Mesmo ciente de que o projeto do Rodoanel proposto por prefeitos do Médio Paraopeba e da Grande BH tem uma engenharia mais eficiente e custa R$ 2 bilhões a menos, além de não impactar a Área de Preservação Ambiental (APA) Vargem das Flores, o Estado informou ontem, por meio do subsecretário de Transportes e Mobilidade da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade (Seinfra), Gabriel Fajardo, que o governo de Minas não garante adotar o traçado alternativo. Segundo ele, que encabeçou uma comissão que visitou, nesta segunda (8), a Prefeitura de Contagem e, na sexta-feira, a Prefeitura Betim – cidades da região metropolitana que mais seriam impactadas com o Rodoanel do Estado –, o governo de Minas receberá, analisará e dará uma resposta a cada uma das propostas dos municípios envolvidos. Contudo, a decisão pelas mudanças dependerá de “estudos técnicos do projeto”. “Agora, é o momento de a gente considerar todas essas contribuições e, depois, ver quais são possíveis de ser acatadas e quais não”, frisou o subsecretário de Estado.
Para a prefeita de Contagem, Marília Campos (PT), o traçado original proposto pelo governo estadual para a construção do Rodoanel trará impactos negativos, sobretudo para Betim e Contagem, cidades que serão “cortadas” pela nova via. “A proposta do Estado divide Contagem, cortando-a em uma região estratégica: a Área de Preservação Ambiental (APA) da Bacia de Vargem das Flores. Não podemos concordar com esse traçado, porque ele pode impactar negativamente. Além de dividir a cidade e dificultar a integração (das regiões), pode trazer consequências ambientais futuras, como provocar o esvaziamento do espelho-d’água (da Vargem das Flores) e, com isso, comprometer o abastecimento em Contagem e nas cidades da região metropolitana”, pontuou.
Conforme a proposta dos municípios, os custos com a obra no projeto alternativo seriam de R$ 2 bilhões a menos. Nos cálculos da Seinfra, o projeto custará R$ 5,09 bilhões, com duas pistas apenas e 100,6 km de extensão. Já na proposta dos municípios, seriam três pistas, com extensão de 112,9 km e um custo de R$ 2,99 bilhões – com base em critérios usados pela Prefeitura de Betim. Se forem considerados os critérios da Seinfra, o valor seria de R$ 3,403 bilhões – mesmo assim, R$ 1,6 bilhão a menos. O projeto alternativo, apesar de propor um traçado mais extenso para o Rodoanel, não passaria por centros urbanos, reduzindo as desapropriações e as obras que precisariam ser realizadas. A proposta dos municípios também não cortaria bairros povoados e contornaria a APA Vargem das Flores.
Na Justiça
Marília Campos ressaltou que, caso as reivindicações de Contagem não sejam atendidas pelo Estado, a situação poderá se encaminhar para uma disputa judicial. “Trata-se de uma área de preservação ambiental, regulamentada por lei estadual. Obviamente, teremos a Justiça como aliada caso a gente não construa uma proposta para o Rodoanel consensual”, disse Marília.
União de prefeitos
A discussão sobre o novo traçado proposto pelos municípios para o Rodoanel está sendo feita pelo Estado após as cidades impactadas terem unido forças e reivindicado mudanças no projeto original apresentado pelo governo estadual. Na semana passada, Betim, que elaborou o projeto alternativo, foi a primeira cidade visitada pelos representantes do governo de Minas. Antes disso, os prefeitos se reuniram em uma audiência pública na cidade, onde o prefeito Vittorio Medioli apresentou detalhes da proposta alternativa.
“Mostramos (na reunião com técnicos do Estado) um comparativo entre as duas propostas e reafirmamos que não é admissível o Rodoanel passar no meio de cidades. O traçado do Estado não considera os impactos sociais com uma urbanização já consolidada. Vai afetar tudo: o transporte, a rede de energia, de esgoto, de água, o comércio local. E o governo subestimou o volume de obras complementares necessárias”, disse Medioli. Na tarde desta segunda (8), membros do governo de Minas estiveram em Ibirité. Eles preveem ir às outras cidades até o fim da semana.
Saiba mais
Audiências públicas: segundo o governo do Estado, esses encontros, presenciais e com transmissão virtual, estão marcados para 22 e 23 de novembro. O primeiro será na Cidade Administrativa; o outro, no Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais.
Edital: o lançamento está previsto para dezembro, e a licitação, para março. “Vamos receber as contribuições e, se for necessário, analisar esse cronograma; por enquanto, é o que temos em mente”, afirmou o subsecretário de Transportes e Mobilidade da Seinfra, Gabriel Fajardo