Belarus anunciou, nesta terça-feira (27), a chegada do chefe do grupo paramilitar Wagner, Yevgeny Prigozhin, como parte de um acordo que encerrou a rebelião na Rússia, onde Vladimir Putin assegurou ter evitado uma "guerra civil". 

Segundo o presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, Prigozhin chegou ou estava prestes a chegar a Belarus, principal aliado da Rússia no conflito com a Ucrânia. 

"Vejo que Prigozhin já está viajando de avião. Sim, efetivamente, hoje está em Belarus", disse Lukashenko em uma declaração ambígua à agência oficial de notícias Belta, sem que se saiba o momento no qual o líder da milícia pisará em território bielorrusso. 

Prigozhin estava desaparecido desde o anúncio do fim de sua rebelião no sábado à noite, depois de 24 horas de caos nas quais seus homens tomaram bases militares e marcharam do sudoeste da Rússia, perto da fronteira com a Ucrânia, em direção a Moscou, antes de desistir repentinamente. 

Nesta terça, Vladimir Putin agradeceu aos militares que, segundo ele, impediram uma "guerra civil". 

"Vocês se opuseram a estes distúrbios, cujo resultado teria sido, inevitavelmente, o caos", afirmou o presidente russo durante uma cerimônia com militares em Moscou.

Com ar sério, o presidente russo pediu um minuto de silêncio aos militares mortos em ataques durante o motim quando "cumpriam seus deveres com honra".

As autoridades russas asseguraram que a crise interna não mudaria em nada sua determinação de prosseguir com os objetivos da intervenção militar na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022.

Restaurante bombardeado

Também nesta terça, dois foguetes atingiram um restaurante popular na cidade ucraniana de Kramatorsk (leste), deixando ao menos três mortos e 42 feridos, segundo as autoridades de Kiev.

Um jornalista da AFP viu uma importante movimentação de ambulâncias, policiais e militares, assim como vários moradores reunidos em frente ao Ria Pizza, o restaurante bombardeado.

Coberto de poeira, o cozinheiro Roslan, de 32 anos, disse que, no momento do ataque, "havia bastante gente" no restaurante e apontando para si próprio, afirmou: "Tive sorte".

Kramatorsk, cidade de 150 mil habitantes antes da guerra, é o último grande centro urbano sob controle ucraniano no leste do país e fica a cerca de 30 km da linha de frente.

Com apoio financeiro e de equipamento militar enviado pelas potências ocidentais, a Ucrânia lançou há algumas semanas uma contraofensiva para tentar recuperar territórios tomados pela Rússia.

Também nesta terça, os Estados Unidos anunciaram um pacote adicional de US$ 500 milhões (aproximadamente R$ 2,4 bilhões na cotação atual) em armamento para reforçar a contraofensiva de Kiev, que incluiria cerca de 50 veículos blindados e munições de precisão para os sistemas de defesa antiaérea Patriot e de artilharia Himars.

O enviado do papa Francisco para a paz na Ucrânia, cardeal Matteo Zuppi, vai viajar na quarta e na quinta-feira a Moscou, segundo o Vaticano.

Desarmar o Grupo Wagner

O Ministério da Defesa da Rússia anunciou nesta terça "preparativos para transferir ao Exército os equipamentos militares pesados do Grupo Wagner às unidades ativas das Forças Armadas".

A medida parece ter como objetivo neutralizar o Grupo Wagner, uma milícia que, até agora, atuava sob instruções do Kremlin em Ucrânia, Síria e vários países africanos. 

Apesar de as autoridades russas terem negado diversas vezes qualquer relação com o Grupo Wagner, Putin afirmou nesta terça que o Estado havia "financiado completamente" esse exército privado, pagando-lhe no ano passado mais de 1 bilhão de dólares (aproximadamente R$ 5,2 bilhões na cotação da época). 

Na segunda-feira, o presidente russo havia denunciado a "traição" deste grupo, ao mesmo tempo em que assegurou que seus combatentes poderiam se unir ao Exército, retornar para suas casas ou seguir para Belarus.

Em uma crítica velada a Putin, Lukashenko considerou que a rebelião foi resultado da má gestão das rivalidades entre o Grupo Wagner e o Exército russo, que aumentaram consideravelmente desde o início do conflito na Ucrânia. 

"A situação fugiu do controle", afirmou o líder bielorrusso. 

Vários líderes e analistas ocidentais acreditam que Putin saiu da crise muito fragilizado.

Com sua ofensiva na Ucrânia, "Putin também está pondo em perigo a segurança do seu próprio país", disse, nesta terça, a ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock. 

Mas, segundo o Kremlin, a rebelião, ao contrário do que se esperava, levou a população a "se consolidar em torno do presidente". "O Exército e o povo não estavam ao lado" dos amotinados, segundo Putin. 

Ainda nesta terça, O Serviço Federal de Segurança (FSB, na sigla em russo) da Rússia anunciou a retirada das acusações contra o Grupo Wagner por "rebelião armada", um sinal de um possível acordo entre Prigozhin e o Kremlin. 

Segundo o opositor russo preso Alexei Navalny, a rebelião do Grupo Wagner demonstra que o poder de Putin é uma "ameaça à Rússia". "É tão perigoso para o país que até mesmo o seu inevitável colapso representa uma ameaça de guerra civil", disse Navalny no Twitter. 

(AFP)