Vacinas

Covid-19: crise diplomática com a China coloca vidas em risco, diz pesquisador

Opinião é de especialistas em relações internacionais que avaliam que o Brasil ficou para trás na vacinação

Por Gabriel Rodrigues
Publicado em 21 de janeiro de 2021 | 17:04
 
 
 
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A pandemia de Covid-19 é uma crise de saúde pública e humanitária, porém não existe regra formal que obrigue qualquer país a ajudar outros no combate à doença com envio de vacinas. Nesse cenário, a diplomacia é essencial, porém a brasileira teria falhado no trato com a China e seria um fator complicador para a aquisição de insumos para vacinas, lembrou o especialista em relações internacionais Dawisson Belém Lopes em aula aberta da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) na noite dessa quarta-feira (20). 

Em um momento de necessidade global por vacinação, o dinheiro fala alto: os países mais ricos do Hemisfério Norte têm acesso a mais doses. China, Índia e Rússia, países emergentes em proeminência, tomaram a dianteira na produção de imunizantes, enquanto o Brasil, o gigante da América do Sul, não teve qualquer ação de desenvolvimento de vacinas em escala mundial, pontuou Lopes.  

“O mínimo que daria para se esperar é que o Brasil tivesse algum grau de autonomia e pudesse estender a mão aos vizinhos. Isso não seria um sonho megalomaníaco”, disse, lembrando que, até 2020, o país era a nona maior economia do mundo. Na realidade atual, o país é dependente de outros para vacinar, especialmente da China e da índia, que são os maiores players do mercado farmacêutico de imunizações. 

A diplomacia brasileira teceu uma trama de mal-estares com os chineses durante o último ano. O filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), chegou a culpar a China publicamente pela pandemia, ao mesmo tempo em que as relações exteriores do país alinhavam-se ao ex-presidente dos EUA, Donald Trump, que tem declarada aversão ao país ocidental.

“Queimar pontes nunca é um bom caminho para países que não têm excedente de poder, como o Brasil. Se fôssemos poderosos geopoliticamente, poderíamos nos dar ao luxo de fazer isso, mas não somos. O Itamaraty tem uma parcela de culpa importante na situação atual”, pondera o professor de política internacional da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Paulo Velasco. 

Ele não acredita que a China, pragmática, desonrará contratos de envio de insumos ao Instituto Butantan devido aos embates, mas destaca que o país oriental não encara o Brasil como prioridade. “Não basta uma ou outra tuitada mais branda. O 5G chinês é algo que talvez o Brasil tenha que engolir”, continua Velasco, lembrando que o governo brasileiro terá de baixar o tom e se dispor a fazer concessões ao chinês para tentar reestabelecer boas relações.

“É bem provável que não tenhamos tão cedo os insumos prometidos, já contratados, e teremos um atraso que traz consequências perversas, como a letalidade, gente que não necessariamente morreria ou teria sequelas, mas, fatalmente, vai ter”, conclui o pesquisador Dawisson Belém Lopes.  

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