O mar de lama que invadiu as casas da Colônia Santa Isabel, em Betim, na região metropolitana, depois de as enchentes trazerem à tona rejeitos que estavam sedimentados no leito do rio Paraopeba desde o rompimento da barragem de Córrego do Feijão, em Brumadinho, há três anos, parece já começar a oferecer riscos à saúde dos moradores. Nesta semana, após iniciarem a retirada do barro dos imóveis, muitos relataram ter apresentado sintomas como diarreia, dor de cabeça e no corpo, coceira e feridas na pele.
O jardineiro Marcone Antônio Azevedo Rocha, 51, a mulher, a sobrinha e a cunhada tiveram contato com a lama desde o último sábado, quando a família iniciou a limpeza da casa dele, atingida pela enchente. Depois disso, todos começaram a ter diarreia e dores no corpo e na cabeça. “Moro na Colônia desde 2002, já passamos por outras enchentes, mas o que ficava depois de as águas baixarem era um barro fino, fácil de tirar. Agora é diferente. Dá pra ver que é rejeito de minério”, diz.
Um dia após ter tido contato direto com a lama que tomou sua academia, também na Colônia, o professor de educação física Cássio Braz, 31, teve coceira nas pernas e feridas nos dedos das mãos e dos pés. “Com certeza, é por causa dessa lama contaminada. Foi só eu ter contato com esse barro que fiquei doente”.
Diretora de Vigilância à Saúde de Betim, Fábia Ariane e Fonseca orienta que, ao fazer a limpeza dos imóveis, os moradores devem se proteger com luvas, botas e sacos plásticos amarrados às mãos e aos pés. E, caso tenham tido contato com a lama ou ingerido água ou algum alimento que possa estar contaminado, eles devem ir até uma unidade de saúde para se vacinarem contra doenças como tétano e hepatite.
Segundo a Secretaria de Saúde de Betim, um Vacimóvel está na Colônia, em frente ao Museu Luiz Verganin, imunizando contra doenças mais comuns após enchentes.
Análise dos rejeitos
As prefeituras da região, como de Betim, Brumadinho, Mário Campos e São Joaquim de Bicas, bem como o projeto Manuelzão e a Universidade Federal de Ouro Preto, estão fazendo a análise da água e do sedimento que invadiu os imóveis às margens do rio Paraopeba para saber se há algum tipo de material tóxico. Para o professor de geografia da UFMG Klemens Laschefski, a contaminação existe. “A questão é descobrir nível dela”, diz.
Notificação
Na terça, o Estado notificou a Vale a limpar ruas e imóveis de todas as localidades atingidas pelas enchentes. A mineradora, que teria cinco dias, contados desde então, para apresentar plano de ação, informou que está acompanhando a situação das áreas e avaliando os eventuais efeitos causados pelos alagamentos que possuem relação com os impactados do rompimento da barragem.