O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que vai mobilizar tropas da Guarda Nacional para Washington e que o governo federal tomará o controle da polícia local com o objetivo de combater o que ele considera ser uma criminalidade excessiva na capital americana.
Ele fez o anúncio em entrevista coletiva na manhã desta segunda-feira (11). Trump disse ter declarado uma emergência em segurança pública para justificar as iniciativas federais na cidade, que vai durar, inicialmente, 30 dias.
A medida é mais uma no sentido de "tomar controle" de Washington, como o republicano vem ameaçando fazer desde o início do mandato.
A capital dos EUA é um distrito e não fica em um estado americano. A cidade é autônoma, com algumas partes da administração compartilhadas com o governo federal, e de tradição democrata, partido da atual prefeita, Muriel Bowser.
"Hoje é o dia da libertação de Washington" (mesmo termo usado por Trump ao anunciar o tarifaço em abril), disse. "Nós vamos limpar a cidade", continuou.
O presidente americano disse que "limpará" os parques da capital, referindo-se à retirada de pessoas em situação de rua, e que as ajudará "na medida que puder", sem detalhar o que fará para auxiliar essa população.
Durante o anúncio, Trump pintou um cenário de elevada criminalidade e emergência em Washington. Tentou traçar paralelos com outras capitais pelo mundo. Ao contrário da ideia que o presidente americano tenta passar, de aumento na insegurança, a taxa de crimes violentos em Washington recuou no último ano.
Em 2023, ano pós pandemia, a cidade atingiu um ápice no índice de crimes, que recuou no último ano. Segundo reportagem do Washington Post, a quantidade de assassinatos e tiroteios na capital caíram cerca de 30% de 2024 até o final de 2024. Em 2024, foram registrados 187 homicídios contra 274 em 2023.
O presidente dos EUA tem a prerrogativa de tomar iniciativas ligadas a prédios federais, mas não para agir em relação à segurança da cidade, exceto em caso de "emergência", que foi a saída de Trump para tomar conta da polícia local. A decisão de convocar a Guarda Nacional é uma decisão da presidência, por sua vez.
"O Departamento de Polícia Metropolitana e as autoridades federais receberão apoio nesse esforço, um esforço realmente grande, dos 800 integrantes da Guarda Nacional que iremos mobilizar. E muito mais, se necessário, muito mais."
Trump disse que caberá à secretária do Departamento de Justiça, Pam Bondi, será a responsável por gerir a polícia metropolitana. "Deixe-me ser clara: o crime em DC vai acabar, e vai acabar hoje", afirmou Bondi.
Desde o início do ano, Trump critica a segurança em Washington. A decisão de agir e interferir na cidade, porém, foi acelerada depois de um integrante da equipe do Doge, que era liderado por Elon Musk, ter sido ferido em uma tentativa de sequestro de carro na madrugada no início deste mês.
A determinação de Trump de deslocar tropas foi divulgada um dia depois de Trump afirmar que removeria pessoas em situação de rua em Washington. Em um post na sua rede social Truth Social no domingo (10), o presidente afirmou que prenderia também criminosos que se encontram nesta situação.
"Os sem-teto têm que sair, IMEDIATAMENTE. Vamos oferecer lugares para ficar, mas LONGE da capital. Já os criminosos, vocês não precisam sair. Vamos colocá-los na cadeia, onde é o lugar de vocês", escreveu o republicano na rede Truth Social, com suas habituais maiúsculas.
A Guarda Nacional é formada por militares da reserva e seu uso é acionado geralmente em situações de emergência, como catástrofes naturais.
Durante seu primeiro mandato, Trump acionou as tropas para conter os protestos pacíficos do Black Lives Matter que se espalharam por Washington após o assassinato de George Floyd pela polícia em 2020.
Neste ano, Trump enviou agentes da Guarda Nacional para Los Angeles, para conter protestos contra a política de imigração do governo federal que eclodiram na cidade, em junho. À época, o governador da Califórnia, Gavin Newsom, do Partido Democrata considerou a decisão uma intervenção federal no estado e protagonizou embates com o presidente pedindo a retirada das tropas.
Segundo a organização Community Partnership, que atua para reduzir a falta de moradia em Washington, cerca de 3.782 pessoas estão em situação de rua na cidade, que tem aproximadamente 700 mil habitantes. A maioria está em abrigos emergenciais ou moradias de transição, mas cerca de 800 são consideradas "sem abrigo".
A prefeita de Washington, a democrata Muriel Bowser, disse neste domingo que a capital "não está passando por um aumento da criminalidade". "É verdade que tivemos um aumento terrível do crime em 2023, mas não estamos mais em 2023", disse Bowser à emissora americana MSNBC.
"Passamos os últimos dois anos reduzindo o crime violento nesta cidade, levando-o ao menor nível em 30 anos". De acordo com a polícia local, o número de crimes violentos nos primeiros sete meses de 2025 caiu 26% em comparação com o mesmo período do ano passado, enquanto a criminalidade geral recuou cerca de 7%.
Em fevereiro deste ano, Trump disse que o governo local não estava fazendo um bom trabalho para diminuir a criminalidade e melhorar a situação da moradia. "Devemos administrá-la com força, administrá-la com lei e ordem, torná-la absolutamente impecavelmente linda. E acho que devemos tomar conta de Washington D.C. Torná-la segura", afirmou o presidente na ocasião.
Um mês depois, em março, Bowser cedeu à pressão e removeu o mural onde se lia a frase "Black Lives Matter" (vidas negras importam), marco antirracista traçado ao longo de uma rua próxima à Casa Branca.