de morte", disse Sohaib Al-Hums, médico e diretor do hospital de campanha do Kuwait na área de Al Mawasi, em Khan Yunis. Ele afirmou que suas equipes atendem casos de "exaustão extrema" e "desnutrição grave" devido à privação prolongada de alimentos.

Além das mortes perto dos centros de distribuição, pelo menos mais 18 pessoas foram mortas em outros ataques israelenses em Gaza neste sábado, disseram autoridades de saúde do território. O Exército afirmou ter atingido depósitos de armas e postos de tiro de militantes em alguns locais do enclave.

A guerra começou após um ataque terrorista liderado pelo Hamas no sul de Israel que matou 1.200 pessoas e fez 251 reféns em outubro de 2023. A guerra de retaliação já matou cerca de 58 mil palestinos, segundo autoridades de Gaza, controlada pelo Hamas, deslocou quase toda a população e mergulhou o território em uma crise humanitária sem precedentes, deixando grande parte da região em ruínas.