Tratamento

Testes com dexametasona confirmam eficácia contra a Covid-19, mas também riscos

Autores de artigo explicam que eficácia do medicamento depende da escolha de uma dose certa, no momento certo, no paciente certo

Por AFP
Publicado em 17 de julho de 2020 | 15:57
 
 
 
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Os muito aguardados resultados dos testes britânicos sobre o esteroide dexametasona foram publicados nesta sexta-feira (17), confirmando seus benefícios no tratamento a pacientes com a Covid-19 submetidos à ventilação mecânica, mas alertam sobre possíveis danos caso a substância seja administrada muito cedo aos internados. 

Um total de 2.104 pacientes hospitalizados receberam diariamente seis miligramas da substância por 10 dias, enquanto outros 4.321 apenas receberam o tratamento usual. No final da pesquisa, a taxa de mortalidade entre ambas categorias de pacientes sob tratamentos diferentes foi comparada, após 28 dias. 

Entre os pacientes em ventilação mecânica, a taxa de mortalidade dos que usaram a medicação foi de 29,3%, comparado aos 41,4% que não a usaram.

Ou seja, o grupo que teve a dexametasona administrada em seu tratamento com ventiladores registrou uma redução de 29% da mortalidade. 

Em pacientes que recebiam oxigênio, mas com menos tratamentos invasivos, o benefício foi menor - 23,3% tratados com dexametasona morreram, enquanto 26,2% dos que não usaram faleceram. 

O estudo mostrou que nenhuma eficácia foi comprovada ao grupo que não precisou receber oxigênio desde que começou o tratamento. 

Nesta categoria, 17,4% dos que fizeram uso do esteróide morreram, em comparação aos 14% que não o receberam - sugerindo que o medicamento aumentou o risco de mortalidade. 

Isso ocorre porque o funcionamento da droga suprime a resposta imune anormal que danifica os órgãos do corpo, em vez de atacar o vírus. 

Em junho, em conversa com a AFP, o principal cientista americano em relação ao combate ao coronavírus, Anthony Fauci, alertou que a dexametasona não deve ser prescrita muito cedo depois que uma pessoa ter sido infectada. 

"Não teve efeito, senão talvez uma possível piora do quadro desde o início", ressaltou Fauci. "Isso é perfeitamente compreensível com o fato de saber que, no início da infecção, você precisa do sistema imunológico para combater o vírus", acrescentou. 

Os autores do artigo, publicado no New England Journal of Medicine, acrescentaram que a eficácia do medicamento "depende da escolha de uma dose certa, no momento certo, no paciente certo". 

Os pesquisadores acrescentaram que, no que diz respeito à COVID-19, a resposta imune anormal para pacientes que fazem uso somente do oxigênio parece mais causar danos do que a própria replicação do vírus no organismo.

Os cientistas alertam que essa hipótese não deve ser aplicada a outras doenças respiratórias virais, como SARS, MERS e influenza, pois podem ter impactos diferentes. 

A dexametasona foi adotada no Reino Unido no último 16 de junho, o dia em que os resultados iniciais foram anunciados. A medicação também é recomendada pelos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos EUA. 

Em seu site, o NIH alerta que ainda não se sabe até que ponto a dexametasona pode funcionar em combinação com o remdesivir, um medicamento antiviral que provou ser benéfico quando usado sozinho. 

Os institutos acrescentam que os pacientes que tomam o medicamento devem ser monitorados de perto para infecções secundárias e em relação ao alto nível de açúcar no sangue. 

Sabe-se também que o uso de corticosteroides também pode reativar infecções anteriores que estavam dormentes, como o vírus da hepatite B ou da tuberculose.

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