O ministro do Desenvolvimento da Argentina, Matías Kulfas, defendeu neste sábado uma polêmica medida oficial que proíbe a compra financiada de passagens e serviços no exterior por meio de cartões de crédito, em um contexto de escassez de divisas no endividado país sul-americano. "As pessoas que viajam para o exterior não são pobres, vamos ser claros, e a classe média tem muitas opções dentro do país para o verão", disse o ministro à rádio Continental em entrevista citada pelo canal de notícias TN e pelo jornal "La Nación".
“Quem quiser ir para o exterior, que vá, mas que pague”, lançou Kulfas, que justificou a medida lembrando que se trata de “administrar um desequilíbrio na balança de divisas e fazer com que não faltem produtos que a Argentina necessita". Ele reconheceu que existem "medidas que podem parecer um pouco antipáticas", mas "as reservas (do país) precisam ser robustas para sustentar um plano econômico consistente".
Na Argentina, existem limitações para a compra de dólares para poupança ou pagamento por pessoas físicas, e o preço do dólar no mercado paralelo ou "blue" quase duplica o do mercado oficial ou regulado (106,17 pesos por dólar).
Nesse contexto, o Banco Central resolveu "estabelecer, a partir de 26 de novembro, que as entidades financeiras e não financeiras emissoras de cartão de crédito não financiem em parcelas as compras realizadas com o cartão de crédito de seus clientes (...) de passagens no exterior e outros serviços turísticos no estrangeiro".
A decisão se soma às restrições às compras de dólares, enquanto Buenos Aires busca renegociar sua dívida de 44 bilhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional (FMI). A economia argentina emerge da recessão em que afundou em 2018, com uma expectativa de crescimento de 8,3% para este ano, após um colapso de 9,9% em 2020 sob o impacto da pandemia da Covid-19. No acumulado do ano, a inflação chega a 41,8% e alcança 52,1% em 12 meses, uma das maiores taxas do mundo.