Buenos Aires, Argentina. Foram mais de 36 anos de expectativas, mas, finalmente, Estela de Carlotto, a presidente das Avós da Praça de Maio – instituição dedicada a encontrar filhos dos sequestrados pela ditadura militar argentina – conheceu o seu neto. Batizado de Guido Miguel Carlotto pela família biológica, o neto de Estela recebeu o nome Ignacio Hurban de sua família adotiva, um casal de camponeses.
“Creio que eram trabalhadores, e ele (o homem que levou o bebê), seu patrão”, disse Estela antes de se reunir com o neto. “Devem tê-lo criado bem no campo. Eram peões, gente muito boa”, completou.
O encontro, confirmado por Remo Carlotto, filho de Estela e deputado argentino, ocorreu após o fechamento desta edição.
Ignacio, de 36 anos, é o 114º neto raptado pela ditadura argentina a ser encontrado. Ele é filho de Laura Calotto e nasceu no centro clandestino conhecido como “La Cacha” em 1978. Dois meses depois do seu nascimento, sua mãe foi assassinada, e não há registros do paradeiro do bebê de Laura.
A busca de 36 anos de sua avó, que já havia conseguido encontrar os restos mortais da filha, terminou anteontem, quando testes de DNA confirmaram seu parentesco.
A busca de Ignacio pela sua verdadeira identidade foi mais curta. Antes mesmo do resultado do teste de DNA, ele já suspeitava ser neto de Estela. Sua mulher, a estilista Celeste Madueña, teria apontado a semelhança física do marido com a líder das Avós da Praça de Maio. Com o incentivo de Celeste, ele se apresentou à organização para fazer o exame que confirmaria seu parentesco.
Apesar de ter conseguido encontrar o neto, Estela promete não abandonar a causa. Cerca de 500 bebês foram afastados de suas famílias, e quase 400 continuam desaparecidos. “Aqui não termina, continuarei com a minha luta. Vou continuar nas Avós para procurar todos os que faltam”, prometeu
PAPA. O papa Francisco, que esteve com Estela Carlotto em abril de 2013, no Vaticano, recebeu com emoção a notícia da descoberta do neto da presidente das Avós da Praça de Maio. “Foi uma notícia que nos emocionou muito. Deus quer seguir premiando a perseverança no amor, que alimenta e fortalece o espírito de reconciliação nacional, e transforma em realidade as profecias do Cântico dos Cânticos: ‘o amor é mais forte que a morte’”, afirmou o monsenhor Karcher, oficial de protocolo do Vaticano.