Moradores afetados pela lama do rio Paraopeba após as enchentes dos últimos dias vão fazer um protesto nesta quinta-feira (27), em Betim. Depois de as águas baixarem, casas e ruas ficaram tomadas pela lama, que pode conter rejeito de minério que estava no leito do rio, provocando vários transtornos, como sintomas em moradores e o prejuízo com plantações, móveis estragados e casas condenadas, além de deixar famílias desabrigadas.
A manifestação terá concentração na praça da matriz da Colônia Santa Isabel, a partir das 8h, um dos bairros mais afetados pela inundação. Rejeito de minério que desceu após o rompimento da barragem de Brumadinho, há três anos, e que estava no leito do rio Paraopeba invadiu várias regiões, já que Segundo o Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sisema), desde 2019, a dragagem removeu 82.871 m³ de rejeitos do rio, pouco perto dos 11,7 milhões de metros cúbicos que estavam depositados na barragem no momento do rompimento.
O ato está sendo organizado pelas associações do bairro Colônia Santa Isabel e Citrolândia, pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (MORHAN) e o Centro Franciscano de Defesa dos Direitos (CEFAD).
"Nosso objetivo é mostrar que foi cometido um outro crime, que foi a invasão dessa lama com minério na casa das pessoas. É preciso mostrar isso, sensibilizar o Judiciário. Todo esse material que ficou no leito do rio, após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, invadiu a região com a elevação do nível das águas. Antes, a gente já teve alagamento, mas quando a água abaixava, a limpeza era rápida. Hoje, não: a lama não saiu toda. As casas estão sendo limpas, mas os quintais estão cheios de lama", disse o presidente da Associação de Moradores da Colônia Santa Isabel, Hélio Dutra.
Ainda segundo ele, outro ato deverá acontecer na próxima semana, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Dutra também afirma que o apoio que a Vale deu à comunidade é insuficiente. "Foi pouco frente aos estragos causados pela lama. Tem várias famílias que perderam tudo o que tinham. É preciso mais. A prefeitura está fazendo a limpeza toda da região", completou.
Na semana passada, o Estado notificou a Vale para que ela adotasse, de forma imediata, medidas em áreas impactadas pelas últimas chuvas, próximas ao rio Paraopeba, como Betim, Brumadinho, São Joaquim de Bicas, Mário Campos e Esmeraldas, além de apresentar um plano de ação em cinco dias.
Em nota, a Vale respondeu que está acompanhando a situação dos atingidos pelas chuvas e a situação das áreas que foram alagadas. Confira na nota abaixo:
"A empresa está conduzindo uma avaliação técnica de eventuais efeitos causados pelos alagamentos ocorridos neste último período e se estes possuem alguma relação com os impactos do rompimento da Barragem BI em 2019. Após o término dessas avaliações, e caso sejam identificados eventuais impactos e/ou riscos associados ao rompimento da barragem BI, estes serão endereçados.
Ademais, algumas solicitações encaminhadas pelo órgão ambiental, com caráter emergencial, já estavam em andamento desde o último dia 8 de janeiro, data anterior ao recebimento do ofício inclusive, como o amplo apoio ao poder público e Defesas Civis, fornecimento de recursos e equipamentos para prestar apoio às comunidades afetadas.
A título de exemplo, entre Brumadinho e Pompéu, na bacia do rio Paraopeba, foram entregues mais de 481 mil litros de água pela Vale, 32,4 mil litros na comunidade de Citrolândia, em Betim, produtos de limpeza, higiene pessoal e EPI´s, disponibilizando equipamentos e mão de obra para a limpeza de áreas públicas e particulares afetadas, além da remoção de materiais como entulhos trazidos pelas enchentes e depositados em áreas alagadas, com destinação realizada conforme orientação do poder público local, tais como aterros sanitários municipais.
É igualmente importante destacar que o rejeito de minério de ferro é formado em sua maioria por minerais ferrosos e quartzo, sendo classificado como não perigoso e consequentemente não tóxico, conforme NBR 10.004, da Associação Brasileira de Normas Técnicas".