Tragédia

Moradores do Citrolândia acusam Vale de suspender repasse de auxílio emergencial

Pelo acordo da Justiça com a a mineradora, valor deve ser pago a pessoas que vivem a 1 km da calha do rio Paraopeba

Publicado em 22 de outubro de 2020 | 20:54

 
 
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Passados 19 meses depois do rompimento da barragem mina de Córrego de Feijão, da Vale, que vitimou 270 pessoas em Brumadinho, centenas de moradores do Citrolândia que vivem próximos ao rio Paraopeba, manancial que foi contaminado pelos rejeitos de lama da mineradora, denunciam que tiveram o pagamento do auxílio emergencial suspenso. Já outros reivindicam que sequer conseguiram receber o benefício da mineradora. 

Pelo acordo feito entre a empresa, o Ministério Público e a Defensoria Pública, em 2019, todas as pessoas de Brumadinho e demais municípios afetados pela tragédia que morem a até 1 km da calha do rio têm direito ao auxílio. É o caso de Merita de Jesus Oliveira, 50, que tirava a sua renda mensal da pesca no Paraopeba. Ela e o marido começaram a receberam o auxílio, em abril de 2019. No entanto, desde novembro, ele teve o repasse do auxílio vetado.

“Esse dinheiro nos ajudava muito. O curso d’água ficou contaminado. Hoje, não podemos pescar, usar a água nas plantações, nadar no rio. A Vale fala na mídia que está cumprindo com seus deveres, mas, na verdade, não está”, denunciou. 

Outro morador afetado pela “morte” do rio é Lúcio Hélio Lousada, 57. Após a contaminação do manancial, o agricultor, que tem um terreno localizado a menos de cem metros do rio, teve uma queda de 60% na sua produção. No caso dele, apesar de continuar recebendo o auxílio, as duas filhas tiverem o benefício cortado.

“Antes, a gente usava a água do rio na plantação. Agora, depende do caminhão pipa que a Vale manda. Mas muitas pessoas têm medo de comprar o que a gente produz, com receio de os alimentos estarem contaminados”. 

Já a família do pedreiro Jesiel Vieira dos Santos, 29, apesar de morar a 150 metros do rio há mais de 2 anos, não conseguiu ainda o direito de receber o auxílio. “A Vale alega que o meu endereço não existe e não aceitou nenhum comprovante que eu consegui. Hoje, não posso mais ter uma horta em casa e tive que vender meus animais, que bebiam a água do rio”, disse. 

Por meio de sua assessoria, a Vale declarou que “as pessoas elegíveis ao pagamento emergencial mensal continuam a recebê-lo regularmente”. A mineradora alega ainda que já pagou R$ 4 bilhões em indenizações, incluindo o auxílio emergencial, mas o valor não chega nem a 10% das perdas calculadas pelos órgãos públicos, que cobra uma indenização de R$ 54 bilhões da mineradora. 

Ampliação do auxílio

Neste ano, o Movimento dos Atingidos por Barragens (Mabe) protocolou no Ministério Público e na Defensoria Pública um pedido para que o pagamento do auxílio emergencial seja prorrogado por cinco anos e para que haja a ampliação do repasse a pessoas que moram a mais de 1 kms da calha.

“No Citrolândia, o bairro todo foi afetado pelo crime ambiental da Vale. Essa ajuda vai minimizar os problemas sofridos por eles”, disse Thomaz Nédson, do Movimento dos Atingidos por Barragens. 

Em uma audiência realizada nesta quinta (22), a Vale prorrogou para  novembro o pagamento do auxílio. A última parcela seria  em  outubro. O assunto voltará à pauta no dia 17 de novembro, quando acontecerá nova audiência para definir o acordo de indenização ao Estado. 

Indenização

Neste ano, a Prefeitura de Betim, em parceria com Igarapé, Juatuba, Mário Campos e São Joaquim de Bicas, ingressou com uma ação na Justiça solicitando uma indenização compensatória de R$ 677 milhões da Vale para reparar os danos causados por causa da tragédia.

Ainda não há decisão sobre o caso, mas, conforme a prefeitura, o pedido equivale a 10% dos R$ 2 bilhões do valor a ser pago pela mineradora aos 28 municípios atingidos de alguma forma com o rompimento. Em nota, a Vale disse que “reitera seu compromisso de adotar todas as medidas para reparação integral, justa e célere dos impactos causados pelo rompimento”.