Conflitos violentos na província de Sueida, reduto da minoria drusa no sul da Síria, deixaram mais de 1.200 mortos na última semana, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos. Sueida é palco de conflito étnico entre grupos armados que escalou nos últimos dias. Os confrontos entre combatentes beduínos sunitas e milícias drusas no sul da Síria iniciaram no último domingo, dois dias depois que um comerciante druso foi supostamente sequestrado enquanto viajava na estrada para Damasco. 

A maioria dos mais de 1.200 mortos era de combatentes drusos e civis da minoria religiosa. Segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, 336 deles faziam parte da milícia drussa e 298 eram civis do grupo. Desses, 194 foram "sumariamente executados" por autoridades dos Ministérios da Defesa e do Interior do país, de acordo com a organização.

Entre as outras centenas de vítimas, 342 eram agentes de segurança do governo e 21 beduínos sunitas. Ainda de acordo com o observatório sírio, 15 membros das forças governamentais morreram vítimas de ataques aéreos israelenses e três também foram "sumariamente executados" por combatentes drusos.

Os combates são o mais recente exemplo de conflito entre minorias na Síria. A população do país forma um complexo mosaico de etnias e religiões, enquanto a convivência entre os grupos é um dos principais desafios enfrentados pelo governo de Ahmed al-Sharaa, ex-membro de um grupo ligado ao Estado Islâmico e à Al Qaeda que assumiu o poder após a queda do ditador Bashar al-Assad, em dezembro.

Na última semana, mais de 87 mil pessoas foram deslocadas da região e outras centenas ficaram feridas, segundo a OIM Organização Internacional para as Migrações. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha manifestou preocupação com "a deterioração rápida da situação humanitária" em Sueida. "As pessoas estão sem nada e os hospitais têm cada vez mais dificuldade de atender os feridos e doentes", disse Stephan Sakalian, chefe da delegação do comitê na Síria.

Ontem, o governo sírio anunciou o cessar-fogo. Em um discurso na televisão estatal, o presidente interino disse que o Estado sírio está "comprometido em proteger todas as minorias" e condenou os crimes cometidos em Sueida. Depois, enviou uma "força especial" à região na tentativa de pôr fim ao conflito.

Confrontos, porém, seguiram na região. Segundo informações da agência de notícias RFI, Sueida foi retomada ontem por grupos drusos, que repeliram os grupos armados rivais, depois que o governo sírio anunciou o cessar-fogo.

O Presidente interino disse ontem que a retirada de suas tropas de Sueida buscava evitar uma "guerra aberta" com Israel. A declaração foi dada após forças israelenses bombardearem alvos do governo em Sueida e Damasco, alegando que buscavam defender os drusos, minoria presente em Israel e nas Colinas de Golã sírias, ocupadas pelos israelenses desde 1967.

Mobilizadas na região, forças do governo foram acusadas por grupos drusos e testemunhas de apoiar os beduínos e executar civis em Sueida. Com o cessar-fogo, os drusos ficaram responsáveis por manter a segurança na região, mas a presidência síria os acusou de violar o pacto.